Eu não queria ter sabido da morte do neto do Lula

Não queria, em primeiro lugar, porque o queria vivo, mas em segundo, porque tanto se tenta tirar deste homem, que a terrível notícia da ida de um neto, é obviamente ampliada no coração de todos nós, porque ela ceifa Lula assim como nos ceifa a alma o ver perder um pedaço de si.

Lula está preso para que se mantenha longe de nós, mas paradoxalmente, nunca estive tão perto dele como nos dias de hoje.

Não há um dia em que não pense nele, em tudo o que ele representa para a história de um povo inteiro e para minha história individual.

Longe de mim ele não está, e não há grades, portas ou trancas que aprisionem seu nome ou mesmo sua pessoa.

É medonho o que fazem com este homem, tão medonho que a dor que se sente no dia de hoje contamina o Brasil, e sentimos com ele toda a amargura de se saber que sua boca não pronunciará mais Arthur com a mesma vibração com que vibrava antes desta tragédia.

Queria Lula solto, não precisando pedir para alguém que não podemos respeitar, autorização para se despedir do neto que não mais pode se despedir do avô.

Queria Lula solto para que ele tivesse tido a chance de acalentar seu neto no colo em seus últimos momentos.

Não queria saber da despedida de Arthur da vida como soube, como lastro de uma discussão impudica sobre ser esta trágica fatalidade a passagem para Lula deixar seu martírio por alguns momentos para vivenciar a tortura de não ter sabido, na última vez que dormira com seu neto, que aquela seria a última.

Lula começou uma vida destinada a ser curta, mas a construiu com tantos tijolos fortes, que superará sua existência física, mas sei, e tenho a mais absoluta certeza disso, que muito antes deste momento chegar, vamos soltá-lo de seu suplício, e veremos o povo brasileiro botar de joelhos quem está nos causando essa imensa dor de perder um neto, porque Arthur, hoje, é neto de todos nós que sofremos junto com Lula essa amargura que o está consumindo.

Se existe alguma coisa que poderia dizer ao Lula é que eu gostaria de não ter sabido da morte de Arthur, porque queria que ele pudesse guardar esse luto assim como qualquer um de nós guardaria nossos lutos, com muito sofrimento mas amparados pelos nossos, e não trancafiados em um lugar que não deveríamos estar, não como um preso político, não como um condenado por falsos juízes.

Meu consolo é sabê-lo forte.



Cezar Brito é advogado, especialista em Direito do Trabalho, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Sergipe (OAB-SE), ex-presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB) e membro da Associação Brasileira dos Juristas pela Democracia.

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