Saúde nas Entrelinhas – Seguindo na novela COVID-19 no Brasil, essa semana começamos assistir os ex-ministros da saúde relatar seu depoimento frente suas próprias ações e as ações do executivo desde seu aparecimento da doença no início de 2020.
Começamos pela escalação do time da CPI. A composição é realizada proporcionalmente ao tamanho dos blocos partidários, ou seja, quanto maior o bloco, maior seu número de participantes. São 11 titulares e 7 suplentes e obviamente os senadores pró-governo ficaram com um menor número de vagas. O objetivo declarado da CPI seria avaliar o dinheiro federal destinado a Estados e Municípios e a atuação do Governo Federal frente a pandemia.
A instalação da CPI veio por ordem do ministro Luís Roberto Barroso em resposta a ação solicitada por vários senadores, incluindo o representante de Sergipe do partido Cidadania.
Cirurgião do Dia Seguinte
Na medicina a expressão “cirurgião do dia seguinte” se refere ao cirurgião que pega o próximo plantão e critica a conduta cirúrgica que o colega anterior tomou no momento da urgência.
Criticar o passado é sempre muito cômodo para quem não estava sob a pressão exercida por determinadas circunstâncias em determinado momento. É praticamente impossível criar um juízo de valor em cima de decisões que foram tomadas em cima de uma doença cujas características ninguém conhecia e cuja duração ninguém ainda conhece.
Obviamente, aberrações saltam aos olhos e convicções pessoais foram maiores do que orientações científicas – mas isso não precisa de nenhum relatório de CPI para ser visto.
Resultado do Óbvio
O alto executivo nunca teve como seu forte falas coerentes e ações altruístas. Na verdade, ele foi eleito como uma forma de manifestação contra um grande esquema de corrupção construído e desmascarado pela Lava Jato. Naquele cenário e naquele momento, as falas e as posturas assumidas por ele convenceram grande parte da população de que haveria força em sua presença para o combate contra a corrupção.
Impossível imaginar que a Lava Jato seria desconstruída em seu governo, que julgamentos complexos, longos e que passaram por várias instâncias fossem simplesmente anulados com um discurso bonito e uma canetada do STF.
Impossível também imaginar que essa mesma pessoa seria líder de uma das maiores nações do mundo no enfrentamento de uma epidemia que ninguém jamais pensou em existir – certamente nem ele próprio.
Esperar dele coerência e ações estrategicamente tomadas baseadas no bom senso e na expertise cientifica é ir contra todos os fatores que o fizeram ser eleito em 2018. Ele está sendo ele mesmo, desde sempre.
A CPI
Para tudo há um momento oportuno. Seria esse, o meio da maior onda (até agora), onde enterramos mais de 400 mil pessoas, o momento ideal para investigarmos um passado tão recente que pode ainda ser considerado presente. O que essa CPI vai poder transformar agudamente, hoje, agora, o que milhares de pessoas então enfrentando?
O foco deveria estar em desenvolver melhores práticas, vacinação em massa e educação da população. Ao invés disso, estamos gastando dinheiro, recursos e atenção descobrindo o óbvio, ouvindo o que já sabemos e assistindo milhares de pessoas se aglomerarem em manifestações políticas como se lutar pelo Brasil fosse fazer tudo ao contrário do que deveria ser feito.
A CPI deveria sim ocorrer, mas não agora, não por interesses políticos eleitoreiros, que não irão resolver em nada nosso problema de hoje, quem dirá o de amanhã que ainda não sabemos qual será.
Até semana que vem.
Paula Saab é mastologista pelo Hospital Sírio Libanês, especialista em Gestão de Atenção a Saúde pela Fundação Dom Cabral e Judge Business School (Universidade de Cambridge), membro titular da Sociedade Brasileira de Mastologia e articulista colaboradora do Hora News.
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