Por que tanto desprezo pela educação, Fábio Mitidieri?

É preocupante quando o Governo de Sergipe convoca a “comunidade escolar” para debater sobre a onda de violência contra a escola, e na reunião, 98% dos participantes eram polícias e políticos.

Não adianta excluir a comunidade escolar desse debate.

No surto de dengue que o Brasil enfrentou, foram as escolas que realizaram campanhas educativas de combate ao mosquito. Quem estava conversando com o pai, a avó ou vizinho que não podia deixar a água parada? Os estudantes. As escolas foram multiplicadoras de saberes. Ajudaram o Brasil a enfrentar a dengue que matou muita gente, inclusive minha sobrinha de apenas 13 anos de idade.

Na pandemia da Covid-19, o primeiro setor a fechar “as portas” e se isolar foi a escola e também foi a último a reabrir. O shopping, o cinema, a igreja, os motéis, reabriram antes delas. Lembram?

Com as escolas fechadas, com aulas remotas que foram apenas para não desistir da educação, fomos engolidos por uma onda de fake news sobre a pandemia. Por que não conseguimos frear tanta desinformação? Porque nossas escolas, multiplicadoras de conhecimento, estavam fechadas. Os nossos estudantes e professores estavam sobrecarregados com tantas horas conectados tentando sobreviver a um isolamento e enterrando nossos entes queridos.

Após essa onda de ataque, especialistas do Brasil propõem escuta ativa nas escolas e orientam que ações de acolhimento pós-traumático devem envolver toda a comunidade escolar.

A coordenadora-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Andressa Pellanda, pontua que para combater a violência extremista nas escolas, é necessário fortalecer os grêmios estudantis, as associações de pais, responsáveis e os conselhos escolares como meios de mobilização. Além disso, é importante aprimorar as disciplinas de humanidades, incluindo abordagens antirracistas, feministas e emancipadoras.

Andressa ainda aponta solução ao governo brasileiro, “deve priorizar a construção de redes de apoio e convívio nas comunidades, o fortalecimento de profissionais, estabelecimento de investigações de inteligência que rastreiem lideranças e métodos de cooptação e a derrubada judicial desses grupos”

E o que cabe ao Governo de Sergipe? Primeiro, entender que esse debate é de dentro da escola para fora. Então, não tente maquiar uma reunião dizendo que está ouvindo a comunidade escolar. Neste momento, tenham um pouco de noção. É o mínimo que estamos exigindo de vocês que estão nos gabinetes cercados de assessores.

O Governo de Sergipe deve fazer as intervenções, urgentes, que forneçam segurança psicológica e física e envolver os pais e a comunidade, transmitindo esperança. É essencial oferecer orientações sobre onde as vítimas podem buscar suporte de longo prazo. Todos os profissionais que prestam assistência precisam saber como lidar com crises, desastres e traumas.

Unam forças! A escola, o maior campo de conhecimento, suplica por socorro e não por exclusão.


Gleice Queiroz é jornalista, especialista nas áreas de política, educação e dados, ativista da escola e da comunicação pública, e mestranda em Comunicação pela UFS.

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