Em um grupo de médicos no WhatsApp, desses onde se fala de um tudo, recebi uma acusação patologizante: “Esquerdopata”! Em Sergipe, o bolsonarismo é dominante entre os médicos.
Em alguns deles, a crença política assumiu ares de fanatismo. São de uma extrema direita ostensiva, sobretudo nas esferas econômica e dos costumes.
Como é uma moda recente no Brasil, é uma extrema direita rude e simplória. Ainda não tiveram tempo para um aprofundamento doutrinário. São dublês dos supremacistas brancos! Milicianos de jaleco!
Não existe espaço para a troca de ideias. Quem pensa diferente é considerado esquerdopata! O debate político descambou para o campo patológico.
O psicopata é um indivíduo clinicamente perverso, antissocial, sem remorsos, com distúrbios mentais graves.
E o esquerdopata, vem de onde? Consta no Código Internacional das Doenças – CID?
Na fundação da psicanálise, houve um intenso conflito entre o judeu Sigmund Freud e Carl Jung, notório simpatizante e colaborador do nazismo.
Freud defende que a psique humana é universal. Jung acredita que existem psiques diferentes, em distintas raças e agrupamentos humanos.
Dizia Jung: Freud não entende nada da psique ariana dos alemães, pois ele é judeu.
Nesse desvio, existe também uma psique vermelha, dos comunistas. Ontologicamente, a psique dos comunistas é desviada, criminosa, traiçoeira.
Os esquerdapatas são uma psicopatia coletiva que Olavo de Carvalho divulgou no Brasil. (Que come criancinhas)
O antissemitismo de Jung era notório, sem desmerecer a obra dele. Há uma fronteira entre o homem e a sua obra.
Esse meu colega médico do grupo de WhatsApp me acha um esquerdopata. Por enquanto, vou fazer de conta que não entendi. Não divulgarei o nome dele. Muitos colocarão a carapuça!
Eu tenho dúvidas se ele sabe o que está dizendo, ou se é somente ódio, ignorância, preconceito e fanatismo político.
Entretanto, mesmo desconhecendo o conceito de pesquerdopatas, esse meu colega apoiará sem hesitação a eliminação deles da vida social.
O enquadramento do outro, do divergente, cria uma intolerância desumanizada. Para essa milícia, o esquerdopata é um doente sem cura. Possui uma psique inferior, deturpada, que não se justifica estar livre na sociedade.
A eliminação dos esquerdopatas é um ato cívico, pensam os neonazistas. Espero que eles nunca tenham como executar este desejo. Temo pelo futuro do Brasil!
Antonio Samarone é médico sanitarista e professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
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