Juiz Final

Não, não é o filme do Juízo Final. Muito menos um texto religioso.  Hoje, vamos falar do nosso “juiz final”. Sim, temos dentro de nós alguém que faz julgamento de tudo. A Psicanálise até deu um nome para ele: superego. Mas, ao contrário de ser um super-herói, o superego é uma estrutura mental responsável por introduzir as leis, os costumes, os hábitos e toda a normativa formal ou informal pertencente à família e à sociedade. Este aprendizado ocorre pela vivência e não são necessárias aulas ou explicações didáticas para este tipo de conhecimento.

A capacidade de absorver aspectos sociais é vital para a sobrevivência de todos dentro de uma sociedade e da família, mas quando em excesso traz sofrimento, conflitos internos e sentimento de culpa. Uma culpa que não é possível de ser explicada racionalmente. Todo este funcionamento acontece basicamente em aspectos inconscientes e, por isso, foge ao controle da razão.

Quando um bebê nasce, suas decisões são inicialmente muito objetivas, preto no branco. É ou não é. As gradações de cinza acontecem quando a criança vai crescendo e se permitindo entrar nos aspectos abstratos, e cada situação pede uma resposta única, baseada em todas as variáveis possíveis. Por exemplo, se você perguntar a uma criança pequena se uma pessoa que roubou um remédio para salvar uma vida deve ir para a cadeia, a resposta dada normalmente é que quem rouba deve ir preso e pagar por isso, mesmo sabendo que essa decisão foi em prol da vida de alguém. Quando as crianças crescem mais um pouco e há um relaxamento das exigências superegoicas, as respostas podem começar a variar, tentando atenuar a situação da pessoa que rouba, porque elas entendem que a vida é mais importante no contexto das regras. Adultos mais desenvolvidos também tenderão a atenuar a situação, priorizando a vida como o principal, mas tentarão criar uma forma para que a pessoa do exemplo também responda pela quebra das regras sociais.

Todas as vezes que fazemos um julgamento, temos a participação do superego. A explicação dada até agora passará a fazer sentido em sua vida se você entender que todo julgamento existente, ligado aos sentimentos, sempre terá o peso dado por nós. Outro exemplo, quando alguém diz que você está gordo/a, é feio/a ou qualquer outra opinião, a forma como é avaliada pela pessoa é o quanto isso a afetará. Se me chamam de gorda e eu acredito que estou (independentemente da realidade do espelho), o que o outro diz ressoa dentro de mim. Se meu superego é severo e rígido, ele será comigo também e o que o outro diz cairá como uma bigorna sobre mim. A definição do que é ser gordo/a é construído por mim, e seu julgamento como algo bom ou ruim também. Esse julgamento interno é o que mais nos machuca no dia a dia.

O superego deveria estar presente e desenvolvido para poder delinear estes julgamentos, mas não colocar para si tudo o que pesa e avaliações autodepreciativas. Isso é mais comum do que pensamos e a autovalorização, de uma forma cuidadosa, é algo mais difícil de acontecer, porque pede que se aceite as próprias limitações e possa suportar viver com a falta de perfeição. O mais comum é uma hipervalorização, como um funcionamento opositor defensivo à autodepreciação, construído por um modelo de ação chamado de narcisista.

O superego, quando não bem-cuidado, se transforma em um juiz severo de si mesmo, trazendo exigências impossíveis, sem fundamento na realidade, culpa sem uma origem clara, e um consequente sofrimento e paralisação da vida mental afetiva. Toda vez que se sentir acusado ou inferiorizado, questione esse sentimento. Avalie e verifique se não é resquício de um superego (seu) intensamente cobrador. Permita-se repensar o que vem em mente e ressignificar. Este é um dos processos possíveis de serem feitos de você para si mesmo. Pense e me diga se faz sentido!


Petruska Passos Menezes é psicóloga, psicanalista e articulista do Hora News e escreve semanalmente artigos sobre Comportamento e Saúde.

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