Isolamento social x bebida alcoólica: por que as pessoas estão bebendo mais?

Com bares e restaurantes fechados e eventos artísticos suspensos por conta da pandemia, muita gente precisou reinventar seus os momentos de diversão.

A mestre em Psicologia Social e professora da Unit, Flor Teixeira, diz que essa mudança de cenário altera toda rotina levando a comportamentos que antes não existiam.  

“A rotina para quem perdeu emprego ou teve atividades laborais reduzidas ou suspensas, a segunda parece um sábado, a terça ao domingo, e assim por diante. O aumento da possibilidade de ter mais dias livres, acaba gerando aquela ideia de que se pode fazer aquelas atividades que se fazia anteriormente em dias livres. Então, algumas pessoas que bebiam socialmente nos finais de semana, agora estão livres”, observa. 

Flor lembra que vivenciamos uma cultura em que há uma valorização do uso de bebidas alcoólicas, com número massivo de propaganda, de divulgação, o que faz que com a bebida esteja sempre no contexto social.

“A bebida alcoólica sempre foi associada a dois pontos contraditórios: se a pessoa está alegre, bebe pra comemorar, se está triste, bebe para esquecer os problemas, inclusive várias músicas ressaltam esses dois movimentos”, acrescenta.

A biomédica Sheila Souza conta que antes do isolamento consumia bebidas alcoólicas somente aos finais de semana, mas há três meses, os encontros presenciais em casa foram substituídos pelos virtuais que agora acontecem a qualquer dia e com isso o consumo passou a ser de quatro cinco vezes por semana.

 “Gostava de fazer pequenas reuniões em casa, sempre com bebidas alcoólicas. Hoje, arrumo tudo somente para mim, como se fosse receber os amigos. Muitas vezes fazemos ligações de vídeo e, também, brindes virtuais. O distanciamento é necessário e é preciso conscientização em massa disso. Por outro lado, o ser humano é fruto do meio que vive. E vive em sociedade. A socialização é uma prática necessária que nesse atual cenário está sendo adaptada. Um brinde (virtual) aos novos hábitos!”, diz.

Já o cosmetólogo e terapeuta capilar, Carlos Rêgo, conta que concentra as reuniões regadas à bebida alcoólica nos finais de semana, hábito que não foi alterado com a pandemia. Fã das lives de música, não perde a chance de acompanhar apresentações e para isso prepara a casa com comidas e bebidas.

“As transmissões artísticas se tornaram o principal motivo para beber. É a única coisa em diversão que se aproxima de uma festa ou contato social”, revela.

Na opinião da psicóloga Flor Teixeira, as lives são sim um incentivo, mas é preciso repensar alguns comportamentos.

“Os shows na modalidade virtual têm o objetivo de fazer com que a pessoa se sinta em um momento de lazer. E era nesse momento que se fazia o uso da bebida, mas notamos também que alguns artistas acabam exagerando no uso dessas bebidas, seja pela valorização de patrocínio ou porque realmente são acostumados a beber muito, e são valorizados por isso. Há quem utilize essas figuras públicas como referência. Entretanto, é preciso um pouco de cuidado. É importante assumir a responsabilidade social de lembrar que nem todo mundo está inserido no mesmo contexto e que eles tem sim um papel importante na disseminação de informações, principalmente, relacionadas a questões preventivas para a saúde”, alerta.

Comportamento

A pandemia por si só já ocasiona um estresse muito grande, aliado a isso tem ainda casos de crise financeira ou relações desgastadas, ou ainda a ansiedade por não saber quando é que tudo isso vai acabar. O efeito do álcool no organismo pode proporcionar uma fuga dessa realidade, mas é momentânea.

“Sabemos que as bebidas alcoólicas têm várias substâncias e cada uma vai ter um efeito no organismo. Então, durante o seu uso, causa aquela primeira etapa que é a da euforia, de que eu posso tudo.  Existem inclusive várias teorias sobre os diferentes tipos de pessoas que bebem. Tem aquele que bebe e fica rico, já tem aquele que bebe e fica chorão. O álcool tem esse poder de fazer “esquecer” os problemas, mas quando o efeito acaba a realidade volta, com os mesmos ou até com mais complicações, a exemplo de pessoas que estão até se endividando para poder comprar mais bebida. É preciso tomar cuidado em relação a isso”, considera.

Flor esclarece ainda que as comemorações, e tudo que envolve aquele momento, são benéficas, inclusive a bebida, quando utilizada de forma equilibrada. Existem vários estudos que ressaltam, por exemplo, que tomar um cálice de vinho pode ser um preventivo. O problema é que algumas pessoas não sabem fazer uso de forma moderada.

“O limite reside no equilíbrio. Se a pessoa passa a segunda, terça e quarta, bebendo, na quinta sente vontade ou falta de ingerir álcool, então é hora de acender o sinal de alerta. Mais uma vez bato na tecla de que se perceber que está perdendo controle e que esse comportamento está trazendo efeitos negativos, é hora de pedir ajuda. Muitas vezes esse inicia com uma conversa com um amigo, com um familiar, mas é importante buscar uma ajuda profissional, inclusive, Universidade Tiradentes, está disponibilizando atendimentos a toda sociedade, de forma gratuita, pela clínica de psicologia”, finaliza. 

Psicóloga Flor Teixeira, cosmetólogo Carlos Rêgo e a biomédica Sheila Souza (Foto Divulgação)



Por Amália Roeder – DRT 641-SE
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Comente

Participe e interaja conosco!

Arquivos

/* ]]> */