E a indicação do empresário e político Milton Andrade (Novo) para chefiar a Superintendência da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), feita pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania), continua tendo repercussões positivas e negativas na sociedade e no meio político, após o governo desistir da nomeação por falta de consenso da bancada parlamentar sergipana.
O advogado e ex-deputado federal João Fontes, que também já foi assediado para indicar cargos políticos no governo Lula, avalia que Milton Andrade saiu como o grande vitorioso desta disputa política. Para João Fontes, ao indicar nomes para fazerem parte do governo o político acaba comprometendo a sua independência.
“Eu acho que quem ganhou neste processo foi Miltinho. Eu, em 2002, ganhei a eleição de deputado federal e quando a gente foi discutir logo no começo do governo de Lula, em 2003, com Déda, Zé Eduardo e a bancada do PT, de quem indicaria os cargos, ficou para que eu indicasse o superintendente da Codevasf. Cheguei a conclusão e disse que não queria indicar ninguém, por que eu queria ter independência para dizer o que eu penso”, salienta João Fontes, alertando que ao indicar nomes para o executivo, o parlamentar fica refém do governo, além de adquirir dezenas de inimigos.
“Quando você indica alguém termina que você fica refém da indicação, e como eu aprendi lá com Maquiavel, que cada indicação é um ingrato e 100 inimigos, por que você tem 100 amigos querendo o cargo, quando você nomeia um, nomeia um que hoje não se tem gratidão e depois ficam com raiva os outros 99. É assim que funciona e eu, na época, acho que agi corretamente”, revela o ex-deputado.
João Fontes observa que Milton Andrade iria assumir uma Codevasf quebrada, dependente apenas de emendas parlamentares, o que poderia dificultar seu trabalho a frente da Companhia e prejudicar sua jovem carreira política.
“Então, quem ganhou com isso foi Miltinho, por que a Superintendência da Codevasf está quebrada, não tem dinheiro para custeio, para consertar um trator e vive de emendas parlamentares. Foi assim que Valadares turbinou a Codevasf com emendas parlamentares e posteriormente André Moura. Mas a Codevasf não tem dinheiro para nada, e depois é muito melhor Miltinho ter outros projetos, acho que ele tem futuro no executivo, tem futuro em outros projetos muito mais interessantes do que a Superintendência da Codevasf”, reconhece João Fontes, que orienta Milton Andrade a não aceitar tal indicação, mesmo que o caso se reverta.
“É possível até que isso se reverta, se encontrem lá um consenso para poder se nomear. Eu, Miltinho, ficaria de fora desse imbróglio, que é um negócio muito complicado essas amarrações com o governo federal, com a bancada, esses compromissos todos”, aconselha o ex-deputado, salientando que a polêmica deverá servir de experiência para o senador Alessandro Vieira, responsável pela indicação do empresário.
“A indicação sempre tem que ser consensuada. E fica a experiência para Alessandro. Agora é bom colocar as coisas publicamente com a verdade. A sociedade tem que saber as coisas de forma verdadeira. A mentira tem perna curta e a mentira não enobrece a alma de ninguém”, conclui.
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