Todo Governo deixa marcas positivas e negativas nas lembranças da população. Em algumas experiências ruins, a chaga é tão intensa que as cicatrizes são irreversíveis. Em Sergipe, a experiência do atual Governo do Estado parece desastrosa em diversos níveis, sobretudo na área da Segurança Pública. Nenhum governador eleito pelo povo é obrigado a compreender sobre o funcionamento das Polícias, enfrentamento à criminalidade e combate efetivo à violência quando toma posse no cargo. Mas todo governador deveria desbravar esse universo por meio de estudos existentes na área e diálogo com os profissionais que estão nas ruas e nas delegacias, em contato direto com as mazelas sociais, com as vítimas e seus reclames.
O menor estado do país poderia ser modelo positivo para as demais Unidades da Federação em diversos cenários da Segurança Pública. Por mais que nossos 75 municípios sejam considerados tranquilos, os números da violência em 2022 e a sensação de insegurança do cidadão de bem têm mostrado o oposto: estamos sendo guiados dentro de um trem-bala sem freios. O desastre se mostra inevitável.
A chaga da violência que se espalha por Sergipe trouxe desesperança e revolta até mesmo aos profissionais que são responsáveis pela garantia da ordem e paz social. Os policiais civis, policiais militares e bombeiros militares são preparados de forma técnica e emocional para enfrentar as piores situações relacionadas à violência, mas não são super-heróis. São humanos com necessidades como qualquer outro cidadão. A valorização profissional atrelada ao reconhecimento financeiro compatíveis com as atividades perigosas desempenhadas diariamente são o básico, o mínimo esperado por quem arrisca a vida todos os dias em defesa da sociedade. É uma profissão notoriamente diferenciada, com a incerteza do regresso para casa após o cumprimento das missões diárias.
O cidadão de bem quer policiais nas ruas e nas delegacias comprometidos com o combate à violência. Quer a prevenção do crime de forma efetiva. Deseja que o crime ocorrido contra eles seja investigado e os culpados presos. E os policiais querem fazer o seu trabalho de maneira responsável e comprometida como sempre fizeram, mas esbarram na má vontade do Governo de Belivaldo para solucionar problemas simples, a exemplo do pagamento do adicional de periculosidade, reposições inflacionárias pendentes e reestruturação das carreiras policiais. Não precisa ser um estudioso da Segurança Pública para compreender que esses passos são necessários e urgentes, mas precisam ser providenciados ouvindo as categorias. Quem está no ar condicionado todos os dias talvez não compreenda como o cenário do crime tem se desenhado em Sergipe atualmente.
O último aumento salarial que os agentes e escrivães da Polícia Civil de Sergipe tiveram foi em 2008. Nesse intervalo até o presente momento, houve muita luta e poucas vitórias por parte das categorias sindicais; pois foi observada muita má vontade em relação aos policiais e bombeiros. O surgimento do Movimento Polícia Unida, as recentes paralisações de alerta ao Governo e a Operação Padrão, a qual estamos atravessando, são resultado de uma gestão desastrosa no campo da segurança pública, independente dos profissionais que sejam postos nas cadeiras de secretário da Segurança Pública, delegado-geral da Polícia Civil; comandantes-gerais da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e diretoria da Coordenação Geral de Perícias. O problema é gestão por parte do Governo. É a chaga soberana da ineficiência atuando no estado que tanto admiramos e protegemos.
Qualquer ser humano que passa por sofrimento reage de alguma forma. Com os policiais civis, policiais militares e bombeiros militares não é diferente. As marcas do Governo de Belivaldo em relação à segurança pública até o momento são o descaso, a ausência de diálogo, crise, caos, falta de valorização e insensibilidade perante demandas básicas que afligem as categorias. Fazer concursos periodicamente e chamar aprovados ou excedentes é obrigação, não é benevolência. Mas como nem tudo é ruim e todo Governo tem seu lado positivo, precisamos reconhecer que o Governo de Belivaldo é o “pai” do Movimento Polícia Unida. Ele conseguiu unir as categorias em uma luta permeada de união, compromisso e responsabilidade de maneira ímpar. O Movimento Polícia Unida será lembrado na história de Sergipe como uma cicatriz positiva do Governo de Belivaldo. Essa marca positiva a gente precisa reconhecer.
Adriano Bandeira é policial civil, bacharel em Direito e em Ciências Contábeis, especialista em Gestão Tributária e Planejamento Fiscal, presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Sergipe, e articulista colaborador do Hora News.
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