Participei na tarde de terça-feira, 26/03/2024, de uma assembleia universitária, na Praça da Democracia, para defender a democracia dentro da UFS, no processo de eleição para reitor e para vice-reitor.
Tratou-se da segunda assembleia universitária puxada pelas entidades representativas dos segmentos. A primeira ocorreu há cerca de duas semanas.
Apresentei, no momento do debate da definição do rol de votantes, uma proposta de incluirmos as companheiras e os companheiros terceirizados como votantes e justifiquei. Como se trata de um segmento bastante numeroso, bem como com pessoas com muito tempo de convivência na UFS, compondo um corpo técnico essencial da Instituição e como os terceirizados não têm espaço em qualquer instância da UFS, sejam conselhos, comissões, etc, nada mais justo e simbólico incluirmos, agora, nesta relação de eleitores, os NOSSOS COLEGAS terceirizados.
Repito: numa assembleia universitária, chamada pelas nossas entidades representativas, eu pensei que estava apresentando uma proposta digna de aprovação, de reconhecimento. Enganei-me! A reação e as razões dadas para manter os colegas terceirizados fora do processo foram pesadas.
Numa assembleia com seis, sete dezenas de pessoas, a minha proposta obteve somente dois votos favoráveis (o meu e o de uma professora, a quem conheço de vista, mas agora não ligo o nome à pessoa). Houve quase que uma divisão entre votos contrários e as abstenções à participação dos colegas terceirizados na tão falada democracia da UFS.
Na minha avaliação o ponto positivo, se assim podemos chamar, foi a quantidade de abstenções (a maioria dos estudantes). Ouvi alguns murmurinhos, considerando ser um assunto importante e que merecia mais debate. O ponto negativo, a forte resistência à integração dos terceirizados. Mais por parte de docentes. Lembrei-me que a UFS ainda é hierarquizada e lembre-me também de um debate do qual participei nos primeiros anos em que cheguei à UFS. Naquele debate companheiros técnicos administrativos aposentados foram os palestrantes e nos contaram que no início da UFS, ao servidor técnico administrativo eram dadas tarefas, por docentes, do tipo: ir comprar cigarros, lavar carros particulares, colocar cafezinho no copo e levar até a mesa do mestre.
Hoje isto mudou bastante, mas muitos usam e abusam do termo DEMOCRACIA na hora de exigir. Na hora de praticá-la, até a participação de colegas de trabalho num processo organizado por nós e que não depende de norma, nem de autorização de terceiros, é vetada.
Um estudante, que se absteve e que declarou o votou, fez uma fala forte, equilibrada e emocionante, pondo à mesa dados do nosso quotidiano que todos nós servidores temos, como importância dos terceirizados para o funcionamento da UFS, mas teimam em negar.
Ao docente encarregado de defender o alijamento dos terceirizados coube trazer justificativas como o risco do terceirizados ser perseguido para votar ou para deixar de votar em determinadas chapas; a possibilidade de gestores demitirem duzentos e admitirem outros duzentos terceirizados de uma só vez, aumentando o seu eleitorado e, acreditem, disse também que o terceirizado não faz parte da vida da UFS.
Friso, a posição antidemocrática não partiu das entidades, enquanto entes representativos dos segmentos, mas reflete uma visão torpe de expressiva parte da nossa comunidade universitária.
Depois que a maioria da assembleia negou a participação dos terceirizados como votantes, se aprovou, por consenso, em regimento que o resultado da consulta será enviado à uma das entidades para arquivamento. Ou seja, se a consulta em tela é um ato ou um protesto paralelo ao oficial, previsto na Resolução nº. 44/2022/CONSU e o resultado será arquivado, por que negar a participação dos terceirizados na festa da democracia? Ainda que a nossa consulta, organizada pelas entidades, tivesse caráter oficial, nada mais democrático seria inserir quase 1.000 companheiras e companheiros.
Pode parecer desnecessário ou cansativo, mas vou aqui informar que a UFS possui 12 contratos com empresas terceirizadas (para o fornecimento de mão-de-obra), nos quais estão 982 colegas, sendo 72 jardineiros, 21 auxiliares de saúde bucal, 31 técnicos em informática, 136 seguranças, 33 da área de comunicação, 351 administrativos, 75 na manutenção (pedreiros, pintores…), 195 serventes de limpeza, 14 da área de engenharia e arquitetura, 20 intérpretes de libras, 5 tratadores de animais e 29 motoristas. Todos e todas deixados/deixadas de fora de um processo da democracia.
Ressalvo que respeito a decisão soberana da assembleia, não julgo nem condeno o voto livre e legítimo de cada participante. O que estranhei foi o fato de, em plena Praça da Democracia, num momento tão propício para se apresentar um gesto realmente de democracia, a plenária demonstrou qual é o verdadeiro pensar da comunidade universitária.
Como se diz no popular, viola de boca muitos sabem tocar. Usar a palavra democracia parece mais uma retórica do que, de fato, uma prática.
José Firmo é graduado em Ciências Contábeis, especialista em Gestão Urbana e Planejamento Municipal, coordenador do Fórum em Defesa da Grande Aracaju, e servidor público da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
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