O laboratório do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), não tem condições físicas de continuar funcionando. A conclusão foi tomada em audiência na Promotoria de Saúde do Ministério Público Estadual (MPE) na manhã desta quinta-feira, 22, levando a promotora Euza Missano a decidir entrar com uma Ação Civil Pública. Adaptado em uma pequena enfermaria de pouco mais de 20m², o local está em reforma desde 2008 e não dispõe nem mesmo de suporte para a coleta de sangue. Os laudos são feitos manualmente.
Várias denúncias foram feitas pelo presidente do Sindicato dos Técnicos e Auxiliares de Laboratório do Hospital de Urgência de Sergipe (Sintelab), Ricardo Abel Garcia de Passos e pelo advogado da entidade, Bruno Henrique Lima de Oliveira. E todas confirmadas pelas representantes da Coordenadoria de Vigilância Sanitária (Covisa), Isabel Cristina Silva, Rosiana Silva e Viviane Almeida Costa. E, até mesmo pela responsável técnica do laboratório, Debora Karlla de Melo Gomes.
Os representantes do Sintelab denunciaram a falta de EPI’s [Equipamentos Individuais] para os trabalhadores do laboratório, a exemplo de máscaras bico de pato para os exames de meningite. “Faltam materiais de rotina, como luvas, jalecos descartáveis, sem contar com todo o material de limpeza como papel toalha, sabão para higienização, pano de chão, álcool”, denuncia Ricardo Abel.
Ele disse ainda os vários problemas enfrentados pelos trabalhadores no local de repouso. “As paredes estão mofadas, a porta quebrada e sem condições de segurança. O ar-condicionado praticamente não funciona e os painéis estão amarrados com ataduras. Após a entrega do Hospital Infantil, o laboratório ficou sem segurança [guarda], o que vem causando transtornos principalmente na madrugada fazendo com que os trabalhadores corram riscos de agressões por parte de pessoas estranhas e até mesmo de pacientes”, teme.
Foi relatado ainda pelo Sintelab, que o laboratório não possui sistema operacional informatizado, sendo os laudos elaborados manualmente, podendo importar no risco de erros no momento da emissão, já que não existe armazenamento, o que descarta a emissão da segunda via. As cadeiras estão quebradas e não existe pia para que os funcionários lavem as mãos e nem mesmo suportes para colher sangue.
Vigilância
Todas as denúncias foram confirmadas pela Vigilância Sanitária, que realizou nesta quarta-feira, 21, uma vistoria no local e mesmo sem ter concluído o laboratório, adiantou alguns problemas à promotora Euza Missano.
Segundo as representantes da Covisa, “em todas as inspeções realizadas são encontradas irregularidades e na última, ficou comprovado que somente com a transferência do laboratório para um local apropriado, seria possível se manter a qualidade do serviço. Além de todas as inadequações estruturais do laboratório, existe um amontoado de arquivos de laudos, equipamentos antigos em desuso, transformando-o em depósito”.
Huse
Diante de tantas denúncias confirmadas pela Covisa, deixando a promotora e a imprensa estarrecidos, a responsável técnica do laboratório do Huse, Déborah Karlla de Mello Gomes não teve outra opção a não ser afirmar que as denúncias procedem.
Ela confirmou que a falta de EPI’s é constante e no caso da máscara bico de pato, “somente é disponibilizada quando chega um paciente com suspeita de tuberculose ou meningite, tendo o servidor que fazer a solicitação no almoxarifado”.
Quanto à falta de materiais de limpeza, Déborah Karlla disse que mesmo com o pagamento ao pessoal terceirizado (Transurh), os servidores estão tentando adequar o trabalho a uma situação difícil, quanto ao asseio e higienização, já que a disponibilização de materiais tem deixado a desejar e os demais materiais, a responsabilidade também é de uma empresa contratada.
Sobre a porta quebrada, ela destacou que a denúncia é pertinente. “O ar condicionado vazou, sendo acionada a empresa terceirizada, mas não houve solução, danificando a porta de acesso ao repouso, tendo que ser arrombada”, explica Déborah Karlla.
Sem condições
A responsável técnica do laboratório afirmou ao final da audiência, que: “mesmo com tantos transtornos, toda a equipe técnica é comprometida. De fato não há condição do laboratório no espaço atual, a estrutura física é mínima, não oferece condições de segurança e embora tenham sido realizadas adequações internas, as medidas foram paliativas. A obra está andando a passos lentos e não há previsão para o término. O último cronograma para a conclusão pela Construtora Macedo seria agosto de 2011, mas não foi cumprido”, lamenta.
A Procuradora da Fundação Hospitalar de Saúde, Lívia Bezerra e a assessora jurídica da Secretaria de Estado da Saúde, Ana Paula Santana, optaram pelo silêncio diante de todos os problemas relatados.
E a promotora Euza Missano foi enfática: “É uma situação muito grave. O MPE vai entrar com uma Ação Civil Pública, principalmente porque todas as denúncias foram confirmadas. Mas eu quero deixar claro que a população não precisa entrar em pânico. Isso porque existem os mecanismos de controle externo de qualidade”, explica.
Por Aldaci de Souza
Fonte: Infonet
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