Hospital Universitário coloca funcionários e pacientes em risco em meio à pandemia

“Sou técnica em enfermagem e trabalho no Hospital Universitário, onde vários colegas estão afastados por causa do Covid-19. Trabalhamos com racionamento de EPI´s (Equipamentos de Proteção Individual) e escalas sobrecarregadas, e os profissionais que estão na ativa não estão sendo testados e monitorados pelo Sost (Serviço de Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho). O sentimento é de desamparo e muita incerteza”.

A frente fria de maio precipita mais do que chuva sobre o Hospital Universitário de Aracaju. O depoimento da servidora, que pode ser ouvido na íntegra aqui, resume alguns problemas vividos no HU. Sobrecarga de trabalho, ambiente insalubre, ausência de protocolos de atendimento e acolhimento, ausência de testagem para todos os servidores e servidoras. Oficialmente, 15 servidores e servidoras testaram positivo para Covid-19, mas um levantamento organizado pelo pessoal do HU já conta 19 casos até esta segunda-feira (11). Acesse o formulário do levantamento aqui.

Relatos do cotidiano

“Até o momento só foi disponibilizado máscaras e toucas descartáveis”. “Até o momento o hospital não disponibilizou o modelo termômetro pistola/infravermelho, o que é corretamente indicado pela OMS”. “Eu teria condições de banho no horário de repouso e no horário de saída? Não tive. Armenguei com compressas úmidas e álcool”. “Se falarem que deram treinamento, é mentira. Nem um boa noite eu tive”. As frases coletadas por relatos nas redes sociais falam por si só, acompanhe as imagens, abaixo.

Local inadequado para descanso e funcionário em grupo de risco exercendo funções

A imagem abaixo constitui o local de “descanso” dos servidores e servidoras. Um local onde as camas continuam empilhadas umas sobre as outras, desrespeitando qualquer regra de distanciamento social estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Chegou ao Sintufs a informação de que um trabalhador que acabara de  passar por procedimento cardiológico – logo, pertencente a grupo de risco – estaria exercendo suas funções no setor de Raio-X. Entendemos que todos os servidores e servidoras pertencentes a grupo de risco devem ser liberados de suas funções ou desenvolvê-las a partir de trabalho remoto, tal como já foi dialogado com a administração acadêmica.

Local para descanso não respeita o distanciamento mínimo

Subnotificação e abandono

“Os funcionários que ainda não foram testados, não tivemos a oportunidade por ser citados como assintomáticos. Procuramos o Sost e eles nos disseram que não poderiam nos testar.” Mais um depoimento de uma servidora do Hospital afirma que, por ausência de protocolo específico, muitos servidores e servidoras que não estão com os sintomas do vírus podem estar com Covid 19 e seguem trabalhando normalmente no Hospital. “Estamos nos sentindo inseguros, ilhados, sem ter a quem recorrer, escala escassa, muitos profissionais já positivados, contaminados e afastados. Estamos trabalhando sem nenhum tipo de segurança.” Para ouvir o depoimento na íntegra, clique aqui.

Denúncias e providências

Ainda em 25 de março, o Sintufs acionou o Ministério Público do Trabalho (MPT) para que este interviesse no cenário escabroso do Hospital. Até o momento, não obtivemos resposta. No dia 20 de abril, o Sintufs enviou ofício cobrando explicações e esclarecimentos ao Gabinete da Reitoria da UFS. A Coordenação Executiva do sindicato chegou a se reunir com o vice-reitor, Valter Joviniano e representante administrativo do HU, no dia 28 de abril, onde ficou acordado que o sindicato teria acesso a todos os protocolos de atendimento e treinamento, fato que não se concretizou. Nesta reunião, foi informado que haveria uma ala específica para atendimento de casos de Covid 19.

“Mesmo tendo setor específico de internamento de paciente de Covid-19, está acontecendo o internamento de pacientes suspeitos nas clínicas médicas, como aconteceu comigo e demais colegas, quando não foram disponibilizados os EPI´s adequados”, rebate mais um depoimento de uma servidora do HU, que pode ser ouvido na íntegra aqui.  Pacientes suspeitos atendidos e internados em outros setores, ausência de EPI e espaço para a devida higienização.

Trabalhadores da Ebserh e terceirizados

“Soube agora, de fontes seguras, que os terceirizados estão tendo que fazer limpeza terminal em ambiente que tinha ou tem pacientes com Covid 19 com seus uniformes, sem paramentação correta e depois vão fazer limpezas em outras do hospital. Outro agravante!” Segue mais um relato que chega aos ouvidos do sindicato. Além do descaso em relação aos terceirizados, é corrente a informação de que os funcionários com o vínculo com a Ebserh estão sendo obrigados a bater o ponto, o que configura exposição em fatores de contaminação.

Último comunicado

Em comunicado eletrônico enviado no dia 5 de maio, a Coordenação Executiva do Sintufs a para a “persistência dos problemas quanto as medidas de proteção aos trabalhadores da UFS”. O comunicado ressalta boa parte dos relatos expostos nesta reportagem, além de exigir um posicionamento por parte da administração da UFS e da Ebserh sobre procedimentos referentes à Nota Técnica nº 004/2020 da Anvisa. O comunicado segue sem resposta e pode ser lido na íntegra aqui. Ainda em 9 de maio, o sindicato recebe uma nova denúncia sobre as tratativas e ausência de protocolos frente ao Covid-19. Leia a denúncia completa, aqui.

Com a palavra, a gestão

A partir do relato direto de trabalhadores e trabalhadoras que se arriscam diariamente nas dependências do Hospital Universitário de Aracaju (HU-UFS), a reportagem apresenta a narrativa do cotidiano do Hospital-Escola que deveria ser referência no atendimento, acolhimento e protocolos frente ao Covid-19. As fontes decidiram por manter o anonimato frente as ameaças de represália no ambiente de trabalho, mas tanto o volume quanto a reincidência dos relatos disputam a sua franca legitimidade. Estamos à disposição dos entes fiscalizadores do Poder Público no intuito de dirimir e apurar as denúncias aqui apresentadas, colaborando com todos os aspectos materiais e subjetivos que cabem à representação da categoria. Quem não deve não teme, o mundo é grande e o destino nos espera.



Por Henrique Maynart – DRT 2276-SE
Fotos: Divulgação

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