O termo democracia e sua teoria política vêm da Grécia Antiga. Foi em 508 a.C. que Atenas passou a se autodenominar uma democracia depois das reformas políticas promovidas pelo legislador ateniense Clístenes.
Mas naquela época apenas homens acima dos 30 anos e nascidos livres eram considerados cidadãos e tinham direito a decidir os rumos da cidade. A maioria, que era composta por mulheres, escravos e imigrantes, não faziam parte daquela democracia.
O novo sistema teve seus críticos: para o filósofo e matemático Platão, dar o governo aos ignorantes e seus próprios interesses era irracional e arruinaria Atenas. Para ele, o Estado deveria ser administrado pelo “governo dos melhores”, pelos mais inteligentes e capazes, que ele acreditava serem os aristocratas.
Hoje, as democracias mais desenvolvidas no mundo ocidental dão às pessoas o controle do governo por meio de sistemas de eleições livres e democráticas. Os eleitos representam seus eleitores e se seu trabalho não é bem feito os cidadãos exercem o controle e podem se livrar deles nas próximas eleições. Mas para funcionar bem, uma democracia precisa de uma imprensa livre, de um sistema judiciário independente e, principalmente, de um eleitorado instruído, capaz de refletir e que valorize o direito de escolher os destinos de sua cidade, seu estado e seu país.
Lamentavelmente, em Aracaju, no primeiro turno das eleições municipais de 2024, realizado no dia 6 de outubro, dos 416.605 eleitores aptos a votar, 88.091 não compareceram às urnas, resultando abstenção de 21,15%. Já no segundo turno, ocorrido no último dia 27, 104.838 eleitores de Aracaju não votaram fazendo a abstenção chegar a 25,16%.
É certo que uma única hipótese sozinha não explica a alta taxa de abstenção e em cada localidade os fatores são os mais variados. Em entrevista coletiva na noite do último domingo, a presidente do Tribunal Superior Eleitora (TSE), ministra Carmem Lúcia, anunciou que a Justiça Eleitoral fará uma pesquisa para descobrir as causas das abstenções e tentar reduzir o não comparecimento nas próximas eleições em 2026.
É possível que, entre os vários fatores, os ataques a imagem e a honra de candidatos, a radicalização e o baixo nível dos debates e das campanhas, os escândalos de corrupção, as brigas políticas entre grupos rivais, as ofertas de serviços públicos de baixa qualidade por quem está no poder e tenta se reeleger, estejam entre os fatores que levem o eleitor a achar, erroneamente, que seu voto não vai ter efeito algum, levando a uma perda de confiança e de interesse no processo político, a um desânimo e um afastamento dos cidadãos da participação do processo eleitoral.
Quando surgiu na Grécia Antiga, a democracia foi considerada um sistema inovador, pois exigia que os cidadãos participassem do governo do seu país. Os gregos passaram ver sua participação como uma responsabilidade, um dever moral e político. Era esperado que todos os cidadãos estivessem interessados e familiarizados com os assuntos públicos e uma palavra passou a definir o cidadão que não valorizava a sua participação cívica: idiótes. O termo, que deu origem a palavra “idiota” em português, inicialmente não era um adjetivo desrespeitoso ou um insulto, nem depreciava a inteligência das pessoas. Os idiotas, na Grécia Antiga, eram aqueles que não se interessavam pelas coisas do Estado, pelo processo político e não participavam da polis, ou seja, da vida coletiva. Outra forma de se referir a esta postura foi definida pelo dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht em um poema:
“O pior analfabeto
É o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala
nem participa dos acontecimentos políticos.
Não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe,
de farinha, do aluguel, do calçado
e dos medicamentos
dependem de decisões políticas”.
Apesar de não ser um sistema perfeito, a democracia é de longe aquele que tem maior probabilidade de proporcionar justiça social e atender à maioria das necessidades e interesses das sociedades modernas. O direito de votar e ser votado foi conquistado a duras penas e ao custo de muito sangue derramado e muitas vidas perdidas em muitos países do mundo ao longo da história da humanidade. Permanecer à margem da vida pública, portanto, é sinal de ignorância, falta de educação, desinformação e abandono do dever como cidadão. Numa democracia saudável todos devem participar do governo do seu país, do seu estado e da sua cidade.
Murilo Lima é professor, acadêmico de Filosofia, analista comportamental, especialista em gestão de empresas, gerente comercial da Jovem Pan Aracaju, e articulista colaborador do Hora News.
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