Ideologia fluida e crise de identidade marcam campanha de Fábio Mitidieri, diz delegado Paulo Márcio

O Partido Social Democrático (PSD), do candidato a governador Fábio Mitidieri, deu seu primeiro vagido no dia 27 de setembro de 2011, quando foi aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Voraz e fisiológico desde o nascedouro, o PSD nunca se deu ao trabalho de esconder seu único e verdadeiro propósito: o poder pelo poder, mandando às favas qualquer pudor e considerações de ordem moral. 

O então prefeito de São Paulo e fundador da legenda, Gilberto Kassab, dizia: “(O PSD) não é de direita, não é de esquerda, nem de centro.” Noutras palavras, poderia se associar tanto à base do Governo quanto à oposição. Apenas para rememorar: o país, à época, estava sob a presidência de Dilma Rousseff (PT) e a oposição era formada por um consórcio liderado pelo PSDB/DEM. 

Mais de uma década transcorreu e o PSD continua o mesmo partido fisiológico, adesista e oportunista dos primeiros dias. Exemplo disso é que decidiu manter a neutralidade na disputa presidencial no segundo turno, com exceção da Bahia e Minas Gerais, cujos diretórios apoiarão Lula (PT), ao passo que em São Paulo, onde apoia Tarcísio de Freitas (Republicanos), e no Paraná, apoiará Bolsonaro. Adivinhe qual dos candidatos ganhará em cada um desses estados? 

Em Sergipe, apesar de cercado por apoiadores de Ciro Gomes (PDT) e Soraya Thronicke (União Brasil), Fábio, estrategicamente, preferiu pungar na popularidade de Lula, vinculando irregularmente sua imagem à do petista. Provocada, a Justiça Eleitoral proibiu Fábio de usar a imagem do ex-presidente durante a campanha, haja vista que a coligação que representa Lula no estado é liderada pelo também candidato a governador, Rogério Carvalho (PT). 

Mas, como todo pessedista que se preza, Fábio vem abusando da fluidez ideológica neste segundo turno. Expulso do vagão lulista por determinação da justiça eleitoral, jogou-se rapidamente nos braços do neobolsonarista Laércio Oliveira, eleito senador pelo PP de Ciro Nogueira. Paralelamente, passou a cobiçar os votos bolsonaristas do espólio de Valmir de Francisquinho (PL), atropelado pela máquina governista no primeiro turno da sucessão estadual. 

Dois fatos, porém, repercutidos nas últimas vinte e quatro horas, reforçam essa crise de identidade que bem caracteriza a campanha do candidato de Kassab e Belivaldo. Se bem explorados, tais episódios podem tirar de Fábio preciosos votos conservadores quanto progressistas, na medida em que ambos os segmentos podem se considerar igualmente lesados. E não é para menos. 

O primeiro desses fatos foi a ausência de Fábio no evento realizado no último domingo (16), no Centro de Convenções de Aracaju, que contou com a participação da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e das senadoras eleitas e ex-ministras Damares Alves e Tereza Cristina, tendo como anfitrião Laércio Oliveira. Enquanto um Laércio patriota e verde-amarelo até a medula pontificava que “não dá para nós nordestinos e sergipanos sermos rotulados de reduto vermelho”, em um universo paralelo Fábio Mitidieri cantava o hino da Internacional Socialista com os olhos marejados. 


Paulo Márcio é delegado de Polícia Civil, foi candidato a prefeito de Aracaju em 2020 e é articulista colaborador do Hora News.

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