Desde 2022, a deputada estadual Kitty Lima tem sido alvo de ataques sistemáticos nas redes sociais. Não se trata de uma crítica pontual ou de um embate natural no jogo político. O que está em curso é um ataque orquestrado, que se intensifica sempre que ela alcança um novo espaço de protagonismo. Agora, com o convite para a vice-liderança do Governo na Assembleia Legislativa, o script se repete. Mas por quê? O que torna Kitty Lima um alvo constante?
A resposta nunca é única e simplista, mas com certeza passa pela confluência de dois fatores: a força da causa que ela representa e a dificuldade de muitos em aceitar uma mulher em posições de poder.
A causa animal, há muito tempo ignorada pelos grupos tradicionais, tem ganhado eco na sociedade, e Kitty foi uma das principais responsáveis por isso.
Quando políticas públicas enfrentam dificuldades de implementação — algo comum em qualquer área —, os que se sentem ameaçados por essa ascensão tratam de canalizar as frustrações para quem encarna a luta. Assim, Kitty se torna alvo, enquanto aqueles que apenas usam o tema como bandeira oportunista passam incólumes.
O argumento da vez contra a deputada é que seu partido, o Cidadania, hoje esta na oposição e, por isso, ela não poderia aceitar a vice-liderança do Governo.
Entretanto esse raciocínio ignora um ponto essencial: a política não se faz em linha reta, com intolerância e preconceito.
Na eleição que originou essa legislatura, o Cidadania já estava federado ao PSDB e era liderado pelo então senador Alessandro Vieir, que após ser derrotado no primeiro turno, apoiou Fábio Mitidieri, atual governador. O mesmo fez o então deputado estadual Samuel Carvalho, hoje prefeito de Nossa Senhora do Socorro e aliado do governo.
O suplente de Deputado Ricardo Marques, hoje vice-prefeito, seguiu o mesmo caminho. Gravou vídeo com uma pauta mínima de consenso com Fábio Mitidieri. Entre os mais representativos do Cidadania somente Georgeo Passos optou pela neutralidade.
Curiosamente, Samuel, Ricardo Marques e outros que trilharam o mesmo caminho de diálogo político com Fábio Mitidieri não são atacados. Mas Kitty Lima é. Qual a diferença entre ela e os demais? Não há como ignorar a resposta óbvia: Kitty é mulher.
A presença feminina na política sempre incomodou os que veem o poder como um clube exclusivo de homens. Quando uma mulher ocupa espaços de relevância, especialmente em áreas que não lhe eram tradicionalmente atribuídas, a reação é quase sempre a mesma: questionam sua competência, desqualificam suas decisões, atribuem-lhe rótulos depreciativos e tentam minar sua credibilidade. No caso de Kitty Lima, isso se intensifica porque, além de ser mulher, é uma política combativa, independente e sem medo de assumir posições.
Se a questão fosse apenas partidária, todos que trilharam o mesmo caminho deveriam sofrer os mesmos ataques. Mas não sofrem. É que o real incômodo não está na escolha política, mas no fato de que quem a fez foi uma mulher que se recusou a pedir permissão para existir na política.
A perseguição a Kitty Lima não é apenas um episódio isolado, mas um sintoma de algo maior. Muito em breve isso ficará provado e demonstrado.
O machismo estrutural na política se manifesta sempre que uma mulher se destaca além do que a sociedade tradicionalmente permite. Se queremos um ambiente político mais justo e representativo, precisamos expor essa realidade. Atacar Kitty Lima não é apenas atacar uma deputada — é atacar todas as mulheres que ousam desafiar o status quo.
Adir Machado é advogado, especialista em Direito Constitucional e professor de Direito.
*Este é um artigo pessoal de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Hora News.
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