Promover para desmobilizar: a crônica de uma negociação fadada ao fracasso  

A campanha para a sucessão estadual deste ano teve início em meio a uma batalha campal entre o governo do estado e as diversas entidades representativas dos profissionais de segurança pública. O candidato oficial, Fábio Mitidieri (PSD), vendo o tamanho do abacaxi deixado por Belivaldo para ele descascar, tratou logo de reunir os dirigentes sindicais ainda em pé de guerra e prometeu-lhes tudo aquilo que o governador de plantão negara, com requintes de crueldade.

No âmbito da Polícia Civil – particularmente no que toca à Carreira de Delegado de Polícia -, foram firmados, dentre os outros, os seguintes compromissos: a) reestruturação da carreira; b) concessão do adicional de periculosidade; c) reposição das perdas inflacionárias entre 2014 e 2022; e d) reposição inflacionária anual.

Tá resolvido? Claro que não! O cumprimento de cada um desses itens demandará muito diálogo, articulação, empenho, cobrança mobilização e, pasmem!, enfrentamento, com consequentes desgastes para ambos os lados. Isso é tão óbvio que até o mais lunático terraplanista aceitaria como dogma. Mas como o governo poderia, querendo, dificultar, retardar ou mesmo deixar de honrar cada um dos compromissos assumidos publicamente sem levantar suspeitas de que possa ter cometido estelionato eleitoral? Simples: antes de mais nada, cooptando as lideranças sindicais para transformá-las em pelegos, figuras inoperantes e decorativas, diria até o sujeito que jura de pé junto que Lula está morto e tem alguém em seu lugar andando por aí com uma máscara feita por alienígenas comunistas.

Pois bem. Se alguém esperava empenho, luta, garra, mobilização, combatividade por parte da Adepol, para ver concretizados os compromissos de campanha, favor aguardar pacientemente mais 72 horas. Mas lembre-se que enquanto você está preso nesse loop infinito, acabando com sua saúde e vida social, familiar e afetiva em exaustivos plantões extraordinários, tem alguns sortudos nadando de braçada nas tépidas águas dos subterrâneos do poder.

Paulo Márcio é delegado de Polícia Civil, ex-presidente da Adepol, ex-candidato a prefeito de Aracaju em 2020 e articulista colaborador do Hora News.

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