A indicação do subprocurador da República Antônio Augusto Brandão de Aras para chefiar a Procuradoria Geral da República (PGR) deixou boa parte dos procuradores revoltada. Eles criticam o presidente Jair Bolsonaro por ter escolhido um procurador que não faz parte da lista tríplice elaborada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).
A ANPR emitiu uma nota pública criticando a indicação e convocando os procuradores em todo país a participarem do Dia de Luto do MPF (mesmo o MPF não tendo morrido), em protesto a indicação fora da lista.
Para a procuradora da República em Sergipe, Eunice Dantas, a decisão do presidente Bolsonaro representa um retrocesso de 20 anos, além de ser um ato antidemocrático.
“E aí Jair? Esqueceu que foi eleito com a bandeira de combater a corrupção? Esqueceu que dizia que iria mudar isso tudo que tá aí? Realmente mudou, pra pior. Retrocesso de 20 anos”, desabafou a procuradora em uma rede social, salientando que a escolha do novo procurador geral da República não passou pelo crivo da opinião pública (coisa que nunca aconteceu), muito menos dos procuradores.
“Escolheu um PGR que não foi submetido a debates públicos, não apresentou propostas à vista da sociedade e da própria carreira. Não se sabe o que conversou em diálogos absolutamente reservados, desenvolvidos à margem da opinião pública. Não possui, ademais, qualquer liderança para comandar uma instituição com o peso e a importância do MPF”, criticou Eunice Dantas.
A lista tríplice defendida pelos procuradores, apesar de ser uma medida democrática, não tem amparo na Constituição, cabendo ao presidente da República a prerrogativa de escolher ou não um dos três nomes da lista.
A lista só foi respeitada pelos governos petistas de Lula da Silva e Dilma Rousseff, que sempre escolheram o mais votado da lista. Michel Temer, que tramou a derrubada de Dilma, escolheu a segunda colocada. Já Bolsonaro preferiu escolher alguém fora da caixinha.
Vale ressaltar que muitos procuradores da República apoiaram a candidatura de Bolsonaro, principalmente integrantes da Lava Jato, como revelaram as mensagens vazadas e divulgadas pelo The Intercept Brasil. Em Sergipe, não se tem conhecimento se a procuradora Eunice Dantas também foi às ruas defender a bandeira bolsonarista. Também em várias fotos postadas em redes sociais procuradores pelo país foram vistos defendendo o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Talvez os senhores procuradores que apoiaram a candidatura de Bolsonaro tenham percebido que deram um tiro no pé. Mas nunca é tarde demais para o arrependimento, não é? Se é que há arrependimento de quem votou em Bolsonaro. Aliás, este é o presidente mais fiel em suas “propostas”, pois está cumprindo tudo o que havia prometido na eleição. Portanto, cara de surpresa não faz sentido.
Foto: MPF/Divulgação
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