Saúde nas Entrelinhas – Essa semana a FEMAMA (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde das Mamas) publicou informações relacionadas ao rastreamento mamográfico de forma que levou a uma confusão nacional em relação a mamografia e a vacinação da Covid-19.
Publiquei bastante sobre esse assunto nos últimos dias e ainda recebo muitas perguntas. Vou exaurir minhas forças para barrar desinformações perigosas que podem atrapalhar a realização de mamografia por quem deveria estar fazendo.
A polêmica
A polêmica girou em torno da publicação pela Comissão Nacional da Mamografia (CNM), em abril deste ano, de um documento onde sugere, dentre outras recomendações, que a mamografia seja realizada antes da vacinação ou 4 semanas após receber a vacina. O porquê dessa recomendação?
A vacina da Covid-19, assim como qualquer outra vacina, independente da marca, pode levar a inflamação de gânglios (linfonodos) da axila, reacionais ao estímulo vacinal. Alguns estudos internacionais mostraram que 10% das mulheres que receberam a vacina Moderna (nem temos essa marca no Brasil) apresentaram aumento de linfondos axilares no mesmo lado que foi aplicada a injeção. Algumas outras marcas não relataram essa inflamação como efeitos colaterais, mas algumas mulheres realmente tem queixas clínicas. Reação comum em qualquer vacina, sem novidades.
O grande Q
O câncer de mama é um tumor que pode acometer os gânglios axilares por metástases da doença levando também ao aumento deles. Existe uma enorme diferença no formato e composição do linfonodo inflamado para um linfonodo acometido por câncer de mama ou qualquer outro tumor. Na grande maioria das vezes essa diferenciação é bem simples, tanto na ultrassonografia quanto na mamografia, o que torna muito difícil confundir um linfonodo inflamado com um doente. De qualquer forma, a comissão achou por bem orientar se possível esperar 4 semanas após a vacina para realizar a mamografia, que seria o tempo para que os gânglios daquelas poucas mulheres que fazem reação a vacina voltassem ao tamanho normal. Não temos como agendar o dia da vacina, a maioria das mulheres tem sua mamografia agendada pelo SUS, o que não permite essa sincronia de agendamento, que também não é fundamental para a realização do exame. Aí começou a confusão.
Títulos de matérias sobre essa recomendação foram sensacionalistas e depoimentos de muitos médicos colocou essa recomendação como obrigação. Órgãos médicos oficiais chegaram a publicar que a vacina atrapalha o diagnóstico de câncer de mama (estou tentando me conformar até agora), o que só confundiu ainda mais a cabeça de todos, inclusive de alguns médicos que compartilharam esse devaneio até entender realmente a gravidade da situação.
Muitas mulheres optaram por não realizar a mamografia porquê foram vacinadas com a ideia que certamente apresentariam alterações que simulariam câncer!! Outras já entenderam que vacina dá câncer e outras que mamografia com vacina vai dificultar o diagnóstico do câncer de mama. Uma onda de desinformação passou construindo lógicas perigosas que serão muito difíceis de serem desconstruídas. Mas somos insistentes.
Resumo
A vacinação não é contraindicação para mamografia. Isso também está escrito na própria recomendação da CNM.
Você pode tomar a vacina e realizar seus exames de mama tranquilamente. Só avise que recebeu a vacina e a data ao médico que irá realizar seu ultrassom ou a técnica que irá realizar sua mamografia. Simples, tranquilo.
Caso você esteja com seus exames em dia e puder programar esse intervalo de 4 semanas ou fazer a mamografia antes de se vacinar ótimo, mas se não conseguir tudo certo também.
Estamos passando por um período muito delicado onde milhares de mulheres deixaram de fazer sua mamografia em 2020 e estão chegando para nós com tumores avançados. Temos que facilitar o acesso ao diagnóstico precoce e não criar contraindicações fantasiosas sobre o exame e a vacina.
Se estiver na época de fazer sua mamografia, faça !!!!!
Até semana que vem.
Paula Saab é mastologista pelo Hospital Sírio Libanês, especialista em Gestão de Atenção a Saúde pela Fundação Dom Cabral e Judge Business School (Universidade de Cambridge), membro titular da Sociedade Brasileira de Mastologia e articulista colaboradora do Hora News.
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