Como nasce uma mulher?

Das entranhas de uma mulher é que pode nascer outra. Ainda não inventaram nada igual a um ventre. É ele que nos alimenta, nos protege e nos contém. Passamos a vida toda desamparados pelo rompimento que somente uma mãe-mulher construiu. Mas ser mulher vai muito além de ser mãe. O tornar-se mulher acontece a cada novo parto e, muito além de Simone de Beauvoir, tornar-se mulher é muito mais que ter cromossomos XX.

O feminino – belo, íntimo, passivo, yin, noite, Lua, absorção e tudo o mais que fala profundo – está presente, em essência, dentro de nós, homens e mulheres. Porém, para que este feminino se realize, existe um caminho cheio de importantes descobertas que precisa acontecer. É olhar-se no espelho, transpor a visão e mergulhar no imenso profundo dos olhos em busca do que não pode ser visto.

Ser mulher, ter o poder do feminino, é uma construção que pede a entrada no desconhecido em si. Por isso, há a brincadeira de que nunca os homens entenderão as mulheres. Engodo. É só permitirem-se se ver nas suas fragilidades, fortalezas e na presença de sua mãe e em todas as outras mães.

Ao ser passivo, íntimo e profundo não se torna um ser inferior. É ser equilíbrio para a força, a atividade, a ação. É manter o desconhecido e o escuro que contrapõem ao Sol que se joga para o mundo. O amor surge da falta, daquilo que não se tem. A grande primeira perda é o ventre de uma mulher. Somente reconhecendo isso, a construção do feminino surge. Somente quando se permite aceitar a grande perda, é possível olhar para si e se tornar o ser que gera vida em toda a sua grandiosidade, fragilidade, garra e dor.

Grandes homens e mulheres cis e trans possuem este dom. Ele pode e sempre será transmutado em obras para a humanidade: o cuidado, a gestão, a criação humana. Todos esses, vindos da construção maior de ser feita, para gerar vida dentro e fora de si.  Quando uma pessoa descobre esta força interior, aí nasce uma mulher. Uma mulher que precisa se permitir sentir! Rir, chorar, amar, sofrer e desejar. É interessante como sentir nos assusta. Assusta tanto que as mulheres precisaram ser dominadas e subjugadas para não exibir esse imenso poder que causa tanta inveja, desejo e, quando não bem-elaborado, raiva e sentimentos de inferioridade.

É com este sentimento de amor e desejo de crescimento do outro e da possibilidade de um eterno autoconhecer-se que espero que possamos celebrar mais um Dia Internacional da Mulher, para que, com isso, a gente saiba confrontar toda a violência, subjugação, ódio e inferiorização do desconhecido, íntimo, sagrado e eterno. Que todas aquelas que têm o toque como dom possam celebrar a vida e o amor neste dia. Que o desejo de justiça, paz, união e cuidado esteja sempre presente e que possamos, agindo assim, resgatar o sombrio tido como assustador por ser desconhecido e habitar todos (homens e mulheres).

Que os homens possam reconhecer a diferença, se permitir amar e ser amados. Que as mulheres possam reconhecer-se no diferente e permitam-se amar e ser amadas. Que o amor sobreviva às diferenças e que possa se encontrar na paz, para gerar sempre mais fé, criatividade e vida. Feliz Dia da Mulher!


Petruska Passos Menezes é psicóloga, psicanalista e articulista do Hora News e escreve semanalmente artigos sobre Comportamento e Saúde.

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