Ao vê-lo caminhando apressado pelos corredores do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), poucos sabem. Mas o médico intensivista, Samuel Rodrigues da Silva, carrega uma história de fé, coragem e amor pela profissão.
Atuando, desde março do ano passado, intensamente no combate ao novo coronavirus, ele recebeu diagnóstico positivo para Covid-19, no mês de julho. Samuel precisou de cuidados intensivos em uma UTI. Seu estado era grave, precisou ser intubado e, devido à insuficiência de oxigênio no cérebro, sua mente se alternava entre lucidez e a falta dela.
Depois de apreensão e incertezas, ele venceu a Covid-19 e 15 dias após a alta hospitalar já estava de volta ao trabalho, na linha de frente, cuidando dos pacientes graves vítimas da infecção. Samuel recusou os 30 dias para a recuperação a que tinha direito.
“Eu precisava continuar cuidando dos pacientes, salvando vidas”, diz o médico que atua no Huse; no Hospital Regional de Itabaiana (HRI), onde responde pela Diretoria Clínica da unidade, e no Hospital da Polícia Militar (HPM), onde é coordenador Clínico.
O médico relembra os momentos que viveu quando adquiriu a Covid-19.
“Fui para UTI e precisei ser intubado para superar uma atelectasia (colapso de um segmento do pulmão alterando a relação ventilação/perfusão – passagem de líquido através do sistema circulatório ou linfático para um órgão ou tecido). Debilitado e com 15 quilos a menos, vivi a experiência comum a meus pacientes. Senti o que eles sentem e confesso que não é das melhores sensações, não”, revela.
Segundo ele, o processo de melhora começou a partir do momento em que foi intubado.
“Muita gente tem medo da intubação orotraqueal, mas na verdade é o que salva”, atesta ele, ressaltando que a experiência com a proximidade da morte engrandeceu sua história de vida.
“Em meus momentos de lucidez me preocupava em como minha esposa falaria para o meu filho que ele não tinha mais pai caso eu viesse a óbito. Pensava também em como iria nascer Marina, a bebê no ventre de uma amiga, detectada com um probleminha de saúde”, relata.
A pandemia tem uma face terrível, mas como tudo de bom ou de ruim que acontece, lições são deixadas, segundo avalia o médico.
“Do ponto de vista pessoal, o novo coronavírus traz a seguinte reflexão: que a gente tem que viver um pouquinho mais; se amar um pouquinho mais; saber dividir as coisas, pois não somos nem oito nem oitenta, existe um meio termo; que tem coisas que não gosto no meu colega, mas que posso aprender a conviver com isso; ser mais tolerante. A pandemia reforçou que nós somos todos iguais”, observa.
Samuel Rodrigues é um dos mais de 200 mil curados em Sergipe. São pessoas que venceram a batalha contra a Covid-19 e que, agora, celebram a recuperação após dias internadas sob os cuidados dos “heróis da saúde” que atuam na rede pública do Estado.
Samuel crê que a pandemia motivou entre as equipes assistenciais a união, a preocupação e o empenho com o paciente. Destacou também que depois da crise sanitária haverá mais profissionais capacitados.
“Alguns colegas me disseram que queriam aprender a intubar, fazer acesso central, aprender sobre ventilação mecânica. Somos cada vez mais pessoas dispostas a salvar vidas.”, diz o médico.
Fonte: SES
Foto: Divulgação
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