“Existem rumores persistentes de um golpe de Estado no Brasil”. O Twitter e outras redes sociais começam a retomar as notícias. Eles o elevam entre comentários de alegria e outros de raiva.
É tarde da noite na Itália, tarde da noite no Brasil. Um carro é posto em movimento que dispara outros detalhes. Ele fala de reuniões secretas e depois públicas, estendidas a todo o governo. Os militares estão preocupados, o coronavírus está atingindo com força em São Paulo e no Rio de Janeiro e o confronto que já dura semanas entre Jair Bolsonaro e seu ministro da Saúde preocupa todo o país.
O presidente quer reabrir tudo e empurra para voltar ao trabalho. Os governadores confirmam a quarentena e ameaçam apelos ao Judiciário com queixas de ataque à saúde pública. Até a Suprema Corte rejeita um decreto pelo qual o presidente gostaria de impor sua linhagem para lidar com a pandemia.
Nesse clima de tensão e medo, as notícias do suposto golpe “institucional”, com a passagem de entregas operacionais ao ministro da Casa Civil, uma espécie de primeiro ministro, se ampliam. Jornais e sites brasileiros não mencionam isso. Nem uma palavra sobre as internacionais que acompanham de perto a América Latina e o Brasil.
Ao digitar o nome de Bolsonaro no Google, você também acessa o portal Defesa.net, vinculado ao Ministério da Defesa, que relata essa estranha história com um serviço exclusivo. Ele conta em detalhes o que aconteceu nos últimos dias dentro e fora do Planalto, o palácio presidencial.
O general Walter Souza Braga Netto , segundo o site, recebeu o papel de “presidente operacional”. Ele terá em suas mãos a direção e centralização de toda a administração do governo enquanto durar a crise do coronavírus. Seu título é “Chefe do Estado Maior do Planalto”.
O mesmo artigo explica que “a nova missão informal foi o resultado de um acordo principal que envolveu ministros e comandantes militares e o próprio Presidente da República”. Para muitos, relata o artigo, “a missão de Braga Netto nada mais é do que uma intervenção ou uma junta militar que coordena o governo”.
Isso é falso? Provavelmente. Ou pior: é uma almôndega envenenada lançada no caos do Brasil lutando contra o coronavírus para ver como a população reage a uma espécie de golpe branco. Existem todas as premissas para torná-lo credível. Possível, pelo menos. Mas não é assim. Nada disso.
Os ingredientes permanecem. A operação pode funcionar. No Brasil, as mídias sociais são seguidas e usadas por 200 milhões de pessoas. É preciso muito pouco para mudar as orientações. A própria vitória de Jair Bolsonaro foi baseada em montagens falsas e em vídeo. O coronavírus tornou todos mais suscetíveis.
Desde o início da pandemia, o ex-capitão rebelde do Exército tentou minimizar a extensão da infecção falando de “gripe”, “gripe banal”. Ele pediu para manter o país aberto e continuar trabalhando para evitar uma crise econômica que frustraria o crescimento tímido dos últimos meses.
Mas o mundo científico e médico, apoiado pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, deu o alarme e convidou o presidente a aplicar a quarentena obrigatória, pedindo a todos que fiquem fechados em casa.
Bolsonaro se opôs e iniciou uma batalha contra o que considerava os “inimigos” do Brasil. Um choque sorri para o que Donald Trump faz ele inicialmente contratou o principal especialista em virologia dos EUA, Anthony Fauci, a quem nomeou consultor científico para o Covid-19. A batalha se estendeu aos governadores do Rio e São Paulo, que lançaram a quarentena obrigando os brasileiros a deixar as ruas e se refugiar em casa.
Bolsonaro não desistiu. Ele permaneceu o único chefe de estado no mundo a argumentar que isso é um exagero. Apesar do aumento de infecções e mortes. Ele apareceu por aí sem proteção junto com vendedores ambulantes que pediram para voltar ao trabalho. Mas parte do Congresso e muitos soldados começaram a discordar e pressionar.
Os líderes das três Forças Armadas, de acordo com indiscrições relatadas – esses sim de sites e jornais internacionais – se reuniram várias vezes com o vice-presidente Hamilton Mourão, propondo diferentes cenários, incluindo o afastamento de Bolsonaro. Eles também garantiram seu apoio.
A coisa permaneceu suspensa sem outras consequências. Como um aviso para iniciar na batalha entre o presidente e o resto do Brasil e ver as reações. As pesquisas fizeram o ministro Mandetta conquistar Bolsonaro. É a primeira vez que o presidente sai da primeira etapa. A máquina social dos legalistas produz avalanches de postos que apoiam a ação do ex-capitão. Eles o convidam a voltar ao trabalho, a reabrir fábricas e escolas. Mas é uma ofensiva com armas contundentes.
O Covid-19 se expande e os contágios aumentam exponencialmente: 9.056 O número de mortes cresceu 290% em uma semana: são 359, de acordo com o último boletim. Embora as autoridades calculem que existem muito mais. As notícias do suposto “golpe” ajudam a criar novas tensões e confusão. E talvez chegue a um verdadeiro “golpe”.
Por Daniele Mastrogiacomo/La Repubblica
Foto: Agência Brasil/Divulgação
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