Na era digital as pessoas passaram a ter acesso direto a todo tipo de conteúdo e informação por meio da internet e outras tecnologias de informação e comunicação.
O poder da internet, é muitas vezes chamado de Quinto Poder, como uma evolução do Quarto Poder: a imprensa. Considerada o poder regulador necessário para evitar eventuais abusos dos Três Poderes do Estado (Legislativo, Executivo e Judiciário), este contraponto protagonizado pela imprensa foi alavancado com o advento das mídias sociais. Mas se antes da era digital a informação e o conteúdo eram verificados e validados, e em muitos casos também filtrados, pelos quatro poderes tradicionais, hoje o poder dos conteúdos gerados pelas redes sociais se tornaram uma das fontes mais importantes de mídia, comunicação e compartilhamento de informação que nem sempre é de qualidade ou é verdadeira.
Se por um lado internet e as redes sociais deram voz e poder a movimentos sociais e causas válidas, por outro grupos de violência com intenções tenebrosas e motivações de ódio também têm acesso ao uso destas plataformas que facilitam a geração e propagação de conteúdo. Na última década, vários movimentos ganharam força e aconteceram a partir de articulações realizadas através da internet e das redes sociais como a Primavera Árabe em 2010, o movimento Occupy Wall Street em 2011 e ao protestos no Brasil em 2013 e 2014. A invasão ao Capitólio, prédio do Congresso americano em Washington é o exemplo mais recente deste poder em ação.
Insuflados pelas desinformações e mentiras publicadas no Twitter pelo atual presidente Donald Trump desde sua derrota nas eleições americanas e por seu comício em Washington horas antes da sessão conjunta entre deputados e senadores que certificaria a vitória do presidente eleito Joe Biden, centenas de extremistas invadiram o prédio que sedia o Congresso americano provocando caos e deixando quatro pessoas mortas. Segundo o jornal The New York Times, a invasão foi organizada por redes sociais de direita onde manifestantes pró-Trump fizeram publicações e trocaram comentários nas horas que antecederam a ação nas redes sociais combinando inclusive o uso de armas de fogo.
A inegável que a internet e as redes sociais causaram uma revolução ao descentralizar e democratizar a informação, mas nenhuma tecnologia é neutra e todas sempre afetam a humanidade em algum grau. Se por um lado elas geram oportunidades e nos beneficiam de várias formas, por outro elas prejudicam e ameaçam pois, cada vez mais conectados, os usuários das redes sociais têm nas mãos o poder de produzir, distribuir e consumir conteúdo e informações, nem sempre confiáveis ou éticas, podendo se expressar, publicar, atuar, opinar, criar e influenciar outras pessoas independentemente do tamanho do grupo, da qualidade de seu conteúdo ou de seus interesses.
O risco é tão grande que nesta quinta, dia 07, Mark Zuckerberg anunciou o bloqueio das contas de Trump por tempo indeterminado no Facebook e no Instagram. Para Zuckerberg “os eventos chocantes das últimas 24 horas demonstram claramente que o presidente Donald Trump pretende usar seu tempo restante no cargo para minar a transição pacífica e legal de poder para seu sucessor eleito, Joe Biden”. Ele afirmou ainda que, nos últimos anos, o Facebook permitiu que Trump usasse a Rede Social de acordo com as regras da plataforma, embora em algumas ocasiões tivesse achado necessário adicionar alertas em alguns conteúdos. “Fizemos isso porque acreditamos que o público tem direito ao mais amplo acesso possível ao discurso político, mesmo ao discurso polêmico, mas o contexto atual agora é fundamentalmente diferente, envolvendo o uso de nossa plataforma para incitar uma insurreição violenta contra um governo eleito democraticamente”. O Twitter também restringiu temporariamente o perfil do presidente americano na noite da última quarta.
Com a quantidade de tecnologias e pessoas conectadas a internet e as redes sociais aumentando, a complexidade do mundo em que vivemos se torna cada vez maior. É, portanto, fundamental analisar, discutir e refletir sobre os impactos do Quinto Poder nesta era hiper conectada da vida em sociedade, mas principalmente é urgente agir para impedir que milícias digitais, gabinetes de ódio e teorias da conspiração absurdas, espalhem mentiras, preconceitos e desinformação nos meios digitais a ponto de gerar tendências com capacidade de modificar cenários e provocar influências e repercussões nefastas na sociedade capazes de substituir os fatos por versões que atentem contra a democracia e as liberdades individuais.
Murilo Lima é analista comportamental, coach e especialista em gestão de empresas e empreendedorismo e articulista do Hora News. Possui também formações em desenvolvimento de líderes, desenvolvimento estratégico e gestão da criatividade e inovação. Atualmente é gerente comercial da Jovem Pan Aracaju e mentor voluntário da ONG Projeto Gauss.
Comente