Instalar carregadores de carros elétricos sem normas pode ser fatal, alerta presidente do CREA

Em meio ao crescimento da frota de veículos elétricos no Brasil, uma audiência pública realizada no Ministério Público de Sergipe (MP-SE) contou com a participação do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-SE)), do Corpo de Bombeiros Militar de Sergipe (CBM-SE) e demais entidades técnicas para definir diretrizes sobre a instalação de carregadores elétricos em condomínios residenciais.

O objetivo principal é garantir a segurança das edificações frente aos riscos de incêndios associados às baterias de lítio.

A reunião resultou na inclusão de recomendações técnicas elaboradas pelo CREA-SE no Anexo L do Corpo de Bombeiros, que trata da segurança contra incêndios. Segundo o engenheiro que representou o conselho, as orientações não são obrigatórias, mas servem como referência técnica diante dos riscos potenciais envolvidos.

O CREA elaborou uma nota técnica detalhada, solicitada pela promotora de justiça Euza Missano, que alerta para os impactos das altas temperaturas geradas em eventuais incêndios com baterias de lítio.

De acordo com a NBR 15200, acima de 500°C o concreto armado pode perder até 55% de sua resistência estrutural. O aço presente nas estruturas também sofre escoamento e perde sua integridade mecânica.

“O risco é real e precisa ser comunicado. Não estamos aqui para barrar a tecnologia, pelo contrário, o CREA fomenta o uso de novas soluções. Mas é nosso dever técnico alertar a sociedade sobre os riscos, especialmente em locais que não estão preparados para esse tipo de equipamento”, afirmou o presidente do CREA Sergipe, Dilson Luiz, em entrevista à Jovem Pan Aracaju.

Carregadores mal instalados são uma preocupação

Entre os casos discutidos, foi citado o exemplo de um veículo que ficou conectado ao carregador por três dias seguidos, sem supervisão.

“Esse tipo de negligência agrava o risco de incêndios, que são de difícil combate devido à natureza das baterias de lítio. Atualmente, não há agente extintor específico capaz de conter rapidamente esse tipo de fogo”, salientou Dilson.

Além disso, o Corpo de Bombeiros destacou que, na maioria dos prédios, as viaturas não conseguem acessar as garagens subterrâneas por conta da limitação de altura, o que dificulta ainda mais o combate às chamas. A ausência de hidrantes e outros sistemas preventivos agrava a situação.

Barreiras físicas entre carros não serão obrigatórias

Uma das recomendações polêmicas que circularam recentemente – o distanciamento mínimo de 3 metros entre veículos e a construção de barreiras físicas – deve ficar de fora da futura norma nacional, conforme discutido em workshop técnico realizado em São Paulo. Contudo, cada Corpo de Bombeiros estadual terá autonomia para incorporar normas adicionais, se julgar necessário.

“Essas exigências são praticamente inviáveis em edificações já existentes. Mas outras soluções estão sendo discutidas, como a instalação de chuveiros automáticos nas garagens”, explicou o presidente do CREA, destacando que essa adaptação também é complexa e custosa.

A maior preocupação, segundo o CREA, são os prédios já construídos, que não foram projetados para suportar os requisitos de segurança necessários para os carregadores de veículos elétricos.

“O problema não é o carro em si, mas o local onde ele é carregado. Se a edificação não estiver preparada, o risco se estende a todos os moradores”, pontuou o presidente.

O futuro: regulamentação e conscientização

A expectativa é de que uma normativa nacional sobre o tema seja publicada nas próximas semanas, conforme informado pelo grupo de estudos coordenado pelo coronel Chivoldi, responsável pelo tema no âmbito do Corpo de Bombeiros nacional. Até lá, o CREA reforça seu compromisso com a orientação técnica e segura para a sociedade.

“O nosso papel é informar e recomendar boas práticas. Não cabe ao CREA proibir o uso de tecnologias, mas sim garantir que sejam adotadas com responsabilidade e segurança”, concluiu Dilson Luiz.

Com mais de 300 mil veículos eletrificados já circulando no Brasil, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE ), a urgência por regulamentações adequadas é cada vez maior, especialmente diante do desafio de adaptar estruturas antigas a uma nova realidade de mobilidade.



Por Redação
Foto: JP

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