Que a Política está presente em tudo que o homem realiza e que todos nós somos políticos não é novidade. Há mais de 2000 anos o filósofo grego Aristóteles escreveu que o homem é um “animal político” e está afirmação continua válida, pois a Política é toda atividade praticada com o objetivo de influenciar os acontecimentos, o pensamento e sobretudo as decisões da sociedade.
Em processos eleitorais onde os eleitores menos politizados tendem a formar sua opinião pela cabeça daqueles que eles julgam mais cultos e informados, não se pode negar que líderes religiosos têm forte papel político. Mas uma pesquisa contratada pela Confederação Nacional do Transporte e realizada pelo Instituto MDA revelou no último dia 10 de maio que 78,6% dos eleitores preferem que líderes religiosos não se manifestem sobre política. Ou seja, a maioria dos entrevistados discorda de representantes religiosos que sugerem ou endossam um candidato durante época de eleições. Apenas 18,3% dos eleitores disseram que gostam de ouvir as manifestações políticas de líderes religiosos, enquanto 3,1% não sabem ou não responderam. Para o levantamento, o Instituto MDA realizou 2.002 entrevistas por telefone, entre 4 e 7 de maio. O nível de confiança é de 95,6%, e o registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) está sob o protocolo BR-05757/2022. O Instituto MDA, foi criado em 1988 e é afiliado à Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa, Abep, desde 1997.
No Congresso Nacional, a chamada bancada evangélica, que representa uma considerável força, é composta por políticos que usam sua identificação com a comunidade religiosa para eleger-se e defender seus próprios interesses na aprovação ou rejeição de leis, especialmente em matéria de costumes, como o aborto, a homossexualidade, as células-tronco, a liberdade religiosa, etc.
A infiltração da religião na política brasileira reflete uma tradição cultural perniciosa que já passou pelo colonialismo, jesuitismo, coronelismo, arbítrio e militarização do poder político. Religiosos que entram para a política com um discurso moralista e apresentam-se como aqueles que irão restaurar a ordem, tentam impor seus dogmas em todos os campos, mas não são garantia de bom comportamento, muito menos de solução para a moralidade, na política ou na vida haja visto os vários os casos de políticos religiosos que se apresentaram como bastiões da moral e têm caído em desgraça diante da sociedade por envolvimento em escândalos de todo tipo, demonstrando os efeitos danosos para a democracia e o país da crescente participação da religião na política.
Estes falsos profetas modernos de comportamento descompromissado com a moral, que pregam uma fé cega num ¨Deus cambista, “que atende os pedidos de quem der mais dinheiro as organizações religiosas que representam, têm explorado a credulidade ingênua dos menos esclarecidos e manipulado suas intenções de voto. Tais políticos religiosos parecem esquecer do ensinamento do mestre que dizem seguir que disse: ¨A minha casa será chamada casa de oração. Porém, vós a tendes transformado em covil de ladrões”.
Ninguém deve ser proibido de participar da política e a liberdade religiosa é um direito fundamental resguardado pela Constituição, mas usar o proselitismo religioso para impulsionar uma carreira política ou apresentar-se como representante político de uma religião são atitudes que desvirtuam a democracia. Ao defender interesses partidários de uma religião específica, contraria-se o princípio segundo o qual todos os brasileiros são iguais perante a lei, independentemente de raça, cor e religião.
Levar a política partidária para dentro das igrejas, utilizando-se de dirigentes religiosos para apoiar políticos e candidatos a cargos eletivos, apoiar políticos que se dizem cristãos, mas aprovam injustiças, fazem barganhas e politicagem com interesses egoísticos pessoais ou de grupos a que se ligam, não é ético e não é moral. Além disso, misturar religião e política vai contra os princípios do Estado laico assegurado pela Constituição. Somente falsas democracias toleram bancadas religiosas em seus congressos como as “repúblicas islâmicas” de países árabes, como o Irã dos aiatolás, onde a lei proíbe os cidadãos de renunciar à fé muçulmana e persegue minorias de fiéis cristãos, judeus e zoroastras.
O resultado da pesquisa mostra os brasileiros estão se conscientizando de que depende da sociedade colaborar para a construção de uma sociedade realmente democrática, justa e fraterna e que a maioria dos brasileiros não quer dar ouvidos a grupos com interesses próprios e que querem se perpetuar no poder. Tanto que entre janeiro e abril deste ano o país ganhou 2.042.817 novos eleitores entre 16 e 18 anos, que no dia 2 de outubro comparecerão às urnas para exercer o direito do voto. Um aumento de 47,2% em relação ao mesmo período em 2018 e de 57,4% em relação aos quatro primeiros meses do ano em 2014 de acordo com o TSE.
Os números demonstram que os brasileiros estão mais cientes de que recebem, direta ou indiretamente, os efeitos da política, e que é a população que paga pelas consequências de suas escolhas, sendo, portanto, a própria sociedade a maior responsável pelos males que a atingem. Cabe aos brasileiros desenvolver consciência política, buscar informação de qualidade e exercer sua cidadania, pois como ensinou o filósofo Platão ¨a desgraça daqueles que se desinteressam pela Política é serem governados pelos que se interessam.
Murilo Lima é professor, acadêmico de Filosofia, analista comportamental e articulista do Hora News. Especialista em gestão de empresas, atualmente é gerente comercial da Jovem Pan Aracaju.
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