O Brasil é um dos países com menor mobilidade social em ranking global. Foi o que revelou o Relatório do Fórum Econômico Mundial divulgado este mês. Segundo o levantamento, uma pessoa de renda baixa, vivendo no Brasil, demoraria pelo menos nove gerações para conseguir alcançar renda razoável.
Segundo o economista e professor da Unit, Josenito Oliveira Santos, a raiz do problema que impede pessoas vindas de famílias sem posses ascender socialmente no Brasil, está a concentração de renda.
“O Brasil tem a segunda maior concentração de renda do mundo, segundo o relatório da ONU em 2019. Apenas o 1% mais rico concentra 28,3% da renda total do país, ou seja, essa concentração de renda deixa poucas oportunidades para as grandes massas, principalmente, os menos favorecidos. Menos renda significa pouco acesso aos produtos e serviços. Somado a isso, a baixa renda gera baixa escolaridade, o que propicia a reprodução da situação dos pais”, diz.
O Índice Global de Mobilidade Social, examina 10 pilares: qualidade e equidade da educação, acesso à educação, saúde, instituições inclusivas, proteção social, condições de trabalho, distribuição justa de salários, oportunidades de trabalho, acesso à tecnologia e aprendizado ao longo da vida.
“Todas essas áreas são problemáticas no Brasil. A pior é a questão da qualidade e equidade na educação. Nós sabemos que poucos brasileiros, com exceção daqueles mais abastados, têm acesso a uma educação de qualidade. E todos nós sabemos que a educação é tudo. Se você não tem a educação de qualidade fica muito difícil ter oportunidade de melhor trabalho, renda e assim ter acesso aos melhores serviços”, afirma Josenito.
O economista confirma ainda que as desigualdades de oportunidades podem se tornar arraigadas com consequências a longo prazo.
“A desigualdade de renda, econômica e social no Brasil é histórica e de fato provoca divisões econômicas e, consequentemente, sociais. Os bolsões de pobreza se concentrando, principalmente, nas grandes cidades é uma realidade difícil de reverter a curto prazo”, salienta.
Distribuição justa de salários foi outro índice no qual o Brasil obteve a pior nota, 52,1 em uma escala de 100 pontos. Com os atuais R$1.045, uma família de quatro pessoas não consegue prover necessidades básicas estabelecidas na Constituição, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social.
O Dieese estima que para atender todas as necessidades seriam necessários R$ 4.342,57, ou seja, quatro vezes o salário mínimo em vigor.
“O mínimo mal contempla alimentação. As pessoas praticamente sobrevivem. Melhorar o acesso a oportunidades de aprendizagem faria reduzir os índices de desemprego, mas para isso seriam necessários investimentos público e privado. Trabalho e renda reduzem os índices de desigualdades”, observa.
Para o especialista, a baixa mobilidade e a desigualdade integram um círculo que se retroalimenta.
“Filhos de famílias pobres têm baixa renda e baixa escolaridade, herdados dos pais. Com raras exceções, eles reproduzem esse mesmo tipo de vida o que torna até uma coisa cultural, poucos conseguem ter uma ascensão. O relatório mostra essa verdade, ou seja, apenas depois da nona geração é que se percebe mudança. Existe ainda outro fenômeno que atinge as mulheres dessas famílias que acabam engravidando muito cedo. Por conta de não conseguir conciliar maternidade e aprendizagem, essas jovens entram no mercado de trabalho com escolaridade incompleta, em postos sem qualificação e salários baixos. E isso acaba virando um círculo vicioso”, conclui o economista.
Por Amália Roeder
Foto: Cesar Okada/Getty Images
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