Ano eleitoral é o período mais cobiçado pelos políticos. É a hora em que todos eles saem à “caça” de votos, batem nas portas do eleitorado, mostram projetos, fazem promessas e se autopromovem de todas as maneiras possíveis para convencer eleitores e conquistar votos.
Ano eleitoral também é a época em que jorra dinheiro dos fundos partidários nas mãos de diversos políticos mais conhecidos e já famosos, aqueles figurinhas tarimbadas da cena política brasileira.
Campanhas caríssimas e luxuosas, regadas de muita propaganda eleitoral, comícios lotados e shows já fazem parte do calendário de eventos do país. Agora, nesse 2020, com a pandemia da Covid 19 ocorrendo em plena pré-campanha política, os palcos físicos migraram quase que 100% para as redes sociais. Mas o cenário de luxo – e de gastança, propagandas, estrelismo Brasil afora – continua.
Porém, vira e mexe aparece algo diferente, algo pitoresco. Até mesmo em municípios tão acostumados a uma política tradicional – regada ao luxo, a falácia e ao coronelismo – como a cidade de Itabaiana, interior de Sergipe, é possível que algo inusitado surja.
E foi de lá mesmo que apareceu uma pré-candidata que está causando uma boa discussão política entre os eleitores, é Fabiana Pinheiro, a mulher da bicicleta.
De Bicicleta
Sem nenhum recurso financeiro, contando com a pouca ajuda de amigos para fazer material de divulgação nas redes sociais, a nutricionista Fabiana Pinheiro se desencompatibilizou temporariamente do cargo público que ocupava (ela é funcionária concursada e atualmente está lotada no Hospital de Itabaiana exercendo a função de auxiliar de enfermagem) para fazer política e percorrer todos os bairros e povoados do município em que nasceu e mora: Itabaiana. E o meio de transporte dela é uma bicicleta.
Enquanto políticos abastados andam em carros (luxuosos ou não), a pré-candidata a vereadora em Itabaiana, Fabiana Pinheiro, segue de bicicleta mesmo, a conhecida magrela, que é o meio de transporte de boa parte dos brasileiros e brasileiras mais carentes do Brasil. E por onde vá, tem gente que questiona, gente curiosa, gente que quer segui-la a pé e também de bicicleta.
“É cansativo. Desde que comecei a ir aos bairros conversar com as pessoas, já ouvi de um tudo, críticas, gente me dizendo que eu não vou ganhar, mas que vou fazer ‘barulho’. E já recebi muito apoio popular também. Pessoas que chegam a mim e comentam – por exemplo – que todos merecem a vitória, mas que eu a mereço mais porque minha luta não é de agora, é de sempre, faz parte de toda uma vida, e é verdade”.
Onde Surgiu a Bicicleta
A escolha da bicicleta, porém, não aconteceu de maneira aleatória. Este já é o meio de transporte de Fabiana. Nos trabalhos sociais mais amigos realizados por ela para ajudar e auxiliar mulheres, como o movimento “Mulheres que Inspiram”, feito para homenagear as mulheres no mês de março de 2020.
Fabiana chegou a fazer um banner e enfeitar a bicicleta e estava ouvindo todas as mulheres. Mas veio a pandemia e a impossibilitou da continuidade desses eventos. O objetivo é futuramente escrever um livro com a história de cada uma dessas mulheres inspiradoras.
Durante esse movimento, Fabiana utilizou-se dessa mesma bicicleta para percorrer as ruas de Itabaiana.
Agora, quando as pessoas a encontram percorrendo novamente os bairros e os povoados da cidade, nesta mesma bicicleta, veem nela um esforço maior do que o esforço visto em outros candidatos. Ao menos é assim que mulheres como a batalhadora Jane Clea Amaral veem Fabiana.
De Mulher pra Mulher
“Penso ser muito importante a gente ter aqui na Câmara de Itabaiana uma representante das mulheres que tenha projetos de políticas públicas para mulheres. E Fabiana tem esses projeto, tem essa trajetória. E ela também tem projetos para os acompanhantes de pacientes no Hospital. Porque hoje é difícil essa questão do acompanhante ali dentro do Hospital”, argumenta Jane.
Entre os projetos para a área de saude, a pré-candidata idealizou o “Saúde Solidária”.
Já a artesã Maiza dos Santos, do bairro de Campo Grande ressalta a importância de projetos que vejam a situação dos trabalhadores. “Eu apoio Fabiana porque ela tem projetos para os artesãos, e eu sou artesã”.
As palavras de Jane e de Maiza são compartilhadas por outras mulheres, como Lilia Nascimento, do Bairro da Torre. Ou Débora Karine e Josinete, de Queimadas. E nas andanças, vendo as mazelas do povo, Fabiana diz ter lembrado da própria infância.
Uma Infância de Luta
“Lutei muito na minha vida. Comecei a trabalhar ainda na adolescência e para ajudar em casa eu vendia frutas e bolinhos nas feiras. Apesar das dificuldades nunca abandonei os estudos e foi o estudo e a formação universitária que me proprcionaram ter uma vida melhor financeiramente. É por isso que hoje eu aconselho os jovens a estudarem e nunca desistirem de si mesmos. Venho há mais de dois anos acompanhando o cenário político de Itabaiana e creio que é preciso inovar. Sei que não tenho dinheiro para investir. Mas tenho ideias e muita força de trabalho. E também não acredito nessa política antiga, de conchavos, de negociatas”, resume Fabiana.
E finaliza com a deixa. “Muita gente me pergunta se vou continuar andando em minha bicicleta e visitando povoados. Porque é cansativo. Digo que irei sim fazer política e visitar as pessoas de bicicleta. Não é vergonha pra NINGUÉM. Ao contrário. Eu sinto que represento a maior parcela da população brasileira”. E brinca, lembrando da bicicleta que sempre a acompanhou. “Agora vou visitar os bairros com a bicicleta de minha irmã, que é mais leve. Porque a minha é muito pesada”.
Por Paula Coutinho
Fotos: Divulgação
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