“Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”, bradou Jair Bolsonaro. Em verdade, o alerta do Jair foi o seguinte: ou eu sou escalado para jogar e ganho de qualquer jeito a partida ou não tem jogo. Ele está disposto a colocar a bola debaixo do sovaco e fechar o estádio. Resta saber se o público pagante vai deixar.
Bolsonaro se acha o dono da bola da peleja. Ameaça às escâncaras que não haverá disputa eleitoral se as regras não forem da forma que reputa lhe garantir a vitória.
Lembrei-me, nos idos da minha infância, do moleque mimado e “perna de pau” que, sendo o dono da bola e péssimo jogador de futebol, fazia chantagem covarde no palco da sua mediocridade arrogante: ou eu escolho o time que quero jogar e o juiz para garantir a minha vitória ou não vai ter jogo.
Como menino birrento e cheio de vontades, Bolsonaro bate o pé e quer porque quer o voto impresso nas próximas. Ele acusa, sem prova, que as urnas eletrônicas, as mesmas que constataram a sua vitória nas eleições passadas, são fraudulentas.
Em verdade, Bolsonaro já sente a falta do juiz que lhe garanta a sua reeleição. Sem Sérgio Moro para empenar o jogo, Jair agora exige que as eleições do próximo ano sejam a “bico de pena”, expressão usada para designar as eleições comumente ocorridas nos tempos da república velha, em que os detentores do poder político e econômico garantiam a vitória eleitoral por meio de fraude.
Bolsonaro brada aos quatro ventos e aos sete mares que tem a cumplicidade e o aval das forças armadas. Se verdadeiro, é muito preocupante. Isso porque, tradicionalmente no Brasil, que tem a força das armas não precisa da força do voto.
A grave ameaça lançada por Bolsonaro tem nome e endereço: o Congresso Nacional. Se o parlamento federal não mudar a legislação para aprovar o voto impresso, Ele fecha o Congresso e acaba o jogo democrático.
E se o Supremo Tribunal Federal julgar inconstitucional? Bem, aí ele também fecha o STF, com um cabo e um soldado, e ponto final.
Henry Clay Andrade é advogado e ex-presidente da OAB de Sergipe e articulista colaborador do Hora News.
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