Vacina em Grávidas

Saúde nas Entrelinhas – O óbito recente de uma gestante de 35 anos tem causado muita polêmica em relação a vacinação de pacientes grávidas, especialmente da marca AstraZenica, que foi a recebida pela paciente.

Mesmo sendo um caso isolado e ainda sem correlação comprovada, a vacinação de gestantes sem comorbidades foi temporariamente suspensa e ainda não há previsão de retorno.

Postagens em mídias sociais, insegurança e revolta marcaram as manifestações em relação a essas determinações. Estar grávida já é um momento delicado, estar grávida em uma pandemia vira realmente uma bagunça emocional onde fica difícil a racionalização do que está acontecendo.

A vacina é segura em gestantes?

O melhor lugar para se buscar respostas é na ciência que no caso da Covid-19 ainda nos deixa sem algumas respostas. Gestantes não foram incluídas nos grupos de estudos de todas as vacinas até agora desenvolvidas e alguns estudos em andamento ainda não tiveram seus resultados publicados. Sabemos que a mulher grávida passa por alterações metabólicas que a deixam em um estado inflamatório mais intenso pela própria gestação e mais suscetível a alguns eventos como infecções e até mesmo trombose. Estudos publicados em revistas internacionais deixaram claro que pacientes gestantes acometidas pela Covid evoluem pior do que mulheres não gestantes. Considerando o risco aumentado para gravidade, a vacinação de grávidas foi protocolada.

Vacinas em geral já foram amplamente estudadas e são aplicadas em gestantes e puérperas rotineiramente. Como há uma frequência maior de afecções graves respiratórias relacionadas a vírus sazonais, é prática serem vacinadas contra a gripe.

Não temos ainda como relacionar a lamentável perda da gestante, ocorrida por Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico com a Vacina da AstraZenica. Temos que ter cuidado para não entrar em desespero e tomar ações precipitadas por fatos dramáticos, mas que acontecem de maneira isolada. Tudo ainda é muito novo e traz muita insegurança.

Estudo publicado recentemente evidenciou que há transmissão de anticorpos maternos para o feto após a aplicação das vacinas, o que o deixaria mais protegido também. Quando tomamos uma decisão sobre a mãe, estamos afetando diretamente o bebê também.

O que fazer?

A orientação da FEBRASGO (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia) é que também gestantes podem receber a vacina, em especial a Coronavac que é feita através de vírus inativado, tecnologia amplamente utilizada em outras vacinas, mas não colocam contraindicação as demais.

Neste momento, o Ministério da Saúde suspendeu a vacinação de gestantes, deixando somente as gestantes com comorbidades com indicação de recebê-la.

Temos que ter muita cautela e responsabilidade na hora de tomar decisões sobre um grupo que é provado ser mais vulnerável.

Não faz sentido suspender a vacinação de gestantes por serem gestantes, mas gestantes com comorbidades poderem ter acesso a ela. São gestantes da mesma forma.

Sabemos que ainda faltam publicações que respondam todas as nossas dúvidas, mas em estado de calamidade, o primeiro quesito necessário para boas decisões é o bom senso.

Até semana que vem


Paula Saab é mastologista pelo Hospital Sírio Libanês, especialista em Gestão de Atenção a Saúde pela Fundação Dom Cabral e Judge Business School (Universidade de Cambridge), membro titular da Sociedade Brasileira de Mastologia e articulista colaboradora do Hora News.

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