A constante busca por resultados mais rápidos para adquirir o corpo desejado pode levar a caminhos perigosos. Quem faz atividades físicas muitas vezes não abre mão de suplementos, seja para melhorar a performance, ganhar massa muscular, ou mesmo para repor os nutrientes perdidos ao longo da realização dos exercícios, como vitaminas, minerais e fibras.
Os suplementos alimentares são produtos que podem ser utilizados para complementar a alimentação, seja por carência na ingestão, dificuldade de absorção do alimento ou aumento da demanda por algum problema de saúde e circunstância específica.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Suplementos para Fins Especiais e Congêneres (Abiad), 54% dos lares do país possuem ao menos uma pessoa que consome esse tipo de produto.
A nutricionista Jainara Lima, especialista em fitoterapia e nutrição funcional, afirma que os suplementos alimentares são produtos com características nutricionais idênticas ou similares às dos alimentos. Além de suprir carências da dieta, eles também auxiliam no equilíbrio do organismo.
“Entramos com a suplementação quando o paciente não consegue consumir tudo aquilo que ele necessita através da alimentação, ou porque ele não gosta, ou não tem tempo, porque passa o dia inteiro fora de casa e não tem tempo de parar e fazer todas as refeições. Ai é onde entra a suplementação, ela vai suplementar aquilo que a pessoa não consegue ingerir através da alimentação. Tem pessoas que não gostam de proteínas em gerais, como leite, ovo, carne, frango, mas ela necessita de certa quantidade de proteínas por dia e está consumindo uma quantidade bem abaixo do que necessita. Então, a gente entra com essa suplementação para adequar a essa necessidade que ela precisa por dia”, explica a nutricionista, advertindo que a suplementação deve ser indicada por um profissional da Nutrição, pois mesmo sendo uma suplementação tem suas contraindicações.
“Tem sim contraindicação. Por exemplo, se a pessoa for usar um whey, se for intolerante a lactose ela não pode está usando um whey concentrado, tem que usar um whey insolado, porque já não tem lactose. Se ela for alérgica ao leite tem que usar uma proteína pegona, se ela tiver algum problema de saúde não pode está usando qualquer tipo de suplemento, tem que avaliar qual suplemento usar e a quantidade também. No rótulo do whey fala que você tem que usar dois potinhos, mas tem pessoas que não necessitam está usando dois, precisam só um ou metade de um. Precisa ser analisado porque quando a gente monta o plano alimentar se calcula tudo que ela precisa de vitamina, minerais, carboidratos, proteínas, por isso que tem que ser tudo quantificado. A suplementação pode ser usada em qualquer pessoa, da criança ao idoso, desde que tenha um acompanhamento”, salienta Jainara.
Apesar do bom rendimento e de suprir a ausência de proteínas no organismo, a suplementação nunca deve ser comparada a alimentação natural. Segundo a nutricionista, o mais recomendado é o uso contínuo dos alimentos, que são ricos não apenas em proteínas, mas também em vitaminas e gorduras que o organismo necessita. Ela observa que a suplementação só deve ser indicada quando a pessoa não consegue ingerir a alimentação por algum motivo.
“Quando a gente fala de whey, por exemplo, ele supre a necessidade de proteína, mas ele não supre as outras necessidades. Quando você está consumindo ovo, você não está consumindo só a proteína, você está consumindo vitaminas, gordura também e não só proteína em si. A mesma coisa também quando você consume um frango, você não está consumindo só a proteína, você está consumindo vitaminas e gorduras. E quando você compra um suplemento em si, normalmente ele vai está só a proteína, um ou outro que está acrescentado da vitamina e mineral. Por isso, é mais recomendado você usar o alimento em si, consumir o alimento, porque ele não tem só aquele macro nutriente que você está consumindo com o suplemento. Mas como tem pessoas que não conseguem consumir através de uma alimentação, temos que está adequando o suplemento. Como o próprio nome diz, ele vai suplementar aquilo que a pessoa não consegue consumir”, relata a especialista nutricional.
Pesquisas indicam que o uso de suplementos alimentares tem crescido no Brasil. Nas academias e nas redes sociais, o tema é discutido diariamente. O consumo sem orientação especializada, porém, pode provocar sérios problemas à saúde do paciente. Jainara defende maior rigor na comercialização do produto.
“Sim, causa perigo para a saúde do paciente, isso acontece porque não tem uma boa fiscalização. Infelizmente, não tem fiscalização, não tem lei que proíba a venda do suplemento em qualquer lugar. O suplemento só deveria ser vendido como se fosse uma medicação, ou seja, com a prescrição obrigatória. Por que as pessoas usam como se fosse qualquer outra substância, como se não fosse maléfica para a saúde. Então, se você não souber utilizar pode fazer mal para a saúde. Por exemplo, a creatina é um suplemento muito bom, mas você tem que saber o que está utilizando, porque não é um suplemento de uso contínuo, você usa e em um determinado momento precisa pausar. Quando você usa a creatina você precisa beber bastante liquido. É um suplemento muito bom porque ele te dar mais força, você vai conseguir fazer um treino mais eficaz, você vai ter um aumento maior de massa muscular, mas o acompanhamento do nutricionista é indispensável”, observa a profissional.
Jainara Lima salienta que o uso de suplementos só é indicado para quem sofre de déficit nutricional. Quando consumidos por quem não tem necessidade e utilizados em excesso ou de forma incorreta, a suplementação alimentar pode provocar uma sobrecarga dos órgãos responsáveis pelo metabolismo, como fígado e rins, e dessa forma provocar doenças e a falência de órgãos, dependendo da quantidade utilizada.
“Ele vai causar problemas na saúde, principalmente nos rins se você não estiver consumindo água adequadamente e fazendo o uso correto do suplemento. Por exemplo, o whey que é um suplemento rico em proteína, mas se você não estiver consumindo água adequadamente vai trazer prejuízos para os seus rins”, adverte a profissional da Nutrição, acrescentando que a pessoa pode adquirir massa muscular se alimentando naturalmente, sem a necessidade de suplementação. Ela também destaca um erro alimentar cometido pela maioria das pessoas que frequentam as academias, provocando a sobrecarga dos rins.
“Normalmente, a depender do objetivo, pode ter proteína antes ou após o treino, mas não necessariamente precisa ser whey. Tem pessoas que conseguem hipertrofiar, ter ganho de massa muscular sem usar suplemento nenhum, porque ela consegue consumir tudo que necessita através da própria alimentação. Não tem necessidade nenhuma dela está comprando um pote de qualquer suplemento. Agora tem muitas pessoas que cometem esse erro: comem adequadamente e após o treino já toma um suplemento de whey, aí chega em casa e já vai comer frango, ovo, achando que quanto mais proteína consumir mais o musculo vai desenvolver, e não é isso que acontece. O corpo absolve até determinada quantidade, passou daquilo ele vai estocar em forma de gordura e dar mais trabalho para o rim. E para saber a quantidade exata a pessoa terá que passar por um nutricionista para fazer a avaliação”, orienta a Dra. Jainara.
O uso indiscriminado de suplementos e principalmente de anabolizantes por adolescentes é uma das principais preocupações da nutricionista. Queda de cabelos, estresse e infertilidades são algumas das reações ao mau uso da suplementação.
“Como eles acabam ficando muito tempo na rede social, na internet, acabam usando coisas que não são recomendadas, como é o caso dos anabolizantes, que são muito perigosos por serem hormônios. E por serem hormônios só podem ser prescritos pelo médico, porque ele é usado para tratamento de doenças. Infelizmente, tem diversos profissionais, pessoas que nem são formados que estão passando, prescrevendo sem saber do que ele pode causar futuramente. Quem já usa anabolizante sem orientação é bom procurar um médico para fazer todos os tipos de exames, ver se já teve algum prejuízo para começar o tratamento. O corpo já produz a quantidade de hormônio necessário para as funções vitais, e você vai lá e consome mais hormônios, o corpo não vai entender o que está acontecendo, ele vai bloquear a produção de algum hormônio que já tenha no corpo ou acelerar e produzir mais hormônios ainda. Aí pessoas vão ter queda de cabelos, homens tendo infertilidade, pessoas ficando estressadas, violentas, a mulher pode ficar com a voz mais grossa, diminuição dos seios, pelos maiores, infertilidade, sem menstruação, porque está com um quantitativo a mais no organismo dela”, alerta a especialista, observando que o uso em excesso de polivitaminico pode resultar em intoxicação do corpo.
“Uso de polivitaminico em excesso pode causar intoxicação no corpo, porque tudo em excesso é prejudicial, até uma suplementação de vitaminas e minerais se a pessoa já estiver consumindo alimento adequadamente e for suplementar pode intoxicar o organismo. Tem pessoas que acham que é uma simples vitamina e que não faz mal a ninguém, aí é onde ela se engana, porque se for em excesso faz mal sim ao organismo”, frisa Jainara.
Com o envelhecimento do indivíduo, é natural que o componente corporal diminua seu volume gradativamente, trazendo falta de definição muscular, desconforto, dores, fraqueza, dificuldade de locomoção, além de maior facilidade para fraturas e contusões mesmo em movimentos menos intensos e pequenas quedas. A nutricionista dá dicas de como os idosos podem adquirir massa muscular de forma segura e saudável.
“A creatina é muito bom para aumentar a resistência, é bom para o catabolismo. Já têm estudos mostrando os benefícios deles para pessoas diabéticas. Já o ômega 3 é muito bom para a diminuição do colesterol ruim e aumentar o colesterol bom, e com a diminuição de gordura abdominal é bom para a memória. Tem diversos benefícios do ômega 3, mas a pessoa tem que saber escolher, porque não é todo ômega 3 que é bom. Ele tem que ter um selinho de qualidade e os que não têm esse selinho pode estar contaminado com metais pesados, como mercúrio, chumbo e você consumindo esse ômega 3 de baixa qualidade pode está prejudicando sua saúde. Então, até na hora de comprar seu suplemento você tem que saber o qual deve comprar. O correto é antes consultar um nutricionista para saber qual suplemento deve adquirir. No caso do whey para idosos, não todos, mas a maioria dos idosos consome poucas proteínas, e como o idoso acaba perdendo muita massa magra, porque quanto mais velho a gente fica mais massa magra a gente perde, é muito importante a prática de musculação para o idoso e adequar a proteína, porque vai ajudar a prevenir que ele não perca tanta massa magra assim e se sinta mais fraco futuramente”, destaca Jainara.
Quando pensamos em bactérias, a primeira coisa que nos vem à cabeça são as imagens de sujeira e doenças. Todavia, há bactérias que fazem bem para o nosso organismo e podem ser consumidas sem moderação. Porém, uma advertência, segundo a especialista: se o intestino não está bem colonizado, ou seja, com o processo de defecação correto, é sinal que a saúde não está boa.
“O nosso intestino tem bactérias benéficas e maléficas. As benéficas são aquelas que vão atuar no bom funcionamento do organismo, participa da absorção de algumas vitaminas, e as maléficas a gente as adquire através dos nossos hábitos inadequados. Quando a gente está com o número de bactérias maléficas maiores do que as benéficas, acontece o que a gente chama de desbioze. Ou seja, nosso intestino não está bem colonizado e isso acontece com pessoas que ficam com diarreia, intestino preso, porque o correto é defecar três vezes ao dia. Pelo menos uma vez tem que fazer. E tem pessoas que ficam oscilando entre diarreia e intestino preso. O intestino é que vai absolver as vitaminas e os minerais e levar para as células. Se a pessoa não defeca corretamente, o seu corpo vai começar a absolver aquelas toxinas e levar para as células. Sinal que a saúde não está boa”, adverte, evidenciando que problemas com a estética, como pele oleosa, surgimento de acnes e dificuldade em perder peso, podem está relacionados ao mau funcionamento do intestino.
“A pessoa não está defecando todos os dias, mas aquelas fezes têm que ser eliminadas. Se ela está ali no seu intestino, o corpo vai começar a absolver aquelas toxinas das fezes e levar para o organismo. Aquelas toxinas vão participar da produção de hormônios e essa produção de hormônios pode fazer com que a pessoa ganhe gordura, comece a aparecer acne na pele, queda de cabelo, diversos problemas. Por isso, tem pessoas com muito problema de pele oleosa, acne, muito problema de estética, porque o intestino está absolvendo aquelas toxinas e levando para as células. Muitas pessoas não conseguem perder peso, perder gordura por causa do intestino preso. É preciso investigar isso, porque a partir do momento que o seu intestino não está corretamente o restante do corpo pode ser comprometido. Então, quando você passa muito tempo sem defecar, aquelas bactérias maléficas vão se proliferar e quanto mais se proliferam, pior vai ficar seu intestino. Aí é onde a gente entra com a suplementação simbiótica, que são bactérias benéficas e o uso do substrato para elas se desenvolverem e fazer com que o intestino funcione melhor”, conclui Jainara Lima.
Uma pesquisa realizada em Fortaleza, no Ceará, com a participação de 85 frequentadores de academia, com idades entre 18 e 58 anos, revelou que pessoas abaixo dos 30 anos são as que mais recorrem a suplementos. Quanto mais jovem, maior o consumo. Mas o que deixou mesmo os especialistas de cabelo em pé é o uso dessas substâncias por conta própria, geralmente indicadas a atletas. Já em Campo Mourão, no Paraná, outro levantamento, feito com apenas 30 adolescentes, mostrou que um terço deles ingeria suplementos sem orientação. Só 10% ouviram um especialista da área: nutricionista ou médico.
Mas essa realidade não se restringe ao Brasil. Na Eslovênia, por exemplo, cientistas da Universidade de Liubliana identificaram um cenário parecido ao estudarem cerca de 1.500 jovens de 14 a 19 anos. Dos adeptos da suplementação, 40% não eram acompanhados por profissionais de saúde, sendo que 30% desse total se aconselhavam com os próprios familiares.
A legislação brasileira não classifica os suplementos como medicamentos farmacêuticos. Pela legislação, suplementos de proteína, como o whey protein, são considerados alimentos e não remédios, o que favorece a venda e o consumo sem critério. Atenta aos riscos que isso pode causar à saúde da população brasileira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu reavaliar o uso de suplementos e promete revisar as regras na área.
Por Paulo Sousa
Fotos: Arquivo Pessoal/Google
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