Loteria Municipal coloca famílias na roleta da miséria, denuncia presidente do Brasil Sem Azar

Em entrevista à Jovem Pan Aracaju, nesta sexta-feira (6), Roberto Lacerre, presidente nacional do Movimento Brasil Sem Azar, alerta Câmara Municipal sobre riscos sociais do jogo de azar.

O futuro das famílias em Aracaju não é mais uma preocupação, virou emergência: a cidade corre o risco de legalizar um projeto que, segundo especialistas, pode agravar ainda mais os problemas sociais enfrentados por sua população mais vulnerável.

O alerta partiu do presidente nacional do Movimento Brasil Sem Azar, Roberto Lacerre, que está na capital sergipana a convite do vereador Lúcio Flávio para participar de audiência pública sobre o projeto de lei que propõe a criação da Loteria Municipal de Aracaju.

Em entrevista ao Programa Jornal da Manhã, Lacerre fez duras críticas à proposta, de autoria do vereador Isaac Silveira, líder da prefeita Emília Corrêa na Câmara Municipal, e denunciou os impactos devastadores que o jogo de azar já provoca no país.

“Esse projeto é uma digital de sangue. Estamos falando de vidas que serão afetadas, de famílias que já sofrem com a pobreza sendo empurradas para o abismo da dependência”, afirmou.

Com experiência de mais de uma década estudando os efeitos do jogo no Brasil e no mundo, ele relatou casos reais e chocantes: suicídios, violência doméstica e endividamento extremo. Citou o caso recente de uma mãe, presa por tentar matar a filha, motivada por dívidas com apostas no famoso “jogo do tigrinho”.

“As apostas online e loterias transformaram o vício em rotina disfarçada de lazer. E o pior: estão atingindo principalmente as mulheres, chefes de família, muitas das quais recorrem ao Bolsa Família. Só em agosto de 2024, estima-se que mais de R$ 3 bilhões desse recurso federal foram parar nas mãos das casas de aposta”, denunciou.

Um dos argumentos mais usados por defensores do projeto é a arrecadação que poderia ser gerada para o município. Roberto Lacerre, no entanto, rebateu com dados.

“Sergipe perdeu R$ 844 milhões em receitas desviadas para as bets. E Minas Gerais perdeu R$ 30 bilhões em consumo no comércio local por causa das apostas. A arrecadação prometida nunca cobre o rombo social gerado”, afirmou.

Além disso, ele criticou duramente o fato de o projeto tramitar sem qualquer estudo prévio de impacto financeiro.

“Nenhum vereador apresentou dados concretos sobre receita ou despesa. Como se aprova algo assim?”, questionou.

Silêncio da prefeita gera cobrança

Embora o projeto tenha sido proposto por um aliado direto da prefeita, até agora Emília Corrêa não se manifestou oficialmente sobre o tema. Para Roberto Lacerre, o silêncio é preocupante.

“Com todo respeito à sua posição política, neste momento, o que se espera da primeira mulher eleita prefeita de Aracaju é que defenda as famílias. Essa omissão tem consequências. Não se trata apenas de uma pauta política, mas de uma questão moral. Quem está sendo afetado são mulheres, crianças, famílias inteiras”, observou.

A entrevista também abordou os impactos do marketing agressivo das apostas, em especial nas redes sociais. Ele revelou que 79% dos apostadores pertencem às classes C, D e E.

“Estamos empurrando o povo pobre para a falência emocional e financeira com anúncios 24 horas por dia no celular e na televisão”, criticou.

O especialista alertou que a liberação da loteria municipal pode abrir caminho para algo ainda mais grave: a legalização dos cassinos e bingos, hoje já em discussão no Senado.

“Estão tentando transformar o Brasil na Las Vegas da miséria. Se aprovarem tudo isso, todas as faixas etárias – do jovem no celular ao idoso no bingo – estarão sob ataque”, alertou.

Ao rebater o argumento de que “joga quem quer”, o presidente nacional do Movimento Brasil Sem Azar foi direto.

“O vício não é escolha. Ludopatia é doença reconhecida pela OMS, comparável ao vício em cocaína ou crack. O cérebro passa a agir de forma autônoma. E o Brasil sequer tem política pública para tratar essas pessoas”, salientou Roberto Lacerre, que fez um apelo à consciência coletiva.

“Aracaju tem a chance de dizer não. Dizer não ao colapso das famílias, ao colapso emocional, ao colapso financeiro. Essa loteria não será solução, será mais uma ferida aberta em um povo que já sangra todos os dias”, concluiu.

De acordo com pesquisa realizada em 2023 pelo Instituto Locomotiva, 38 milhões de brasileiros afirmam já ter feito algum tipo de aposta online ou presencial.

Desse total, cerca de 25 milhões apostam com frequência, principalmente em plataformas de apostas esportivas, as chamadas bets, segundo estimativas do mercado.

Um estudo feito pelo Instituto Datafolha, em 2023, apontou que 1 a cada 4 brasileiros adultos já apostou em plataformas digitais ao menos uma vez.




Por Redação
Foto: Miguel Benks

Comente

Participe e interaja conosco!

Arquivos

Categorias

/* ]]> */