Atividade policial no Brasil: perigos e desafios da profissão

Sempre que escuto alguém próximo comentando que está se preparando para a carreira policial lembro de quando ingressei na Polícia Civil do Estado de Sergipe, instituição da qual me orgulho em fazer parte. Carregava na bagagem juvenil a determinação e a impulsividade peculiares da idade e minhas atividades estavam voltadas diariamente para proteger as pessoas, aplicar a lei e garantir a manutenção da ordem pública. Com o amadurecimento profissional, começamos a compreender de fato o quanto a profissão policial no Brasil é perigosa, estressante, mal compreendida e desafiadora.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a atividade policial é a segunda mais perigosa do mundo. Além disso, muitas vezes o policial chega ao trabalho sem saber quando terminará sua missão, além de cumprir escalas extras imprevisíveis e lidar com a pressão que envolve cada ocorrência para qual é acionado. Quando o policial brasileiro sai de casa para trabalhar, a família nunca sabe se é a última vez que está vendo ele vivo. A morte está sempre presente no contexto da profissão policial, embora sejamos encorajados a enfrentar a criminalidade e a violência cotidianas com disposição, uso proporcional da força e heroísmo.

O policial é cobrado para estar em dia com a força física, para manter o controle emocional e ter conhecimentos jurídicos que o permitam solucionar rapidamente problemas cotidianos. Ser policial é estar diante de criminosos de alta periculosidade e não poder frequentar todo tipo de ambiente. Mas é também motivo de orgulho e reconhecimento coletivo quando vamos buscar nossos filhos pequenos na escola. Ser policial é receber ligações de madrugada de amigos que acabaram de ser multados devidamente e precisam desabafar; é ouvir por horas o relato de uma vizinha que foi agredida fisicamente pelo companheiro, mas que se nega a fazer o registro da ocorrência por receio de vingança do agressor. Ser policial é frequentar velórios dos colegas que acabam sendo mortos durante as atividades profissionais ou mesmo de folga. A resiliência nos acompanha.

Por mais que haja perigos e desafios na atividade policial, é preciso reconhecer que ela é apaixonante. Ainda é pouco valorizada pela sociedade, mas impõe respeito. Aqueles que escolhem a profissão policial apenas pela estabilidade financeira ou imaginando que vão ficar ricos acabam frustrados. Aqueles que escolhem a carreira policial e não sabem trabalhar em equipe acabam isolados. A atividade policial não é para amadores, sugiro estar minimamente vocacionado antes de ingressar nessa aventura. É uma atividade espinhosa sim, porém muito recompensadora.


Adriano Bandeira é policial civil, bacharel em Direito e em Ciências Contábeis, especialista em Gestão Tributária e Planejamento Fiscal, presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Sergipe, e articulista colaborador do Hora News.

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