Debaixo de uma farda e de um distintivo existem sentimentos e sonhos. Quando optamos por um concurso público na área policial, imaginamos um cenário diferenciado daquele que se apresenta aos nossos olhos. O impacto é sentido de imediato nos Cursos de Formação, independente da Polícia escolhida para fazer morada durante a vida profissional. Ao longo da atividade permeada de perigos, manter a motivação e trabalhar com eficiência diante da desvalorização do Governo do Estado com essas categorias profissionais se torna um desafio constante.
Está enganado aquele que imagina que a motivação dos policiais é despertada apenas com reconhecimento salarial. Dinheiro é importante, mas não é o único desejo quando desempenhamos uma profissão na qual arriscamos nossas vidas em defesa de pessoas desconhecidas. Os gestores à frente do Governo do Estado precisam compreender que a valorização das carreiras policiais depende do reconhecimento delas como estruturantes e essenciais ao estado democrático.
Estamos diante de um cenário eleitoral que promete disputas intensas em Sergipe. E a segurança pública precisa voltar a ser tratada como prioridade, definindo políticas públicas, corrigindo distorções e elencando prioridades que apontem para a valorização humana e profissional dos policiais. Esses homens e mulheres precisam de respeito e confiança, dignidade, reconhecimento e perspectiva promissora na profissão que escolheram seguir ainda na juventude.
Ao longo da nossa trajetória policial e sindical, a escuta ativa às aflições dos colegas que vestem farda e utilizam distintivo faz parte da rotina de trabalho. Os policiais almejam trabalhar em um ambiente institucional favorável, sendo percebidos positivamente pela sociedade, com possibilidade de construírem projetos profissionais e de vida sem o comprometimento da saúde e da integridade física, moral e emocional. Policiais buscam melhoria nas condições de trabalho, plano de saúde e odontológico. Por outro lado, as instituições precisam compreender que atrás de um trabalho bem feito, há um ser humano que precisa de reconhecimento.
Não basta o Governo do Estado selecionar os melhores talentos na área policial. É preciso manter esses profissionais motivados na prestação dos serviços à sociedade. O brilho do olhar daquele iniciante na profissão acaba sendo ofuscando rapidamente ao ingressar em um mecanismo que oprime, desgasta, sufoca e desvaloriza. Não é apenas a opinião dos mais antigos e experientes na carreira que freia a euforia dos novatos. É o cotidiano da profissão, a rotina perigosa, desgastante, a falta de prioridade do Governo para lidar com questões simples que afligem os policiais. Quando o Governo aprova reajuste salarial irrisório para a Polícia, esse é apenas um dos aspectos da desvalorização profissional gritante que permeia o sentimento do policial. Talvez por isso a falta de reconhecimento seja o elemento mais relevante nas falas dos colegas.
Valorizar os servidores públicos deveria ser obrigação constante. Não basta lembrar da Polícia no momento que o crime está ocorrendo, em datas comemorativas ou quando um policial morre em serviço. Não basta lembrar da Polícia em ano eleitoral. Queremos mais, merecemos mais. Cabe ao Governo do Estado e respectivos gestores decidirem o que farão, além de concursos públicos, para oxigenar as instituições e o efetivo policial. Os policiais seguem cumprindo suas missões. Falta o futuro governador fazer a sua parte. O povo sergipano agradece.
Adriano Bandeira é policial civil, bacharel em Direito e em Ciências Contábeis, especialista em Gestão Tributária e Planejamento Fiscal, presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Sergipe, e articulista colaborador do Hora News.
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