O senador Rogério Carvalho (PT), um dos mais destacados membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, no Senador Federal, que investiga a omissão do governo federal no combate à pandemia do coronavírus, avalia os trabalhos investigativos da CPI e suas consequências para os possíveis responsáveis pelos caos da saúde no país.
Nesta entrevista, exclusiva ao Hora News, Rogério afirma que os depoentes que compareceram até agora à CPI foram treinados para defender Bolsonaro e tentar livrá-lo de possíveis responsabilidades e punições, mas a tática deve falhar, segundo o senador. Ele também defende a oitiva de governadores e prefeitos, e adverte os próximos depoentes: “A tolerância da CPI já não é mais a mesma. Se mentir, será preso”. Confira a entrevista.
Hora News – Qual sua avaliação até o momento sobre a CPI da Pandemia?
Rogério Carvalho – A CPI da Pandemia ouviu, até agora, personagens importantes do governo Bolsonaro. Entre mentiras desmascaradas, omissões, e verdades desvendadas, já se constata que o Bolsonaro agiu para largar o povo à própria sorte, haver uma contaminação em massa e adquirir imunidade naturalmente. Por isso, existem tantos conflitos entre o Bolsonaro e os governadores, o Congresso Nacional, o STF, e a imprensa, porque esses se contrapõem à teoria da imunidade de rebanho imposta pelo presidente. Ainda que todas as testemunhas governistas ouvidas demonstrem que foram treinadas para blindar o presidente, o resultado é que o Bolsonaro pratica crime doloso e continuado contra a saúde pública.
HN – Quem mais mentiu ou falou a verdade até agora na CPI?
RC – A oitiva do Pazuello foi uma mentira do início ao fim, nos dois dias de CPI. Por isso, será convocado uma terceira vez, para se redimir com os brasileiros. Só que agora, a tolerância da CPI já não é mais a mesma. Se mentir, será preso. O Teich desvendou a hipocrisia do governo Bolsonaro. A verdade que aparece no depoimento do ex-ministro é que por ser médico e defensor da ciência, e por não cumprir as determinações do presidente, ele deixou o Ministério da Saúde.
HN – Pelos trabalhos até o momento, a CPI tende a responsabilizar Bolsonaro pelos caos na Pandemia? Seus assessores tendem a ser processados?
RC – Bolsonaro é o grande promotor da pandemia no Brasil. E vai ser responsabilizado por tantas mortes e pela maior tragédia sanitária do país. Bom, aqueles que tiveram a liberdade para fazer diferente e preferiram seguir os comandos distorcidos do Bolsonaro devem ser corresponsáveis.
HN – A senhora Mayra Pinheiro mentiu hoje na CPI? Se sim, quais foram as mentiras que ficaram comprovadas?
RC – Virou manchete nacional a quantidade de mentiras proferidas pela dra. Mayra Pinheiro. Uma vergonha para uma gestora que não se constrange em enganar e colocar em risco a vida do povo brasileiro para blindar o presidente da República dos seus crimes. Foi revoltante ter que apresentar aos brasileiros vídeos em que a dra. Mayra mentia ali mesmo na CPI, minutos antes dos nossos questionamentos. As que mais me impressionaram foram ela negar que defendia a imunidade de rebanho, e num vídeo de uma palestra que foi apresentado por nós, ela defende a tese, inclusive para nossas crianças. E também, como a ideologia perturba o pensamento de uma médica a ponto de dar um significado performático e sexista a uma marca comemorativa da Fiocruz. Logo a Fiocruz, que é uma instituição secular respeitada em todo o mundo e uma das únicas produtoras nacionais de vacinas que chegam aos braços dos brasileiros.
HN – Porque até agora nenhum depoente responsabilizou o presidente Bolsonaro, pelo contrário, fazem questão de o isentar de qualquer responsabilidade?
RC – Os ex-ministros que não concordam com a tese da imunidade de rebanho revelaram a atuação deliberada e dolosa do Bolsonaro contra as medidas preventivas de controle da expansão da doença, tais como, o uso de máscaras e o isolamento social e a negligência na compra de vacinas e na imunização em massa. Também ficou evidente que o Bolsonaro quis impor aos brasileiros o uso da cloroquina para passar uma falsa segurança às pessoas, e as mesmas irem para as ruas e postos de trabalho, e haver uma contaminação em massa.
HN – O senhor acredita que os depoentes não têm responsabilizado Bolsonaro por medo de represálias? Quais seriam elas além da demissão do cargo, na sua opinião?
RC – Existe um fanatismo que torna a postura das pessoas, inclusive em relação à sua própria vida, irracional. Isso justifica as atuações suicidas do Pazuello e da dra. Mayra Pinheiro.
HN – O senhor defende que governadores e prefeitos também sejam ouvidos pela CPI?
RC – Após a constatação do crime sanitário evidente do Bolsonaro, o exemplo dele, deve servir de orientação para a sequência de oitivas da CPI, inclusive com governadores e prefeitos.
HN – Essa CPI corre o perigo de acabar em pizza ou a população pode ter a certeza que os responsáveis pelo caos na saúde pública serão responsabilizados?
RC – O interesse dos brasileiros pela CPI prova que o trabalho que está sendo feito tem a aprovação das pessoas. Agimos com cautela, respeito, e responsabilidade na exposição de provas que apontam que o efeito Bolsonaro provocou mais de 452 mil mortes. Não há como fugir deste fato! O nosso compromisso é barrar a desinformação e os milagres baratos do Bolsonaro que matam. Outra prioridade nossa é ampliar a aquisição de vacinas pra salvar a vida dos brasileiros.
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