O Legado verde de Marcelo Déda e o clamor da natureza sergipana

Como as Unidades de Conservação estaduais são essenciais para o futuro ambiental de Sergipe — e o desafio urgente de garantir gestão eficaz e permanente.

É impossível falar sobre as Unidades de Conservação em Sergipe sem lembrar de Marcelo Déda, ex-governador que foi pioneiro e visionário na criação dessas áreas protegidas no estado. Déda foi um gestor comprometido com o meio ambiente e com o futuro dos sergipanos. Sua política ambiental colocou a conservação da natureza como prioridade de governo — uma postura que infelizmente não foi mantida com a mesma intensidade por seus sucessores.

Das seis Unidades de Conservação estaduais existentes em Sergipe, cinco foram idealizadas por Marcelo Déda entre 2007 e 2009, o que demonstra seu compromisso profundo com o desenvolvimento sustentável e a proteção da biodiversidade sergipana. Por tudo isso, é urgente termos mais gestores com o pensamento conectado ao de Marcelo Déda — que não pensava apenas no presente, mas nas gerações futuras, deixando como herança um modelo de desenvolvimento sustentável e comprometido com o equilíbrio ecológico de Sergipe.

O mês de junho marca a celebração da Semana do Meio Ambiente, um momento importante para refletirmos sobre as conquistas e, principalmente, os desafios que Sergipe enfrenta para garantir a conservação de seus ecossistemas e sua biodiversidade. O estado possui seis Unidades de Conservação estaduais, fundamentais para a proteção de biomas como a Mata Atlântica, a Caatinga, além de manguezais, restingas, estuários e áreas costeiras. Entre as unidades, destaca-se o Monumento Natural Grota do Angico, criado em 2007, que preserva um importante trecho de Caatinga e também carrega um grande valor histórico, sendo o local onde Lampião e parte de seu bando foram mortos em 1938.

Na capital, a Área de Proteção Ambiental (APA) Morro do Urubu protege o último fragmento relevante de Mata Atlântica em Aracaju, resistindo à crescente pressão urbana e funcionando como um respiro verde para a cidade. No litoral sul, a APA Litoral Sul tenta cumprir papel essencial na preservação dos manguezais, estuários, restingas e praias, protegendo não só a biodiversidade, mas também os modos de vida de comunidades tradicionais, que dependem diretamente desses ecossistemas. No interior, o Refúgio de Vida Silvestre (RVS) Mata do Junco abriga espécies ameaçadas, como o macaco guigó, e protege importantes remanescentes florestais, essenciais para a conectividade da fauna e para o equilíbrio ambiental da região.

Outra área relevante é a Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) Mata do Cipó, que conserva fragmentos significativos de Mata Atlântica e protege nascentes fundamentais para os recursos hídricos da região. Mais recentemente, em 2020, no governo de Belivaldo Chagas, foi criado o Parque Estadual Marituba, no litoral norte. A unidade tem como objetivo proteger ecossistemas costeiros de alta relevância, como manguezais, restingas e um importante aquífero que abastece a região, além de garantir a conservação da biodiversidade local.

Apesar dos avanços significativos na criação dessas unidades, a realidade da gestão ambiental ainda está muito aquém do necessário. Embora existam formalmente gestores designados, sua presença efetiva e diária nas unidades é rara ou praticamente inexistente. Não são poucos os relatos de visitantes, pesquisadores e turistas que chegam às unidades e não encontram profissionais para oferecer orientação, acompanhamento ou informações técnicas. Essa ausência não compromete apenas o atendimento ao público, mas também prejudica a fiscalização, a educação ambiental e o próprio cumprimento dos objetivos de conservação. É imprescindível que essas áreas tenham gestores qualificados, atuando permanentemente, com estrutura adequada, fiscalização rigorosa e apoio efetivo às atividades científicas, educativas e de visitação pública.

Embora tenham ocorrido algumas iniciativas posteriores, a política ambiental perdeu força e centralidade, o que só reforça a urgência de que Sergipe retome, com seriedade, esse compromisso. O desafio não é pequeno. É necessário que o Estado invista em gestão efetiva, fiscalização constante, infraestrutura digna e valorização das equipes técnicas, garantindo que as Unidades de Conservação sejam mais do que registros no papel — sejam, de fato, territórios vivos de proteção à biodiversidade e de desenvolvimento sustentável.

As Unidades de Conservação estaduais de Sergipe são peças-chave para garantir o futuro ambiental, preservar nossos recursos hídricos, proteger a biodiversidade e assegurar qualidade de vida para as presentes e futuras gerações. Para que cumpram esse papel fundamental, precisam urgentemente de mais compromisso, mais investimento e mais ação concreta.

Como canta Fagner em sua “Canção da Floresta”: “Eu sou da floresta, eu sou da mata / Eu sou do mato, eu sou do chão…”. Que Sergipe renove seu compromisso e caminhe firme na proteção do seu patrimônio natural, com coragem e visão para as futuras gerações.


Emanuel Rocha é historiador, coautor dos livros Bacias Hidrográficas de Sergipe e Bairro América: A saga de uma comunidade. Também atua como repórter fotográfico e poeta popular.



*Este é um artigo pessoal de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Hora News.

Comente

Participe e interaja conosco!

Arquivos

Categorias

/* ]]> */