A luta em defesa da periculosidade virou um engodo com fins eleitoreiros

As polícias Civil, Militar e o Corpo de Bombeiros Militar têm, somados, mais de 10 mil servidores ativos e inativos, segundo as informações mais atualizadas do Portal da Transparência Sergipe.

Considerando que a média salarial desse efetivo é de aproximadamente R$ 8.000,00, temos, por conseguinte, uma folha mensal de aproximadamente R$ 80.000.000,00. Vale ressaltar que, de acordo com o Portal da Transparência Sergipe, em junho de 2021 as folhas de pagamento apenas dos servidores ativos da SSP, PMSE e CBM superaram os R$ 62.000.000,00.

Logo, o impacto financeiro para atender o pleito das categorias seria de R$ 32.000.000,00 por mês. A despesa anual, já incluído o décimo terceiro salário, corresponderia a R$ 416.000.000,00.

Mesmo que o percentual fosse reduzido para 30% (na proposta apresentada pelas categorias o índice é de 40% sobre o valor do subsídio), o impacto financeiro seria de R$ 24 milhões por mês ou R$ 312 milhões por ano.

É um delírio imaginar que um governo que, há oito anos, não concede aos servidores públicos sequer a reposição de perdas decorrentes da inflação vá atender a esse pleito – mesmo que tão legitimo e meritório quanto outros -, mas que tem um impacto equivalente a 30% do déficit previdenciário.

De maneira que a instalação de uma mesa de negociação, sabe-se lá quando, efusivamente comemorada por alguns incautos, é pura perda de tempo. A bem da verdade, a decisão já está tomada. O governo vai entrar em cena apenas para cumprir o seu papel de vilão. No final da última temporada, previsto para abril de 2022, informará que não dispõe de condições financeiras para atender o pleito. Simples assim.

Os dez mil policiais, é claro, sairão mais uma vez com as mãos abanando, mas os principais líderes do movimento terão conseguido um discurso feito sob medida contra o governo malvado e insensível, além de um imenso acervo de vídeos e fotos em ângulos precisos, para usar em suas heróicas campanhas a deputado estadual e federal.

Mal comparando, essa luta pela periculosidade emula o desastre americano na Guerra do Vietnã. A princípio parecia um passeio – ou assim nos venderam a idéia. No entanto, à medida em que o tempo foi passando, mais evidente ficou que havíamos nos metido em um grande atoleiro.

Como sempre o fiz, não uso de meias palavras para afirmar, com bastante convicção, que as principais lideranças do movimento já sabem que a periculosidade foi para o vinagre há um bom tempo. Se tiverem um pingo de decência, convocam suas respectivas categorias, falam a verdade sem rodeios e se rearticulam para lutas viáveis. Do contrário, continuam vendendo fumaça e conduzindo toda a polícia para o despenhadeiro, enquanto anabolizam suas indisfarçáveis pretensões eleitoreiras.


Paulo Márcio é delegado de polícia, ex-presidente da Associação dos Delegados de Polícia de Sergipe (Adepol-SE) e articulista colaborador do Hora News.

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