Quando se fala em árbitro de futebol, geralmente, as atenções estão voltadas para o preparo físico ou seus erros de avaliação durante uma partida. Muitos desconsideram a abrangência de treinamentos para esse profissional que comanda dentro das quatro linhas.
Segundo Cleberson Costa, especialista em Psicologia do Esporte, tão importante quanto o conhecimento técnico e a condição física é a preparação psicológica.
“Há uma demanda por uma arbitragem quase perfeita, que não esteja sujeita a erros e é justamente nesse ponto que uma boa formação psicológica vai possibilitar decisões mais equilibradas, apesar das pressões”, explica.
O publicitário Ivaney Alves Lima , de 48 anos, se tornou Árbitro de Futebol em 1994 e cinco anos depois ingressou no quadro da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Foi o dono do apito em vários jogos.
“Inesquecível em minha estreia na Série A, do Campeonato Brasileiro, em 2013, jogo Flamengo x Juventude, no Estádio do Maracanã . Durante 16 anos estive no quadro de Árbitros da CBF, revela.
Com a saída, em 2015, passou a se dedicar a arbitragem em outro ângulo. Como Diretor da Escola de Arbitragem em Sergipe, trabalha atualmente na formação de 14 árbitros, sendo três mulheres e 11 homens. Aliado a essa função também Ivaney se tornou Instrutor Técnico da CBF e Analista de Arbitragem, cargos que exerce até hoje.
“O treinamento mental é essencial no trabalho com as habilidades e competências pautadas na concentração, foco, poder de decisão e controle de jogo”, confirma.
Investir na preparação mental para além das questões técnicas, físicas e sociais encontrou amparo na Universidade Tiradentes (UNIT).
“Entraram em campo dois alunos do curso de Psicologia da Unit com um projeto de extensão para desenvolvimento de atividades para auxiliar árbitros e assistentes em formação na tomada de decisão, de como trabalhar em equipe, em questões de liderança, emocionais e a como lidar com erro”, explica Cleberson, que é professor da instituição e coordenador do projeto.
O aluno Franklyn Jeferson Costa de Oliveira conta que a sua relação com o futebol sempre foi de fã. Nunca teve um time de coração, além da seleção brasileira, mas desde criança sempre gostou de assistir e participar de competições.
Nesse desafio com a escola de arbitragem ele fala sobre a importância de se trabalhar os três pilares para a formação do árbitro: o físico, o técnico (todas regras do futebol) e o pilar mental uma postura adotada pela própria FIFA para capacitação dos seus árbitros, tornando-os mais capacitado a para qualquer demanda que surja em campo.
“O trabalho realizado na escola é feito a partir de aulas teóricas, nas quais ensinamos algumas habilidades psicológicas básicas como atenção, controle emocional e tomada de decisão, junto a técnicas para melhorar o desempenho destas habilidades. Também é realizado um acompanhamento durante treinos físicos e os estágios dos futuros árbitros, buscando verificar se todos os pontos trabalhados teoricamente, estão sendo executados na prática”, diz.
Apaixonado por futebol, Saulo Ítalo Nóbrega Cortes, não pensou duas vezes antes de topar o desafio do projeto. Ele explica que as demandas psicológicas dos árbitros sempre existiram, mas houve um aumento substancial com um futebol que movimenta mais dinheiro, mais audiência, mais tecnologia.
“Consequentemente o papel do árbitro também muda, exige-se mais preparo. Os árbitros são frequentemente criticados e questionados sobre suas habilidades de tomada de decisão e gerenciamento de jogos. O futebol tem essa particularidade, grande parte de suas regras são de caráter interpretativo, isso faz com que as decisões do árbitro muitas das vezes gerem debates e discussão. O que o árbitro pode fazer para minimizar o questionamento das suas decisões é mostrar segurança e convicção nas suas decisões, ou seja quando marcar algo estar próximo dos lances, trabalhar em forma conjunta com seus auxiliares, manter o foco e atenção na partida”, salienta.
Saulo lembra ainda que se para jogadores em campo o trabalho é feito em equipe, para quem julga cada lance não é diferente.
“O trabalho de um árbitro não é individual, ele conta com a presença de no mínimo mais três companheiros, dois árbitros assistentes (popularmente conhecidos como bandeirinhas) e um 4° árbitro. O medo de errar é uma das principais demandas de um árbitro, então tentamos trabalhar também um pouco a humanização deste erro e o companheirismo na tomada de decisão durante uma partida”, observa.
O projeto de extensão de preparação mental para árbitros em formação, encerra as atividades depois de nove meses, mas já tem data para ser retomado.
“Vamos acompanhar a formatura de árbitros no dia 27 de dezembro e em março de 2020 o trabalho recomeça com uma nova turma”, conclui o professor Cleberson Costa.
Por Amália Roeder
Foto: Divulgação
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