Quem busca encontrar a virtude no cenário político ou empresarial, como de resto em todos os cenários de atividades humanas, se estiver imaginando algo como aquilo que antigos e ainda preponderantes filósofos e teólogos desenharam na palavra virtú, quase um sinônimo da perfeição, restará decepcionado. Mas, todavia, se esse catador de excelências em meio às falibilidades humanas, fizer um passeio pela História, descobrirá que a virtú tem sido um objetivo inalcançável, porém, a insistência em busca-lo exime a humanidade do vício de conformismo diante do chafurdar nos atoleiros da iniquidade.
Quase nada se move no mundo sem que exista algum monetizado interesse. E isso em última análise faz mover as rodas da economia. Não é ilícita a vontade de ganhar dinheiro, nem pecaminosa a competição que existe entre os chamados “agentes econômicos“.
Todavia existem regras, códigos, regulamentos, a ética profissional entre indivíduos, ou no campo mais vasto do mundo dos negócios. São coisas fundamentais para que a atividade exercida não seja afetada e venha a colapso pelo acumulo de “espertezas”, que acabam misturando-se com ilicitudes.
Há setores como o imobiliário, por exemplo, onde a credibilidade e a confiança são fundamentais para o sucesso. Setores sensíveis como a construção e a incorporação são afetados até diante dos pequenos abalos na economia. E mais gravemente ainda quando sobre ele pairam duvidas e desconfianças.
Aqui em Sergipe empresas sólidas, geridas por empresários corretos, e um portfólio alentado de projetos bem sucedidos, entrarem em colapso em consequência de fatores externos não exatamente previsíveis.
Assim, é imprescindível que a “esperteza” não se transforme em regra.
Nas ultimas semanas um tema chegou a causar uma relativa polarização entre comunicadores. Tudo derivado da entrada em cena do engenheiro e empresário Luciano Barreto, que, na condição de responsável por grande parte dos empreendimentos imobiliários em Sergipe, e tendo como arrimo o próprio conceito pessoal que o faz liderar um expressivo segmento da economia sergipana, decidiu alertar a sociedade para os perigos de “associações“ que ampliam sua fatia no mercado. Claro, Luciano sendo empresário do setor tem os seus próprios interesses a preservar, todavia, no caso, existe concretamente o perigo de uma bolha de “espertezas“ acumuladas vir a romper-se, como aconteceu devastadoramente no mercado imobiliário da maior economia do mundo a norte-americana, que em 2008 fez as bolsas derreterem em pouco tempo e espalhou-se a crise pelo mundo todo.
Não se pode por muito tempo mascarar intenções, como o fazem algumas “associações“ que trabalham fantasiando-se, e recorrendo à maquiagem semântica, como por exemplo a expressão “sem finalidades lucrativas”. Com esse eufemismo, que é cinismo ou hipocrisia, ou as duas coisas juntas, essas ditas “associações“, escapam das exigências do fisco, driblam normas, livram-se até da própria responsabilidade técnica pelo que chegam a construir.
Essas “associações“ cresceram nos últimos anos, abrangem setores de baixa renda, que também fazem as suas acrobacias, e também as áreas de alta renda, onde não existe nenhuma vocação para a filantropia desinteressada, e os seus gestores reservam para eles mesmos vistosas parcelas do investimento feito com participação coletiva, e dão a isso o nome de remuneração por serviços prestados, ao que, poderia, honestamente, ser chamado de lucro.
As “associações“ se multiplicam pelos diversos setores, e são, na maior parte das vezes, uma forma de reunir pessoas tendo o apoio do poder público em torno de objetivos sociais e econômicos, e nisso são positivas, desde que não permitam o avanço das “espertezas”.
Há ainda um caso, entre tantos outros, merecendo ser enfocado pela sua abrangência na área política e envolvimento nos embates eleitorais. São as emissoras de rádio comunitárias, que surgem a partir de“ associações“. O propósito é acertado. Trata-se de dar voz e protagonismo às comunidades através do rádio para a abordagem de problemas existentes, ou o debate de temas de interesse local, visto que as emissoras têm raio de ação limitado, e são vedadas de participação no mercado publicitário, porque auferem favores e vantagens que as emissoras comerciais não têm, e não deveriam tê-los.
Essas associações comunitárias, evidentemente com exceções, enveredam pelos mais rasteiros bate – bocas, que deseducam e desorientam, ao invés de cumprir suas funções sociais e educativas. Seus dirigentes embolsam vantagens financeiras, e tudo ocorre debaixo do guarda-chuva protetor do poder público, atuando na suposição de ampliar a democracia, a civilidade e a participação social.
O debate em torno desses temas abrange interesses diversos, inclusive pessoais, mas, não deverá ser interrompido, sob pena de cobrir-se com um lençol de permissividade o sono tranquilo dos espertos criadores de “associações”, enquanto os associados, ingênuos ou desavisados, poderão vir a sofrer devastadoras consequências.
Luiz Eduardo Costa é jornalista, escritor, ambientalista e membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
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