“Máfia dos Shows: Danielle Garcia questiona atuação de promotores que arquivaram processo

A delegada Danielle Garcia, ex-coordenadora do Departamento de Crimes contra a Ordem Tributária e Administração Pública (DEOTAP), responsável à época pela investigação da operação policial conhecida como a “Máfia dos Shows”, rompeu o silêncio e nesta terça-feira fez revelações que colocam em dúvida a atuação imparcial de membros do Ministério Público do Estado (MPE).

Dois promotores que atuaram diretamente no caso e enxergaram indícios de crimes praticados pelos suspeitos, mudaram de opinião e decidiram pedir o arquivamento das denúncias contra os empresários indiciados pela Polícia Civil. Recentemente, a Justiça atendeu o pedido do MPE e determinou o arquivamento do caso, livrando todos os réus de uma possível condenação.

Em entrevista exclusiva ao Hora News TV, canal do portal Hora News no YouTube, a delegada explicou que o inquérito policial, conhecido por a “Máfia dos Shows”, foi aberto a pedido do Ministério Público do Estado, que visualizou indícios de corrupção em licitações e contratos de shows.

“No caso da “Máfia dos Shows”, o Ministério Público recebeu uma documentação e visualizando indícios de crime requisitou a instauração de inquérito policial. Então, nós instauramos um inquérito baseado numa requisição do Ministério Público. Nada sai da minha cabeça aleatoriamente por que eu sou malvada com Téo Santana e queria prejudicá-lo. A gente começou a investigação em conjunto com o MP, inclusive decidindo que nós iríamos fracionar o inquérito por que dizia respeito a licitação e contratações de vários municípios. Então, a gente faria um inquérito por Aracaju e um inquérito por cada um daqueles municípios que o Ministério Público tinha visto sinais de irregularidades. Salve engano foram instaurados mais de seis inquéritos. Como tinham prefeitos em mandatos, os inquéritos foram enviados para o Tribunal de Justiça para que o tribunal autorizasse e depois descesse pra gente dar continuidade a investigação”, explica Danielle, salientando que o inquérito partiu do Ministério Público e que não chegou a concluí-lo por ter sido exonerada da DEOTAP.

“Esse processo que foi arquivado é um de vários. Mas volto a frisar: este inquérito não saiu da cabeça de Danielle Garcia, saiu da cabeça do Ministério Público, que na época requisitou a instauração de inquérito naquele momento visualizando indícios de crimes. Aí o inquérito veio para a delegacia, quando a requisição do inquérito policial vem por parte do Ministério Público o delegado de polícia não pode dizer que não vai instaurar um inquérito. Mesmo que eu discordasse naquele momento eu teria que instaurar. Essa investigação do inquérito de Aracaju foi uma investigação bem complicada, por que lidou com quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico. Mas o que foi que aconteceu? Em 2017 Danielle é exonerada da DEOTAP e o inquérito permanece na DEOTAP. Então, eu nem instaurei da minha cabeça o inquérito e nem eu conclui este inquérito, por que sai antes da conclusão, apesar de ter manejado todas as medidas cautelares sigilosas, que foram queda de sigilo bancário, fiscal e telefônico. Sai em 2017 e agora em 2019 é que foi concluído o inquérito pela equipe que ficou na DEOTAP. A equipe entendeu que havia elementos para indiciar Téo Santana e o resto dos investigados e assim o fez”, observa a delegada.

Ainda, segundo Danielle Garcia, os promotores de justiça que visualizaram indícios de crime no início da requisição do inquérito, agora recuaram e já não enxergam mais crime nos atos praticados pelos empresários. Ela diz que os promotores que mudaram de opinião é que tem que ser questionados e não ela.

“O Ministério Público, os mesmos promotores de justiça que lá atrás requisitaram a instauração de inquérito, quando receberam o inquérito de Dra. Nadja, perceberam que há indícios sim de crime e que a gente vai denunciá-los. E denunciaram. O processo correu e ai a pergunta que tem que se fazer não é a Danielle Garcia não, talvez seja ao promotor de justiça, o que foi que fez você mudar de ideia? O que você visualizava como crime lá no início, quando requisitou a instauração de inquérito, que você continuou vendo quando denunciou, você deixou de ver para a conclusão do processo. E pediu a absolvição dos réus. Entenderam?”, questiona Danielle, acrescentando que continua vendo crime no processo, além de lamentar o pedido de arquivamento feito pelos promotores de uma interceptação telefônica, que revela vários crimes praticados pelos indiciados.

“Então, não adianta imputar a mim nenhuma responsabilidade com relação a isso. A minha parte eu fiz. E vou dizer mais: eu visualizei e continuo visualizando vários crimes ali, inclusive na interceptação telefônica que o promotor de justiça pediu arquivamento da interceptação telefônica, por que disse que não via nada ali que fosse importante para o processo. E neste ponto eu discordo. Discordo 100%. Então, a interceptação telefônica retirada dos altos. E na interceptação telefônica tem vários crimes cometidos, vários, vários e vários. E a partir dali ouve uma mudança de entendimento do Ministério Público. Acho que o promotor de justiça que atuou no caso deve explicar. Eu é que não posso explicar o que tá na cabeça de um promotor de justiça. Não adianta pessoas ligadas ao governo quererem imputar a mim, ah Danielle não sabe investigar, que as investigações de Danielle não dão em nada. Como se eu tivesse alguma responsabilidade sobre isso. A minha parte eu fiz. Se alguém mudou de ideia e porque mudou de ideia que explique. Só que eu não posso falar pelos outros”, desabafa, frisando que os promotores Jarbas Adelino e Bruno Melo devem explicar por que mudaram de opinião sobre o processo.

“É o pessoal do Patrimônio Público, Dr. Jarbas Adelino e Dr. Bruno Melo. Então que eles expliquem, por que deixaram de ver o que eles viram desde o início. E mais: existem outros inquéritos em andamento envolvendo as mesmas empresas em outros municípios, que provavelmente vão andar com outros promotores de justiça que podem ter outros entendimentos. O que não adianta é imputar uma responsabilidade que não é minha, por que a minha parte, tudo, absolutamente tudo que chegou pra mim, pra eu investigar, eu fiz tudo que devia ser feito. Todas as mediadas que vocês imaginarem de investigação foram feitas. É uma pena. Cada um tem que falar por si, eu estou falando por mim. Da minha parte tudo que estava ao meu alcance, eu fiz”, conclui Danielle Garcia com a sensação de injustiça.

A entrevista no canal Hora News TV foi conduzida pelos jornalistas Paulo Sousa e Rosalvo Nogueira.



Por Redação
Foto: Hora News TV

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