Estudos indicam: não há níveis seguros de consumo de vídeos pornográficos
Nunca foi tão fácil ver fotos ou vídeos pornôs. Basta um dispositivo móvel e uma conexão à internet para se ter acesso a esse tipo de conteúdo a qualquer momento. A pornografia é um dos conteúdos mais acessados da internet. O Xvideos, site mais acessado deste tipo de conteúdo, teve mais de 4 bilhões de horas de pornografia assistidas em 2016. O conteúdo sexual representa mais de 30% de todo o tráfego online e existem 25 milhões de sites pornôs, o que representa 12% de todos os sites da internet. Além disso, em 2014 cerca de 11.000 filmes de pornô hard-core foram gravados no Vale de San Fernando, no Sul da Califórnia. Um número 20 vezes maior que o número de filmes lançados de todos os gêneros juntos nos EUA naquele ano. No Brasil, dados da Quantas Pesquisas e Estudos de Mercado indicam que 22 milhões de pessoas consomem pornografia. Destes, 13 milhões têm menos de 35 anos. Os homens representam 76% dos consumidores brasileiros de conteúdo pornográfico.
Com a abundância de material pornográfico, jovens e até mesmo crianças, quase sempre conectados, começam cada vez mais cedo a ficar expostos, consumir e até mesmo produzir conteúdo sexual. Um estudo da organização inglesa ChildLine feito com 800 jovens mostrou que 75% dos meninos de 11 a 13 anos declararam já ter visto pornografia online, sendo que 30% deles o fizeram através de smartphones. Já a consultoria eCGlobal Solutions constatou que 40% dos jovens admitem já ter enviado imagens ou filmes com conteúdo sexual. Em 2017, na Conferência da Associação Americana de Psicologia foram apresentados resultados de um estudo que apontou que 64% dos jovens entre 13 e 24 anos entrevistados afirmaram procurar por pornografia semanalmente ou com maior frequência.
Graças à disponibilidade ilimitada de conteúdo sexual na internet a pornografia tem se tornado altamente viciante. Esse consumo obsessivo está associado a altos níveis do hormônio dopamina, o “hormônio do prazer”, que regula o sistema de recompensa do cérebro humano, o circuito cerebral, que se ativa quando recebemos estímulos como comer chocolate, fazer sexo, fazer compras, etc. Como uma droga, a pornografia gera uma recompensa imediata, através da masturbação e do orgasmo, que pode ser repetida várias vezes de maneira fácil, privativa e gratuita. O excesso de dopamina gera o impulso para um consumo cada vez maior levando o indivíduo a buscar mais e mais conteúdo pornográfico para manter seus níveis de dopamina elevados. Uma verdadeira dependência química que se alastra a medida que cada vez mais jovens hoje têm um celular no bolso, um tablet na mochila ou um computador no quarto.
O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, autor de “Amor Líquido – A fragilidade dos laços humanos”, que morreu aos 91 anos em 2017, já nos alertava sobre o risco de buscar prazer imediato. “As relações estão ficando líquidas, estão muito rápidas, são muito descartáveis, é o aqui agora. Do ponto de vista psicológico, vamos enfrentar consequências devastadoras porque isso faz com que a gente passe a controlar menos nossos impulsos”. Um estudo alemão constatou uma alta probabilidade de o consumo de pornografia dificultar o autocontrole, a tomada de decisões e o planejamento a longo prazo, ou seja, tornar as pessoas mais impulsivas. “Esses conteúdos destroem nossa capacidade natural de fantasiar, matam a imaginação, porque você faz amor com uma tela e com as imagens que tem na cabeça, não com seu amante, e isso é terrível”, diz a psicoterapeuta Marie Lise Labonté, autora do livro Hacer el Amor con Amor (Fazer Amor com Amor).
Os estudiosos do cérebro humano já apontam entre os vários distúrbios psicológicos causados pela dependência de conteúdo pornográfico, o déficit de atenção, os transtornos obsessivos, a dificuldade de socialização, a irritação, a ansiedade social, a depressão e mudança repentina de gostos. No Brasil, dados do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo revelam que 47% dos homens viciados em pornografia relataram ansiedade ou fobia social e 36% relataram distúrbios de humor como depressão e agressividade.
Com os aplicativos de encontros não é diferente. Criados para combinar perfis, a partir de gostos e interesse em comuns entre homens ou mulheres associados à sua geolocalização, apps como o Grindr são considerados por muitos o caminho mais curto para satisfação direta e imediata com a troca de conteúdo pornográfico. Para Luli Radfahrer, professor-doutor de comunicação digital na Universidade de São Paulo (USP), tanta pressa se deve ao clima mercadológico dos sites e aplicativos. “As pessoas estão expostas como mercadoria em gôndola de mercado”.
No ar há mais de 20 anos, o canal a cabo pornô Sexy Hot divulgou dados de uma pesquisa realizada em 2018 para traçar o perfil de quem consome pornografia no Brasil. Perguntados sobre quais os principais motivos para assistir a vídeos pornôs, os entrevistados declararam usar o conteúdo como uma válvula de escape em casos de desilusão, solidão ou carência. A internet e suas diversas distrações, entre elas o sexo, seriam um alívio eficaz para as “dores de alma”? A busca desenfreada pela sensação física e o prazer seriam realmente suficientes para aplacar a sensação de vazio ou a angústia excessiva? Para a psicóloga Dora Sampaio Goes, do Grupo de Dependências Tecnológicas do Hospital das Clínicas em São Paulo, “com as tecnologias estamos tentando nos adequar a uma nova realidade, mas não sabemos como”. Gary Wilson, especialista em neurociência do sexo, que criou o termo “zumbi sexual”, afirma que “os jovens não sabem a hora de parar de consumir pornografia. Muitos descrevem que veem imagens pornôs durante as aulas. Vários revelam já ter se masturbado em público enquanto assistiam pornografia pelo celular. Mal começaram a vida sexual e seus cérebros já estão condicionados ao pornô”.
A conclusão dos estudiosos é que, se você consome pornografia regularmente, existem duas possibilidades: ou você já está viciado ou corre o risco de ficar. Sem a investigação das angústias, sem o olhar para dentro, sem o questionamento pessoal e a busca pelo autoconhecimento e autodesenvolvimento não é possível administrar da melhor maneira o capital afetivo, emocional e erótico e se desvencilhar de maus hábitos mentais. Ao se arriscar pela terra sem lei da pornografia online onde muitos se observam, se avaliam e todos são objetos de desejo sexual, é bom ter em mente a advertência de Caciano Camilo Compostela, Monge Rosa Cruz: “onde estiver seu coração estará teu tesouro, onde você mantiver seus olhos penetrará também teu poder; não se trata de pecado, mas de causa e efeito. Sem dogmatismo, igrejismo ou beatice. Acautela-te! O sexo é divino e necessário, mas o vício um obscuro abismo como qualquer outro”.
Ouse Ser Melhor.
Murilo Lima é analista comportamental, coach e especialista em gestão de empresas e empreendedorismo. Possui também formações em desenvolvimento de líderes, desenvolvimento estratégico e gestão da criatividade e inovação. Atualmente é gerente comercial da Jovem Pan Aracaju e mentor voluntário da ONG Projeto Gauss. Desde 2012, conduz processos de desenvolvimento pessoal e profissional para empresários, líderes e jovens promissores, visando a expansão de competências, incremento de resultados e aprimoramento do ser.
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