O cheque em branco das Forças Armadas ao presidente da República

O ex-ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, classificou de “cheque em branco” o uso dado pelo presidente da República ao instrumento do perdão presidencial concedido, discricionariamente, a um criminoso temporariamente travestido de deputado federal e condenado legitimamente pelo próprio STF.

A concessão, que transita entre o absurdo e o ridículo, é flagrantemente inconstitucional, conforme atestam juristas de todo o País, com exceção, claro, dos terrivelmente bolsonaristas. E mostra a capacidade do presidente de esticar a corda e chamar para o confronto os demais poderes da República, com especial predileção o Judiciário.

Na mente do ex-tenente expulso do Exército e eleito presidente com base em mentiras e ameaças, tudo pode ser feito, sem que exista amanhã. Ou na presunção de que não funcionam instituições democráticas. Mais que uma afronta ao STF, o perdão ao parlamentar condenado – ou indulto, ou “graça” – é uma provocação à sociedade, insultada, isto sim, pelo presidente quando ele mentiu sobre uma suposta “comoção social” em razão da decisão do STF. Mais, ainda, uma ameaça sobre o que pode acontecer nesse país ao fechar das urnas nas eleições de outubro.

A esta altura, é difícil não se imaginar o que se passa na cabeça sombria do presidente da República, seja qual for o resultado do pleito. Ganhando, o que as pesquisas apontam como pouco provável, aproveitaria o aval que, para ele, teria para fechar o regime e seguir com o seu sonho ditatorial. Perdendo, a julgar por balões de ensaio como essa “graça” contra o STF, é real a possibilidade de ações que fariam a invasão do Congresso dos Estados Unidos por militantes de Trump uma brincadeira de criança.

A minoria de que o presidente da República dispõe é insana, nazista e confia plenamente na ideologia macabra do líder. É gente feito o deputado federal condenado, grupos feito a base tresloucada que o presidente tem no Congresso, fanáticos feito os evangélicos de mala cheia e corrupção a peso de ouro. Esse povo aguarda o sinal do “mito” e não hesitará e se juntar à nave louca que o governo vem preparando, desde janeiro de 2018, para uma insurreição bancada pelas grandes companhias de armas e munições.

Resta esperar que o STF mais uma vez atue e derrube essa patacoada autoritária, mantendo as punições ao criminoso condenado e derrubando a “graça” do presidente da República.

Difícil esperar uma reação do atual Congresso, lotado de bolsonaristas e dominado pelo Centrão. O próprio presidente do Senado já tratou de jogar um balde de água fria em que ainda espera um mínimo de independência e compromisso democrático.

E as Forças Armadas, que pandeiro vão tocar nessa batucada? Há notícias dando conta de uma certa “euforia” dos ministros militares com o perdão dado pelo comandante-em-chefe deles a um criminoso condenado pela maior instância do Judiciário do País. Falam por todas as armas? O Exército, a Marinha, a Força Aérea vão entrar nessa barca furada como meros coadjuvantes de ditadores? Vão assinar o cheque em branco?

Tem muita gente maluca apostando nisso. A começar pelo chefe da Nação.


Gilvandro Filho é jornalista e compositor, tendo passado por veículos como Jornal do Commercio, O Globo, Jornal do Brasil, Revista Veja e pela TV Globo, onde foi comentarista político. Ganhou três Prêmios Esso. Possui dois livros publicados: Bodas de Frevo e “Onde Está meu filho?”.


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