Saúde nas Entrelinhas – Nesta quarta-feira a ANVISA aprovou em caráter emergencial um novo anticorpo monoclonal para uso no tratamento de acometidos pela COVID-19, o regdanvimabe.
Os anticorpos monoclonais (MAbs) são uma categoria conhecida de biofármacos que são produzidos a partir de um único clone de uma célula de defesa que tem como objetivo principal sinalizar uma célula doente para ativar o sistema imune contra ela. Já usamos esse tipo de medicação biológica para tratamento de tumores como leucemias e linfomas, Lupus, Esclerose Múltipla, Doenças Inflamatórias Intestinais entre muitas outras doenças como o Câncer de Mama.
No meio da pandemia, surgiram esforços científicos para utilizar essa tecnologia contra o Sars-Cov-2.
O Começo
Alguns estudos mostrara que o MAb Tocilizumabe, já conhecido no mercado para tratamento de Artrite Reumatóide, poderia trazer benefícios para pacientes com COVID-19 e sinais inflamatórios de gravidade uma vez que neutraliza um importante marcador na cascata inflamatória de resposta ao vírus que algumas pessoas desenvolvem. O estudo EMPACTA sugeriu que pacientes internados com sinais de gravidade mas sem uso de ventilação mecânica poderiam ser beneficiados. Consequência, uma medicação que já custava salgados R$ 4.000,00 por dose chegou a R$ 12.000,00 no pico da pandemia, com resultados ainda questionáveis.
Vimos familiares desesperados atrás da medicação, vendendo bens e comprando a medicação de fornecedores questionáveis na ânsia que seria a grande salvação. Alguns pacientes que utilizaram não evoluíram com a gravidade, outros sim. O nexo causal da melhor evolução em relação a este medicamento especificamente não ficou bem estabelecido.
O Meio
A aprovação em caráter emergencial da Regkirona quer dizer que seu uso foi autorizado baseado em resultados finais de estudo de fase 3 ainda não publicados, mas a princípio a importância do seu impacto no enfrentamento da doença justifica a ausência da publicação como foi com a Coronavac.
O estudo do regdanvimabe envolveu 1315 pacientes em diversos países e foi focado em pacientes com quadro leve ou moderado que não necessitam de oxigenioterapia e os resultados foram extremamente animadores com diminuição de 72% de evolução para quadros graves no grupo que recebeu 40mg/Kg da medicação.
Apesar da notícia feliz, a bula recomenda que o Regdanvimabe seja feito em regime de internação hospitalar.
O Tiro no Pé
Faltaram leitos hospitalares para acolher as milhares de pessoas que evoluíram para Covid grave. Estamos em declínio na taxa de infecção e os hospitais respiram normalmente.
Imagine o cenário onde pacientes sem indicação hospitalar possam ser internados somente para receber medicação. Há casos onde pacientes que não necessitam de oxigênio são internados, mas é a minoria. Com a popularização da medicação e o desespero dos infectados podemos assistir a mais uma onda de hospitais lotados e falta de assistência ás demais doenças.
Acredito que vale a reflexão e o planejamento.
Até semana que vem.
Paula Saab é mastologista pelo Hospital Sírio Libanês, especialista em Gestão de Atenção a Saúde pela Fundação Dom Cabral e Judge Business School (Universidade de Cambridge), membro titular da Sociedade Brasileira de Mastologia e articulista colaboradora do Hora News.
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