As investigações sobre o perfil comportamental dos atiradores do massacre de Suzano, acontecido no último dia 13, já revelaram que Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, eram obcecados por internet e games online.
Um número cada vez maior de pesquisas tem estudado como estes jogos afetam a personalidade e o comportamento de crianças, jovens e adolescentes e já foi constatado que crianças que jogam até 16 horas de videogames por dia podem estar viciadas e desenvolver, justamente pela exposição a conteúdos violentos, um comportamento mais agressivo, intolerante e de isolamento da sociedade de acordo com estudo da Associação Britânica de Gerenciamento da Raiva.
O acesso excessivo a jogos virtuais, sejam eles violentos ou não, pode causar distúrbios de sono, afetar o hormônio do crescimento, o rendimento escolar, a alimentação e problemas comportamentais.
Em excesso, os jogos de videogame pioram sintomas de depressão, transtorno do déficit de atenção (TDAH) e aumentam probabilidade dos jovens se tornarem bullies (pessoas que cometem bullying); o uso com muita frequência o videogame e das mídias sociais pode instigar o vício e ter efeito similar ao abuso de drogas ou alcoolismo no cérebro infantil de acordo com estudos realizados pela Universidade Estadual da Califórnia, nos Estados Unidos.
Exames de ressonância magnética mostraram que o cérebro do jogador exibe as mesmas mudanças de função e estrutura que as dos alcoólatras ou viciados em drogas. O assunto é tão sério que a obsessão por jogos de videogame passou a ser considerada um problema de saúde mental pela Organização Mundial da Saúde. E não é para menos. Em 2010 um casal sul-coreano desempregado se tornou viciado em jogos online e deixou seu bebê de três meses morrer de inanição. O casal alimentava a recém-nascida prematura apenas uma vez por dia e passava períodos de 12 horas em jogos online.
Em 2011 um homem de 30 anos morreu na China depois de ter passado três dias seguidos jogando sem dormir e praticamente sem comer. A dependência dos jogos eletrônicos já afeta 33 milhões de adolescentes na China. Em 2012 um adolescente de 18 anos morreu após ficar 40 horas jogando PC em uma Lan House de Taiwan.
Em 2016, no Rio de Janeiro, um menino morreu asfixiado após jogar videogame. Ele perdeu uma partida e foi desafiado a prender a respiração pelo maior tempo possível. No mesmo ano, em Santos, outro garoto, de 13 anos, se enforcou após perder um jogo de videogame. Jogar videogames necessariamente significa dizer que crianças e adolescentes vão sair matando todo mundo?
Especialistas dizem que não, mas a ausência de limites, a estimulação sem fim e a gratificação instantânea que os jogos proporcionam em excesso podem, entre outros males, criar, em alguns, a dificuldade de se identificar com sentimentos de compaixão, solidariedade, estimular comportamentos reativos, banalizar a violência e aumentar a agressividade levando ao vício em videogames. Como identificar quando se é um jogador dedicado ou está se tornando um viciado?
Comprometer o horário de sono para jogar mais e mais; deixar de comer para jogar ou realizar todas as refeições em frente ao computador/televisão; deixar de tomar banho e escovar os dentes; não sair com amigos ou se relacionar com seus familiares; evita estudar ou não terminar tarefas de estudo ou trabalho, e começar a faltar na escola ou no trabalho para não deixar o jogo.
As consequências do uso excessivo dos videogames surgem em várias dimensões: alteração do sono; afastamento dos amigos da vida real e perda de relacionamentos; preferência pela vida virtual; piora do rendimento ou até perda do ano escolar; perda do trabalho; irritabilidade; dificuldade de controlar as emoções; transtornos de ansiedade e depressão; sedentarismo; má-nutrição ou obesidade; dores no pescoço e coluna e/ou lesões nas mãos e braços por esforços repetitivos.
Além disso, quando são confrontados com desafios, ordens, pedidos ou situações em que ficam irritados com irmãos, pais, amigos ou colegas de classe, a criança ou adolescente pode replicar as cenas de violência dos jogos na realidade o que parece ter sido o caso dos atiradores do massacre de Suzano como afirmou o delegado Jaime Pimentel, responsável pelo caso.
Estudos indicam que uma em cada cinco crianças sofre de algum problema de saúde mental e em 2016 o suicídio foi a terceira causa de morte entre jovens entre 15 e 29 anos no Brasil ficando atrás de acidentes e homicídios. Muitas crianças e adolescentes tem encontrado na realidade virtual dos videogames uma fuga de suas próprias emoções tentando viver no mundo virtual aquilo que não conseguem obter no mundo real, mas a internet e os jogos online não podem funcionar como uma fuga da realidade.
A família desempenha um papel fundamental, especialmente na prevenção. Pais e responsáveis precisam estar envolvidos com a vida online de seus filhos, atentos às dificuldades, frustrações ou inseguranças que eles podem estar tentando satisfazer com o estabelecimento de laços virtuais que não estão sendo criados no mundo real.
Também é preciso limitar o acesso ao mundo virtual e proporcionar às crianças diversidade de entretenimento. Especialistas recomendam que as crianças e adolescentes joguem no máximo duas horas por dia com a luz acesa sem ficar muito perto do monitor e evitando que a tela esteja no brilho máximo.
Os videogames não são maus, mas a vida de uma criança ou adolescente pode ser muito mais saudável e ter mais cor e alegria do que ficar trancado jogando por horas sem fim.
Murilo Lima é analista comportamental, coach e especialista em gestão de empresas e empreendedorismo. Possui também formações em desenvolvimento de líderes, desenvolvimento estratégico e gestão da criatividade e inovação. Atualmente é gerente comercial da Jovem Pan Aracaju e mentor voluntário da ONG Projeto Gauss. Desde 2012, conduz processos de desenvolvimento pessoal e profissional para empresários, líderes e jovens promissores, visando a expansão de competências, incremento de resultados e aprimoramento do ser.
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