Especialista se diz chocado com resultado e aponta valores exorbitantes em licitação da Secretaria de Educação de Aracaju

O processo licitatório 102/2023 da Secretaria Municipal de Educação, destinado à compra de notebooks e implantação do Google Workspace, em que a empresa segunda colocada foi declarada a vencedora da licitação, mesmo cobrando quase R$ 54 milhões a mais no fornecimento dos equipamentos de informática e nos serviços educacionais.

O analista de sistemas Aurélio Lima Barreto, graduado pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), se diz chocado ao ler o edital e o resultado da concorrência pública.

Para o especialista em Ciência da Computação, com mais de 30 anos de experiência profissional, o valor de R$ 143 milhões a ser pago pela administração municipal à empresa declarada vencedora é desproporcional, exorbitante.

“Surpreendentemente, ao investigar o processo licitatório 102/2023 da Secretaria Municipal de Educação, destinado à compra de notebooks e implantação do Google Workspace, deparei-me com um custo exorbitante de R$ 143 milhões. Para um projeto que poderia modernizar a educação pública, o valor parece desproporcional. Isso levanta uma questão: estamos investindo de maneira eficiente?”, questiona Aurélio, acrescentando que os números não batem.

“O edital prevê a compra de 50 mil notebooks, o que já é um número que gera dúvidas. De acordo com o Censo Escolar 2024, Aracaju tem menos de 20 mil alunos matriculados no ensino municipal e 2.500 professores ativos. Mesmo considerando todos esses usuários, os números não batem. Para quê adquirir tantos dispositivos? Além disso, as vagas ofertadas pela prefeitura em 2024 foram 9.800, tornando essa matemática ainda mais confusa”, admite o profissional, em entrevista ao Hora News.

O analista de sistemas afirma ainda que “outro ponto técnico intrigante é a escolha de notebooks, em vez de Chromebooks, que são o padrão mundial para uso do Google Workspace. O modelo de notebook escolhido, Daten DCM3D-1, custa R$ 2.390,00 por unidade. Comparado a um Chromebook, que custa em média R$ 1.400,00 no varejo e ainda menos em compras em grande volume, fica evidente que a escolha não é financeiramente vantajosa. Os Chromebooks também têm uma vida útil mais longa, de até 8 anos, e são mais resistentes, especialmente em ambientes escolares, onde a durabilidade é essencial”.

“Outro ponto crítico é o custo de treinamento contínuo incluído na licitação. Com um valor de R$ 299 por aluno, ao mês, por três anos, chega-se ao montante de quase R$ 15 milhões apenas para essa parte do projeto. Além disso, há R$ 1,5 milhões destinados ao treinamento de gestores e R$ 333 mil para formar 10 técnicos de TI. Mais alarmante ainda é a contratação do aplicativo de gerenciamento Bluedu, ao custo de R$ 7,6 milhões, sendo que ferramentas gratuitas, como o Veyon Classroom Orchestrator, poderiam fazer o mesmo trabalho sem onerar os cofres públicos”, salienta.

Para justificar suas críticas ao resultado do edital, o experiente profissional da informática fez um comparativo com um processo semelhante realizado pelo Governo do Paraná. Segundo Aurélio, o custo por aluno em Aracaju é 95 vezes maior. Enquanto o valor por usuário no Paraná foi de R$ 30,00, em Aracaju esse valor chega a quase R$ 3.000,00 por aluno.

“Para colocar essa situação em perspectiva, o governo do Paraná implantou o Google for Education para 1 milhão de alunos em 2021, com um custo total de R$ 30 milhões. Comparativamente, o custo por aluno em Aracaju é 95 vezes maior. Aplicando essa lógica à nossa realidade, o valor por usuário no Paraná foi de R$ 30, enquanto em Aracaju chega a impressionantes R$ 2.866,00 por aluno. Isso considerando aquele número de 50.000 usuários”, explica.

“Se há boa fé por parte dos responsáveis, o que resta claro é a falta de competência técnica e administrativa nesse processo. Estamos falando de recursos públicos, pagos pelo contribuinte aracajuano, e decisões como essa exigem uma reflexão urgente. A eficiência e a transparência devem ser prioridades quando o objetivo é melhorar a educação de nossas crianças”, conclui.

Em nota enviada ao Hora News, o secretário municipal de Educação, Ricardo Abreu, nega qualquer irregularidade no processo licitatório e repudia a denúncia feita na Câmara Municipal pelo vereador Isac Silveira.



Por Redação
Foto: Divulgação

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