Sim, Rogério Carvalho continua senador e agora é primeiro secretário do Senado Federal.
Eliane Aquino está num ministério.
Márcio Macedo é ministro e um dos mais próximos do presidente Lula.
Mas como ficou o PT de Sergipe?
No interior do estado ainda tem muitos vereadores, uma base social razoável ligada ao deputado federal João Daniel e algumas prefeituras.
Numa democracia burguesa partidos lutam para ocupar o poder e acessar mais espaços de poder ainda e assim crescer cada vez mais.
Como o Robert Michels apontara, mesmo os partidos socialistas tendem a se profissionalizar e burocratizar para lidar com a economia do poder. Ou seja, conquistar, continuar e crescer.
O que fez o PT pós 2016 em Sergipe?
Ainda com o falecido ex-governador havia pontos de tensão consideráveis com sindicatos importantes, como o Síntese.
Chame-se atenção para o fato de que o deputado estadual eleito Chico dos Correios também teve tensões com esse mesmo sindicato quando esteve a frente da prefeitura de Nossa Senhora da Glória.
Eliane Aquino foi eleita vice-prefeita de Aracaju com Edvaldo Nogueira em 2016 e depois vice-governadora com Belivaldo em 2018. Nos dois casos o PT rompeu com os cabeças de chapa e lançou candidatos para concorrer.
Em 2020 Márcio Macedo concorreu contra Edvaldo marcando posição e em 2022 Rogério Carvalho travou forte disputa contra Fábio Mitidieri.
O que há em comum entre as duas situações supracitadas?
O PT anunciou rompimento com os governos dos quais fez parte próximo a eleição e passou a apontar diversas falhas desses. O que sem dúvida nos faz perguntar se isso só foi percebido no momento do rompimento.
No caso de Aracaju e do governo do estado o deputado federal João Daniel não tinha tanto acordo quando a pular fica de ambos os barcos.
Mas Rogério só cometeu erros a frente do PT? Não necessariamente, apesar de cometer alguns equívocos entre decisivos e gritantes.
Já é conhecido o rolo compressor de suas intenções de poder, mas para isso ele filiou ao partido figuras como Sukita em Capela e Laércio Passos em Rosário do Catete.
Ele não fez nada mais do que o óbvio, legítimo e oportuno quando lançou-se em 2022, mas enfrentou uma figura pessoalmente vista como mais leve, no páreo a mais tempo e mais suscetível a compartilhar poder e que além disso tudo, sobrinho do primeiro suplente do senador petista.
Se Belivaldo assim decidisse, Rogério seria o candidato do grupo e todas as críticas ferrenhas que começara a fazer contra o governo do PSD nem engrenariam.
Fábio Mitidieri, que votou contra o impeachment da presidenta Dilma, se elegeu com bolsonaristas ferrenhos como Laércio Oliveira. Já Rogério, teve o apoio de Valmir de Francisquinho, do partido de Bolsonaro.
Rogério é alvo de críticas mal calibradas sobre sua gestão na saúde estadual. As fundações precisam de fiscalização e controle sim, mas em sua época ele abriu e pos em funcionamento unidades de saúde importantes do interior do estado.
Excetuando a votação do orçamento secreto, o senador é irretocavelmente influente, atuante e progressista.
Pois bem, o PT tem apenas uma vereadora em Aracaju, a professora Ângela Melo, e acaba de eleger um deputado estadual que está longe de estar entre os nomes mais badalados do partido. Perdeu nomes importantes como Francisco Gualberto, Conceição Vieira e Iran Barbosa.
Conseguiu articular filiações como as de Ibrain Monteiro e Paulo Júnior ao PV via a federação Brasil da Esperança (PT, PV, PCdoB) e ambos estão na Alese.
Parte importante da interlocução e representatividade/representação dos movimentos sociais que o PT já teve tem ido para o PSOL através de figuras como Sônia Meire, Linda Brasil e o próprio Iran Barbosa.
Em Estância o professor Dudu continua como uma liderança consolidada. Pelo interior a fora o ex-vereador de Aracaju Camilo Daniel respira, articula e mobiliza política com tenacidade e inteligência, a jovem Dandara Vieira se prepara para 2024 em Aracaju, o também jovem Aby Custódio compõem novos horizontes para o partido dos trabalhadores em Sergipe.
Sergipe legou ao novo governo Lula integrantes do MTST do PSOL e nomes já conhecidos do PT, como Eliane Aquino, Márcio Macedo e Jeferson Lima. Com um governo eleito para abarcar uma frente amplissima, mas com um Lula muito menos mudo do que nunca foi, resta ao PT também em Sergipe lidar bem com o desafio de não confundir a conquista do estado com um fim em si mesmo prescindindo/ignorando a importância da mobilização popular diante das decisões dos parlamentos e dos executivos deixando a direita eleitoral guiar o leme de um governo vencido pela esquerda eleitoral.
Embora a social-democracia ambicionada pelo PT tenha a ver com o poder, esse em si mesmo não é sinônimo desse ideal de social-democracia.
Ante a tudo isso o PT se depara com o fato de que tamanho (recursos financeiros e ocupação de espaços de poder) não é o único documento que faz uma eleição.
É preciso voltar a dialogar com a classe trabalhadora e as demais forças de esquerda de igual para igual, sem rolo compressor e com mais parcimônia na busca por espaços.
Francisco Emanuel Silva Meneses Alves é cientista social, articulista político, professor e membro da Insurgência/PSOL.
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