É perceptível a rotatividade de gestores municipais de saúde aqui em Sergipe, fatores variados são a causa disso, ocasionando a descontinuidade de ações e processos, com comprometimento do sistema de saúde, forte impacto no cuidado à população e nos indicadores de saúde.
De acordo com o Conselho de secretarias municipais de saúde de Sergipe (Cosems/SE), o índice de rotatividade dos gestores municipais de saúde se intensificaram no último quadriênio (2017-2020) e vem mantendo o mesmo aceleramento de 2021 até os dias atuais.
Essa rotatividade acontece muitas vezes antes da conclusão do mandato de quatro anos do prefeito. Trocam de secretário de saúde em um mesmo mandato cerca de duas, três e até quatro vezes. Entre 2017-2020 ocorreu a rotatividade de 133 secretários de saúde e agora entre 2021- 2023, já são 52 mudanças dos cargos nos municípios sergipanos.
Isso constitui uma ameaça muito grande ao avanço da política de saúde, porque fica evidente o interrompimento e o esfacelamento de um planejamento que visa consolidar a política do SUS.
O gestor de saúde assume a responsabilidade pública de agir na garantia da continuidade e consolidação de políticas de saúde de acordo com as diretrizes constitucionais e legais do SUS, o que portanto não se encerra no período de um governo, muito menos antes da conclusão dele.
Ser secretário de saúde nos tempos atuais exige legalmente, a gestão plena da pasta, nos âmbitos administrativo, contábil, legal e financeiro, menos político e talvez este seja o calcanhar de Aquiles para justificar tanta fragilidade. O que seja talvez a dificuldade de adaptação da maioria dos prefeitos, causando tantos altos e baixos na qualidade das gestões nos cenários municipais.
Em virtude disso preferem optar por perfis políticos e submissos, contudo muitas vezes, sem nenhum conhecimento técnico e habilidade de liderança que a pasta exige.
A ameaça ao sucesso do avanço do sistema de saúde está aí, neste cenário descrito acima que leva a um ritmo de mudança de gestores que avalio assustadora. É preciso quem saibam escolher de acordo com a exigência que o cargo impõe.
Todo processo de planejamento a curto, médio e longo prazo não é cumprido, a equipe de trabalho sente muito com as mudanças e muitas vezes perdem o entusiasmo e ânimo para desenvolver as atividades, tornando até o ambiente profissional um local de adoecimento, com tanta mudança de comando.
É perceptível como ninguém pensa nisso, os interesses políticos são maiores e devem se sobrepor a tudo e a todos, até condenar por décadas o esfacelamento de um sistema de saúde que foi criado com um propósito grandioso de servir a todos na sua integralidade.
Fica muito difícil atender estes princípios tendo à frente das pastas pessoas descomprometidas, vaidosas, irresponsáveis e incompetentes. Ou este cenário muda ou continuará potencializando uma grande ameaça ao SUS.
Emanuelly Carvalho Hora é enfermeira especialista em saúde pública e gestão e regulação dos serviços públicos de saúde e articulista do Hora News.
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