Resiliência pessoal na Covid-19

No período principal de pico da doença, o isolamento para os enfermos e a quarentena para os possivelmente contaminados, não foi fácil e, mesmo no estado atual de acalmia da doença, continua difícil para muitos. O ambiente tóxico, promovido pela pandemia, gerou apreensão, prejuízos e perdas, sobretudo para as classes sociais menos favorecidas. No entanto, esses tempos difíceis também constituem oportunidade de aprendizado com lições duramente impostas pelo “professor” SARS-Cov-2. Esses ensinamentos devem ocorrer, tanto do ponto de vista pessoal, como do coletivo, visando, particularmente, a saúde do paciente.

Como principais lições individuais, capazes de impactarem, significativamente, na vida profissional, elencaria: a) Estar preparado para as mudanças – já pregava o icônico biólogo e naturalista inglês, Charles Darwin, sobre a evolução das espécies: “os seres vivos que vão resistir, não serão os mais inteligentes nem os mais fortes e sim aqueles que se mais se adaptarem ao ambiente”. É preciso sair da zona de conforto e acompanhar as mudanças que ocorrem, freneticamente, no mundo, sobretudo quanto à carreira profissional, sendo necessário, às vezes, mudar de rumo para atender às necessidades que vão se descortinando. É importante, também, cuidar bem das finanças, mediante um adequado planejamento;

b) Valorizar o trabalho em equipe – embora a automação seja cada vez mais frequente no nosso dia a dia, a tecnologia não consegue substituir tudo. A pandemia revelou a relevância do trabalho em equipe e da participação da coletividade. A grande rede de solidariedade que se formou, possibilitou que muita gente resistisse a esse flagelo. A cooperação mútua também favorece o crescimento dos negócios, já que uma boa rede de contatos gera oportunidades, permitindo a exploração dos potenciais de cada um;

c) Esforçar-se para se diferenciar, mediante qualificação – a crise econômica escancarada pela pandemia, aumentou a competição por empregos, já que muitos aposentados, retornaram para o mercado de trabalho. Portanto, ter um currículo tecnicamente qualificado, não somente com graduação, mas, também com pós-graduação, pode fazer a diferença nessa disputa;

d) Gerenciar bem o tempo – segundo um provérbio chinês, há três coisas que não voltam atrás: “a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida”. O tempo é um bem que, uma vez perdido, também não volta atrás. É preciso deixar claro que a distração é um processo salutar e funciona como um mecanismo cientificamente comprovado de “recarregar as baterias” para melhorar o desempenho tanto físico, como psíquico, do ser humano. Já a procrastinação, por outro lado, pode propiciar até a perda de oportunidade, que, conforme dito acima, não volta. O adequado gerenciamento do tempo, pode ser o diferencial para se chegar mais longe. Na esteira dessa interlocução, vale citar o poema do poeta gaúcho de Alegrete, Mário de Miranda Quintana, O Tempo:

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada
e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de
tempo.

Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais
voltará.

e) Ter autonomia e independência – a importância de ser independente deve ser reconhecida, ainda que a pandemia da Covid-19 tenha favorecido o trabalho em equipe, uma vez que só se pode usufruir da liberdade em sua plenitude, com autonomia.

Finalizo, citando o físico alemão, Albert Einstein: “No meio da confusão, encontre a simplicidade. A partir da discórdia, encontre a harmonia. No meio da dificuldade reside a oportunidade”.


Antônio Carlos Sobral Sousa é médico cardiologista, professor titular da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e membro das Academias Sergipanas de Medicina, Letras e Educação.

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