Além de Bolsonaro, a tarefa principal é derrotar as suas variantes!

Entramos o ano de 2022 com várias pesquisas eleitorais devidamente registradas no TSE, que além de garantir a liderança isolada de Lula, ainda o consagra com o dobro de votos do 2° colocado, que não por acaso é o atual presidente da república. O mais interessante dessas últimas pesquisas, no entanto, é perceber que Lula vem crescendo substancialmente no eleitorado evangélico e, dependendo do posicionamento que adotará na sua tática eleitoral, tem a possibilidade de ser vitorioso ainda no 1° turno.

Enquanto Lula vem consolidando a sua liderança no campo progressista, do outro lado, a onda conservadora continua forte. Seria praticamente impossível que qualquer outro candidato em qualquer outro país do mundo sobrevivesse ao caos em que esse Governo está submetido. São mais de 100 pedidos de impeachment, diversos escândalos de corrupção, nenhum planejamento para o crescimento econômico e uma gestão da pandemia completamente negacionista. Mesmo com toda essa avaliação negativa do Governo e do presidente, há uma base sólida de seguidores – cada vez mais raivosa e barulhenta – que o coloca no jogo, somando uma média 30% de popularidade.

Para derrotar Bolsonaro, é fundamental a habilidade em construir uma frente ampla com alianças que consigam atrair importantes colégios eleitorais e, além disso, provocar rachaduras dentro da base social e política que lhe dá sustentação. De certa forma, o próprio governo já começou a ruir, visto que foi formado por uma coalizão de forças sociais que já não tem mais a unidade que tinha em 2018 e 2019.

A ala lavajatista rompeu com o governo no ato da saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e o núcleo mais radical foi abandonado por conta do inquérito dos atos antidemocráticos. Já o agronegócio vive um dilema, pois apesar de aplaudir o presidente nos seus discursos de defesa das armas, contra a reforma agrária, os territórios quilombolas e indígenas; o apoio integral desse setor não é mais uma realidade, devido a radicalização do governo sobre a política externa, que afetam diretamente o mercado desse setor. Além disso, a adesão do Centrão ao núcleo duro de sustentação do Governo retira qualquer proposta de moralidade que esse bloco político ainda tentava cultivar.

Mesmo com essas rachaduras, o PT e Lula sabem que a disputa de 2022 é crucial para a história do país e que os setores mais radicais da extrema direita não entregarão tão fácil a faixa presidencial. É Justamente por isso que o Partido dos Trabalhadores tem construído uma tática eleitoral que projete uma vitória maiúscula de Lula.

Para atrair os setores do centro, Lula vem buscando o diálogo com várias lideranças políticas; e para consolidar um forte palanque em São Paulo, atraiu Geraldo Alckmin para o PSB e provavelmente o escalará para ser o seu candidato a vice-presidente. Alguns analistas políticos dão conta que essa aliança não repele o eleitorado de Lula e, ao contrário, o faz crescer substancialmente no estado de São Paulo.

Mas não é novidade pra ninguém que o golpe de 2016 tinha como objetivo implementar uma política neoliberal. É tão verdade que no período anterior ao impeachment, o PMDB apresentou uma proposta econômica para o Brasil, chamada de Ponte para o futuro, que já abordava como perspectiva as reformas neoliberais que Temer viria a fazer e que, pouco tempo depois, seriam   aprofundadas pelo Governo Bolsonaro. A grande questão das eleições de 2022 será a continuidade ou não dessa política econômica. Nesse sentido, o debate eleitoral perpassa não somente pela política de alianças, mas pelo programa político que Lula e o PT apresentará para a sociedade.

Mas, o maior desafio de 2022, não é apenas derrotar Bolsonaro nas urnas, mas também derrotar o Bolsonarismo e o crescimento da extrema direita pelo país. É preciso levar em conta as variantes que o bolsonarismo potencializou em todo o Brasil, como as milícias- que dominam mais de 60 por cento da cidade do Rio de Janeiro e vem se espalhando por todo o país- e as organizações mais radicais e violentas vinculadas a ideias neonazistas, que segundo matéria exibida pelo fantástico em 16 de Janeiro, cresceu mais de 300% em todo o país.

É justamente por compreender que há algo maior que Bolsonaro, que a vitória eleitoral não deve ser apenas de Lula, mas do conjunto dos setores democráticos. O maior ensinamento desde Junho de 2013 é a existência da disputa política fora das casas parlamentares e dos palácios. Essa disputa está e estará nas ruas, consequentemente, é preciso que o programa político também esteja. Ele deve ser amplamente debatido e entendido pela população, pois é isso que garantirá a elaboração da linha política e, consequentemente, a base social para a sustentação do novo governo frente as investidas da extrema direita.

Lula deu um indicativo do programa político que adotará quando falou sobre a revogação da reforma trabalhista, seguindo o exemplo da Espanha. Em vários momentos e em vários discursos, o tema da soberania nacional também está em evidencia, e logicamente, isso é uma demonstração de que Lula não está somente na oposição ao governo Bolsonaro, mas principalmente, está em oposição a essa política entreguista. Mas a fórmula da política econômica mais interessante, diga-se de passagem, é colocar como ideia central do futuro governo a concepção de que o pobre deve ser incorporado no orçamento, como Lula costuma enfatizar nos seus discursos.

Ter essas questões como basilares de um futuro governo faz acreditar que teremos uma retomada do investimento público na economia, associado as políticas de distribuição de renda e acesso ao crédito. Tudo isso sem retirar direitos, ao contrário, revogando as reformas que retiram os direitos.

As pesquisas indicam uma esperança para o campo democrático brasileiro e mesmo com todos os riscos que a extrema direita possa oferecer, com exemplos que vão desde a possibilidade de desestabilização -criando ondas de violência pelo país- ao exemplo do que houve no capitólio dos Estados Unidos, o medo não existe como sentimento nos que sonham com a justiça social. A história é longa e um período de 4 anos de crescimento da extrema direita não resumem a história do país e os desejos do povo brasileiro. A civilização vencerá a barbárie e em 2022 o Brasil se reencontrará com a esperança.

Viveremos e Venceremos!


Camilo Feitosa Daniel
é cientista social, mestre em geografia e militante social.

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