O Dia de Finados

O Dia de Finados é conhecido como um feriado dedicado aos que já faleceram. Desse modo, seus entes queridos visitam os túmulos e, em geral, os decoram com flores. Muitas vezes, velas são acesas em menção as luzes dedicadas aos espíritos dos que se foram seguidas de orações em sua homenagem. Por outro lado, o nascimento de um ser humano é celebrado devido a mais uma vida que se inicia e os cuidados com o novo membro social é visto, por todos, como uma continuidade da espécie. Nesse sentido, o Estado é visto como um membro complementar e norteador da conduta cuidadora da sociedade, devendo garantir os meios necessários para a garantia da sobrevivência de cada indivíduo.

Contudo, o surgimento do coronavírus evidenciou o descaso do Governo Bolsonaro com a vida dos brasileiros, diante da pandemia da Covid-19. Digo isso, frente à postura irresponsável do detentor do poder em relação às mazelas que enfrentamos diariamente, e, assim como você, lamento profundamente as perdas das muitas vidas humanas. Deste modo, não poderei e não deixarei de expor o meu repúdio sob a ausência do compromisso público desse autoproclamado “homem de bem”.

Com isso, reafirmo o meu engajamento com os Movimentos Sociais da Saúde, nos quais atuo enquanto militante e onde tive a honra de ser eleita conselheira municipal de saúde de Aracaju/SE, no ano de 2015, atuando como 1ª secretária da mesa diretora desse importante colegiado deliberativo, apesar de ser professora de sociologia. Posteriormente, trabalhei como secretária executava do Conselho Municipal de Saúde de São Cristóvão/SE e atualmente, na condição de cidadã e cientista social formada pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), tenho acompanhado atentamente os desdobramentos da pandemia nas três esferas governamentais. No âmbito nacional, o Governo Federal se recusou a seguir as orientações da Organização Mundial da Saúde, estimulando os contatos interpessoais, comerciais e como se não bastasse, o presidente da República afirmou sem pudores que milhões de pessoas iriam morrer devido à “gripezinha”, que segundo ele, não o atingiria drasticamente devido ao seu histórico de atleta.

Quando deveria servir de exemplo nos cuidados contra o vírus que já vitimou mais de 155 mil pessoas, o eloquente mito presidencial fez chacota com a dor alheia, perseguiu os governadores que se posicionaram de forma favorável ao fechamento do comércio e restrição da circulação social, os combatendo na tentativa infundada do retrocesso sanitário. Além disso, o presidente fake news da gestão faz de conta, atestou sua incapacidade administrativa e política na condução do Brasil por caminhos mais seguros frente à pandemia, liberando apenas 8,5 bilhões de reais, quando deveria ter repassado 29,5 bilhões aos Estados brasileiros. Os municípios, por sua vez, direcionaram seus recursos para o fortalecimento das estruturas de Atenção à Saúde, dentro de suas respectivas capacidades de atuação, a fim de atender as demandas geradas pelo coronavírus na esperança de salvar vidas.

No entanto, os incessáveis esforços das equipes de saúde não obtiveram os resultados desejados devido à precarização do Sistema Único de Saúde (SUS), no concernente a visão limitada e pensamento estreito do atual presidente da República, que em 26 de outubro de 2020 assinou o Decreto 10.530 que previa o fomento da realização de “Parcerias de Investimentos da Presidência da República, para fins de elaboração de estudos de alternativas de parceria com a iniciativa privada”. Contudo, essa tentativa de articulação financeira com os empresários clínicos, confronta diretamente o direito ao acesso à saúde pública de qualidade prevista na Constituição Federal de 1988, na medida em que prevê a cobrança de taxas sob o serviço prestado. Desse modo, a privatização das Unidades Básicas de Saúde (UBS) condena a morte milhares de pessoas que não dispõem de recursos financeiros para pagamento de plano de saúde.

Por isso, discordo das atitudes inconsequentes do alucinado da caneta azul, que a cada dia, apresenta seu despreparo em relação ao cuidado eficiente e necessário voltado ao povo brasileiro. Consequentemente, precisamos nos posicionar em relação a este atentado irracional direcionado ao nosso sistema de saúde pública, visto que a participação popular nos mecanismos fiscalizadores e deliberativos, como os conselhos locais, municipais, estaduais e nacional de saúde são de suma importância nesse momento de pandemia mundial. Em razão da valorização dos profissionais que se colocam, diariamente, a frente das trincheiras invisíveis erguidas pelo vírus que hoje nos assombra. Por fim, direciono minha atenção às inúmeras famílias que perderam entes queridos, para registrar minhas sinceras condolências e aos apoiadores de Bolsonaro, me refiro para declarar meus pêsames!!!


Dandara Vieira é socióloga formada pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), professora de Sociologia e cientista social.

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