Democracia sem lado

O planeta precisa de um novo marco civilizatório para a humanidade. Explicações e lógicas construídas nos séculos 19 e 20 não dão conta do presente e do futuro. Precisamos de reflexão atual, de unidade global, de novo marco civilizatório.

Enquanto se discute sobre direita e esquerda, a maioria esquece de um conceito que deve influenciar qualquer cidadão, independentemente da vertente política escolhida: a racionalidade. Não existe processo civilizatório quando uns subjugam outros. Portanto, não adianta ser de esquerda ou de direita se o homem não é um bom ser humano.

Embora seja apenas o termo representativo de um sistema de governo, democracia é como o ar, a água. Sem eles, não temos vida. Para que não se tornem zumbis, o povo precisa lutar por condições iguais, de modo que possa conviver pacífica e convergentemente com a sociedade que se espera moderna e civilizada.

Está na hora de desmistificar que só existe uma única forma de exercício da democracia. Democracia é quando as pessoas podem se manifestar, podem participar dos processos e da construção do rumo de uma sociedade, de um povo, de uma Nação. Por isso, não interessa ser de direita ou de esquerda. Importante é primar pela liberdade consciente.

Uma sociedade dividida entre vertentes normalmente briga por causa de políticos, quando o ideal é brigar por igualdade de direitos em itens sagrados como a educação, alimentação, saúde, segurança e moradia. Tais desigualdades ferem a democracia que queremos.

Direita, esquerda, esquerda, direita. A verdade, é que o tempo perdido discutindo rótulos, como estes, nos empurra na direção de coisa alguma. A convicção a respeito do tema deve ser firmada no sentido de que a democracia não pode ser tão elástica a ponto de permitir paz e liberdade àqueles que a querem destruir.

O Estado Democrático de Direito não passará jamais de um ilógico modismo se não nos conscientizarmos de que racismo, homofobia, xenofobia, feminicídio, misoginia, machismo, ódio, golpismo ou qualquer outro tipo de preconceito são manifestações antidemocráticas e, por isso, devem ser combatidas com o máximo rigor.

Para alcançarmos a plenitude democrática é necessário se pensar em fatos concretos. Os primeiros passos devem ser o fim dos dois pesos e das duas medidas da Justiça e respeitar, e não venerar, homens públicos. Na medida em que democracia é sinônimo de liberdade, quem a defende respeita as diferenças. O Estado Democrático de Direito não se faz com resistência. Quer resistir? Então, resista à tentação de ser intolerante.

A democracia sadia só é vista dentro das regras de respeito ao próximo, aos valores da liberdade e às autoridades constituídas. Fora disso, tudo é maligno.


Rogério Carvalho é médico sanitarista, professor universitário, senador pelo PT de Sergipe e primeiro-secretário da Mesa Diretora do Senado Federal.

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