Sinpol: nossa casa de Rivonia, se necessário for

Em 11 de julho de 1963, seis lideranças Sul Africanas que lutavam contra o Apartheid foram presas em uma casinha humilde que usavam como refúgio, localizada em Rivonia, uma área rural do subúrbio de Joanesburgo. Por certo que no momento atual, com três décadas de vigência da Constituição Cidadã, não se vislumbra da prisão de quem quer que seja em razão da defesa de direitos.

Mas a despeito dessa garantia, que aparentemente já experimentamos, seguramente ainda vivemos vários apartheids (separações indevidas). Apartação preconceituosa contra a qual ainda lutam os negros, os pobres, os analfabetos, as mulheres, os homossexuais, entre outros grupos.

Importa registrar que nem sempre os segregados são a minoria, tal como não eram os negros nas terras de Nelson Mandela, tal como não são os negros no Brasil. Os pobres não eram minoria nas terras de Gandhi e também não são no Brasil. Ainda assim, lá e cá o Apartheid continua.

Infelizmente também há apartheids em instituições republicanas respeitáveis. Mas o que sobreleva destacar aqui é o que todo policial civil da base sente na pele. Ele não é diferenciado apenas pelo nível remuneratório, feixe de atribuições ou outro aspecto legal. A diferença alcança outros campos, de forma que o sentimento generalizado é de que o agente e o escrivão são servidores públicos de menos importância na Polícia Civil, cuja utilidade reside em executar a tarefa mais rude do inquérito policial.

“Madiba” avisou que não há caminho fácil para a liberdade, mas eu não pensei que seria tão difícil.

Em outubro do ano passado, eleito presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Sergipe (Sinpol/SE) e contando com a simpatia da cúpula da Segurança da Segurança Pública do Estado de Sergipe, declarei publicamente o voto no candidato Belivaldo Chagas e incentivei meus companheiros da base da Polícia Civil a confiarem na proposta da continuidade do Governo. Não o fiz após um entendimento mesquinho ou pessoal, pedi ao governador tão somente que ele realizasse um sonho da minha categoria, unificando os cargos da base.

Solicitei do governador que ele fosse sucessor do governador Marcelo Déda não apenas cronologicamente, mas também nas atitudes. Déda – quanta saudade – reforçou a luta contra o apartheid, diminuindo as disparidades remuneratórias entre as categorias policiais civis. Restava a Belivaldo tão somente mudar a carreira policial, criando o Oficial de Polícia Civil (OPC). O compromisso foi firmado e coube a mim cumprir a minha parte primeiro. Agora, tristemente, venho a público me opor contra o Governo.

Não posso fazer essa defesa da palavra dada sem antes reconhecer que um membro do governo merece todo meu reconhecimento e amizade. Trata-se do secretário da Segurança Pública, João Eloy de Menezes, que mesmo sendo um delegado de Polícia Civil resistiu à pressão de seus pares e defendeu o OPC até o fim, fazendo de sua palavra um celeiro de credibilidade.

Depois de João, outros delegados também merecem o nosso reconhecimento, a exemplo de Mário Leoni e Jocélio Fróes.

Por último, antes do descumprimento do compromisso, ainda tentaram dividir as forças de Segurança Pública, atribuindo aos oficiais da Polícia Militar o entrave para a aprovação do OPC. Estou certo de que os superiores da polícia ostensiva não se sentiram sequer minimamente ameaçados pela atribuição da nomenclatura “Oficial” ao policial da base da Polícia Judiciária.

Não. A decisão de não encaminhar o OPC foi uma atitude de Governo.

Quanto aos deputados estaduais, sei que se fosse um projeto de Governo, como foi no nascedouro, a aprovação seria por unanimidade. Contudo, não há como deixar de reconhecer a atuação do deputado Capitão Samuel em um momento em que poucos quiseram assumir publicamente o apoio.

Ressalto ainda que chegará o momento em que nossos parlamentares perceberão que a eficiência da Segurança Pública e a valorização do homem que o protege é a saída. Fazer mais com menos em matéria de segurança é vital. Saberemos reconhecer um a um os apoios que sabidamente virão.

Quanto a mim, farei em Assembleia o mesmo compromisso que “Tata” fez perante a Corte Suprema de Pretória, na mesma e exata extensão.

No momento, face à frustração dos policiais civis, que se sentem enganados, vítimas de um estelionato eleitoral, não tenho outra saída senão oferecê-los o Sinpol/SE, para que seja sua Casa de Rivonia, se necessário for.


Adriano Bandeira é policial civil e presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Sergipe.

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