Onde há fumaça, há… Agronegócio

Você já deve ter ouvido e até mesmo utilizado essa expressão popular “onde há fumaça, há fogo”, uma analogia muito utilizada para configurar um sinal de problema seja ele de qualquer natureza. Pois bem, amigo leitor te convido para juntos refletirmos sobre vários focos de fumaça, originados em diversos âmbitos, aqui, especialmente o ambiental.

Não sei se você sabe que o nosso rico Brasil possui a segunda maior cobertura vegeta do planeta, nossas florestas promovem toda a regulação hídrica e o desmatamento/queimadas apresentam-se como as principais fontes de emissão de carbono na atmosfera segundo a Organização das Nações Unidas. Entre 2010 e 2015 perdemos 6,5 milhões de hectares/ano de floresta, cenário que levou a pauta a ocupar espaço nas discussões dos Fóruns Globais inclusive no Fórum Global de Desenvolvimento Econômico, preservar é mais lucrativo que degradar.

Como principais causas para o favorecimento do cenário devastador são apontados a agropecuária em larga escala, onde 70% da destruição das florestas atribui-se a agricultura comercial principalmente nos países tropicais e subtropicais, o corte de madeira ilegal e as queimadas. Nessa dinâmica o Brasil perdeu 53,8 milhões de cobertura arbórea entre 2001 e 2018. Entre 2018 e 2019 de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE houve um aumento de 29,54% de áreas desmatadas em relação ao período de 2017-2018 com crescimento no número de focos de queimadas que aumentou 84% no período de 2018-2019. A devastação avança inclusive em áreas de proteção ambiental, áreas estas, protegidas por Lei.

Todo esse descaso com o Patrimônio Natural brasileiro, trás a reboque sanções internacionais a exemplo da suspensão de repasses da Alemanha e da Noruega para o Fundo Amazônia.

Todos os nossos biomas – Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, Pampas, Pantanal, Amazônia – estão com nível altíssimo de devastação. Assistimos incrédulo pelos noticiários a nossa fauna e flora se transformar em fumaça. Os gestores em escala Federal, Estadual e Municipal há anos se omitem e não priorizam as questões ambientais, questões estas que insisto em dizer são de saúde pública, preservação da própria existência humana. É de notório conhecimento que as queimadas no Brasil ocorrem desde a década de 1970, quando ficou conhecido o seringueiro Chico Mendes por se tornar um dos ativistas ambientais mais conhecidos do planeta, sendo reconhecido pela ONU com o prêmio Global de Preservação Ambiental, toda a sua luta contra o desmatamento e enfrentamento aos ruralistas para a preservação da floresta culminou com seu assassinato em 22 de Dezembro de 1988, ato que matou o homem, porém, não matou o nome de Chico Mendes que ecoa em todos os cantos quando se pensa e fala em legado para a preservação do meio ambiente. Em 28 de agosto de 2007 foi criado o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade pela Lei 11.516.

Voltando ao nosso choque de realidade, mais de 2,3 milhões de hectares do Pantanal já foram consumidos pelo fogo em 2020, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial), área correspondente a quase três vezes a região metropolitana de São Paulo — ou dez vezes a área dos municípios de São Paulo e Rio Janeiro somados. O Instituto calcula que aproximadamente 15% da área do Pantanal foi consumida pelas chamas.

Dito tudo isso, nos pegamos muitas das vezes nos questionando o que temos a ver com isso, qual o meu papel em toda essa catástrofe ambiental? Precisamos nos perceber co – responsáveis por todos os acontecimentos dessa nova era denominada por vários cientistas como Antropoceno – a era do Homem – na medida em que consumo por exemplo “carne bovina” sem nenhuma preocupação com as consequências desse consumo, contribuo com o desmatamento, estamos perdendo floresta duas vezes para a criação de gado em larga escala, um para criação de grandes pastos, dois para plantio de grãos para alimentar gado.

Então o convite aqui é para o Consumo Consciente, não estou sugerindo que você caro leitor seja vegetariano ou vegano (se assim desejar, ótimo), mas, para uma mudança de postura na redução do consumo, comece com o movimento @segundasemcarne já tá valendo. Segundo ponto, seja cidadão, participe, cobre, fiscalize, exija que as Leis sejam cumpridas, observe em quem vota pois este será o seu porta voz para a elaboração de políticas públicas em escala Federal, Estadual e Municipal. Por último e não menos importante adquira produtos de empresas que são efetivamente sustentáveis desde a exploração dos recursos naturais, processo de produção, distribuição, embalagens e descarte com produtos cada vez menos agressivos ao ambienta visite o site akatu.org.br e veja as dicas para ser um consumidor consciente. Lembre menos é mais e nada muda se você não mudar. Fique ligado no próximo artigo sobre Extinção da Vida. Até lá.


Luciana Rodrigues de Morais e Silva é graduada em Turismo pela Universidade Tiradentes, especialista em Meio Ambiente, mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe, doutoranda em Saúde e Ambiente pela Universidade Tiradentes, professora universitária e articulista do Hora News.

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